quinta-feira, 3 de junho de 2010

Sobre os meus gostos musicais


Nunca tive qualquer tipo de educação musical, mas a música foi sempre e continua a ser um dos pilares do meu equilíbrio emocional. Fui criada no gosto musical do meu pai, apreciador incondicional da música americana dos anos quarenta do século passado: os boleros, os fox-trot, os quickstep e os bons dos slows. Para além destes géneros, falava quase a meia voz (por serem menos “decente”) do mambo, da rumba, da conga, dos estilos musicais cubanos em geral. De permeio, assobiava lá por casa, árias de óperas famosas a que o meu ouvido se foi, de igual modo, habituando e aprendendo. Ouvia-se muita rádio e o meu pai tivera, dizia, uma colecção de discos em 78 rotações e uma grafonola de que se desfez, para grande pena minha, ainda antes de eu nascer, por uma qualquer birra da minha mãe. A sua escola foi o tempo da Segunda Grande Guerra vivida numa Lisboa provinciana reprimida mas já algo cosmopolita em que se cruzavam americanos e europeus de todas as nacionalidades. Daí a formação do seu gosto musical e, de forma quase hereditária, o meu.


(Lisboa - anos 40)

Em 1958, fomos para Sintra – minha terra de coração – e habituei-me, aí pelos meus 11/ 12 anos, isto em finais da década de 50, início da de 60, a ir à Feira de S. Pedro onde procurava, por entre as imensas velharias que lá se vendiam (e vendem) discos de 45 rotações, em segunda mão, de boleros sul americanos, versões brasileiras de sucessos americanos e já algum rock and roll (Little Richard, por exemplo) que faziam as minhas delícias e que eu ouvia num gira-discos que o meu pai arranjara não sei onde, uma autêntica malinha de viagem que se fechava e cuja tampa era o altifalante que produzia um som óptimo!


 (Dois aspectos da Feira de S. Pedro de Sintra)

Nessa época não havia Educação Musical nas escolas e só os filhos da alta burguesia aprendiam música, digo, música clássica. Por isso, me dá uma imensa vontade de rir quando vejo algumas pessoas que nem a minha pseudo educação musical tiveram, dizer que só gostam de ouvir determinada música a que poderemos chamar de erudita e que no carro só têm CD de música clássica com que “moem o juízo” dos amigos ou colegas que, por qualquer eventualidade, têm de viajar com eles. Já me aconteceu e, certamente, aconteceu a alguns de vós...

(A música e as minhas preferências musicais vão ser um tema recorrente neste espaço. Ainda agora cheguei aos meus 12/13 anos, época em que ainda estavam para “nascer” os “meus” Diamantes... Entretanto fica aqui um video para recordar o Little Richard de que falo acima.)




7 comentários:

  1. Ainda bem que nem ligo o rádio quando "viajas" comigo!
    Os meus gostos são também muito heterogéneos...
    Tenho dezenas e dezenas de discos e pelo menos um gira-disco que ainda funciona.
    Cá fico à espera das novidades musicais.
    "Posso pedir um disco?"... :-))
    Entretanto ainda não me atrevi a fazer a tal experiência... :-((

    Abraço

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  2. Olhe, menina Rosinha, isto aqui não é o Discos Pedidos, mas pode pedir e depois logo se vê se há em "stock"....

    Beijo

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  3. Olha que duas!!!!

    Então contem comigo que de Música sou mais parecida com a Carol e acreditem ou não quase chorei a ver o Little Richard. Eu e a minha irmã dançámos esta música vezes sem conta, tal qual aqui se vê, à frente do espelho para termos a certeza que saía igual a este. Pensando bem nem sei como tínhamos imagens mas o facto é que dançávamos tal qual este vídeo.

    Pela amostra já percebi que me vou deliciar/identificar com as preferências da Carolzinha.

    Bota lá os discos na grafonola, tá?

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  4. Querida Tite!
    Pode estar atenta que, ainda hoje ou amanhã, sai Paul McCartney pela certa....

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  5. Nem de propósito!
    Então não é que estive no meu "estúdio", a ver um DVD do Sir Paul McCartney, e lembrei.me logo de ti, como sabes o inglês não é a minha especialidade, sou assim uma no cravo outra na ferradura, e um dos temas que te ia propor era precisamente "FOOL ON THE HILL", e como estás uma verdadeira mestra, podes lá colocar a letra. Em alternativa sugiro Eleanor Rigby.
    Ficará à tua superior consideração.
    Eu como sabes não nasci em berço de ouro, mas não fui mais longe nos estudos musicais porque sempre fui avesso a estudar, e assim que vi que conseguia tocar sem ter que estudar mais solfejo, larguei tudo e fui tocar bateria, pelo que estou muito arrependido, porque andei 40 anos a transportar bombos e ferros de suportes, pelo que já prometi a mim mesmo que quando morrer e voltar cá de novo quero tocar pífaro, porque é assim a coisinha mais leve para transportar.
    Um grande beijo.

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  6. Ah! não sei se já te disse, se calhar já, vem a propósito da Feira de São Pedro, vim morar para SÃO PEDRO novamente ao fim de 21 anos.
    Devo ter-te dito mas faz parte daquele teu mail, sobre o envelhecimento:
    - Já me esqueci!...
    Mas as velharias agora têm quartel general montado todos os sábados na Av, Combatentes da Grande Guerra, mais conhecida pela correnteza, e para a malta mais velha, a praia dos tesos...

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  7. Obrigada, meu querido Gato Preto! Não sabia que agora moravas em S. Pedro! Que "inveja"! A sério! Quanto às velharias, já as vi na "praia dos tesos" num sábado que estive por lá. Obrigada pelas tuas sugestões musicais. Manda sempre, que eu gosto.
    Beijinhos.

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