segunda-feira, 14 de junho de 2010

João Aguiar



Não tive tempo de comentar e de lamentar a morte de João Aguiar, jornalista e escritor brilhante, no início deste mês, no dia 3, para ser mais exacta. Não posso nem quero, porém, deixar de me referir aqui a um dos meus escritores preferidos da actualidade. Fiquei deveras surpreendida pelo seu desaparecimento pois nem sabia que estava doente e até porque ainda era uma pessoa que se podia considerar nova.

Gosto muito de ler romances e as minhas escolhas recaem quase maioritariamente sobre os dos autores portugueses da actualidade. Pois se há tanta oferta e boa oferta por parte dos nossos autores por que razão hei-de ler traduções que nem sempre estão muito bem escritas em português? E João Aguiar era um dos meus favoritos. Descobri-o no início da década de 2000 com “A Voz dos Deuses” e “A Hora de Sertório” – belíssimos romances históricos em honra dos nossos heróis primitivos Viriato e Sertório. Depois deixei-me seduzir pela trilogia sobre os portugueses no passagem do milénio e sobre a preparação da passagem de Macau para a China, iniciada com “Os Comedores de Pérolas” a que se seguiu “O Dragão de Fumo” terminando com o supra bem escrito romance “A Catedral Verde”. Outro romance histórico maravilhoso sobre o tempo da ocupação da Península pelos Romanos – “Uma Deusa na Bruma” que li sofregamente e até li um livro de contos, “O Canto dos Fantasmas”, género que aprecio menos.

Não posso deixar de recordar as gargalhadas que dei com o divertido mas altamente crítico “Navegador Solitário” em que um jovem de 15 anos é levado pelo avô Aquilino (há muito falecido) a contar a sua vida e a sua relação com os outros, com a família, com a escola, com as namoradas, enfim, um diário muito original que recomendo vivamente.

Melhor ainda, sei lá, terá sido “O Diálogo das Compensadas” excelente crítica a toda a sociedade, onde os maiores valores são os valores materiais (emprego, carro, festas e boa vida) em detrimento do amor, da amizade, da partilha... e tudo isto passado numa ordem religiosa.s maiores valores são apenas os valores materiais, como o dinheiro, bom emprego, bom carro, boa vida, grandes

 Em 2008 publicou “O Priorado do Cifrão”, uma crítica muito bem feita aos romances de Don Brown e outros que têm tido uma procura mundial que é um verdadeiro exagero! Sinais dos tempos, enfim!

Teria ainda muitos mais momentos de boa literatura para criar para nossa delícia não fosse ter sido traído aos 66 anos por um cancro que lhe tolheu a pena.

1 comentário:

  1. Foi graças a ti que o conheci como escritor quando me ofereceste " O Diálogo das Compensadas" que muito apreciei!


    Abraço

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