Não, não vou falar daquelas
preciosidades que se formam com muito sofrimento e ao longo do tempo dentro das
ostras «vandalizadas» por simples grão de areia e que as senhoras tanto
apreciavam. Nem das verdadeiras, nem das de cultura. São as de plástico que hoje
aqui me trazem.
Nas pequenas cidades suburbanas
de um pequeno país também suburbano que viveu, até há quarenta anos atrás, submerso
no maior obscurantismo fruto da ignorância imposta e suportada clericalmente, parece
sentir-se a necessidade de criar, de exibir as ditas pérolas. De plástico.
A cor, o tamanho, o aspeto podem sugerir
uma pérola, mas falta-lhes o brilho. O que é compreensível: o brilho encandeia,
ofusca, tolda quem se lhes aproxima e isso não traz vantagem. Assusta. Causa tremor
– temor. Além disso, pérolas verdadeiras, daquelas acetinadas e com brilho, não
abundam por aí. Muitas estão escondidas. Vivem escondidas.
As outras – e vêem-se tantas por
aqui! Pululam nos eventos, nos organismos que nos decidem a vida, ocupam os
melhores lugares – aparecem em bicos de pés, mostram-se, exibem os seus
encantos. Maleáveis, adaptam-se a toda e qualquer situação para que são
chamadas e ficam sempre bem. E são sempre chamadas porque estão sempre
disponíveis. Fazem vida disso – e muitas vezes uma bela vida – mas não passam
disso. «Triste de quem é feliz!» -
dizia o Pessoa – ele próprio uma dessas pérolas com aquele brilho fulgurante
que quase cega e, por isso, ignorado.
Este pequeno país suburbano que
viveu séculos submerso no cinzentismo da sua ignorância, da sua tacanhez, da
sua cupidez – de que não dá mostras de se querer separar – sempre conviveu mal
com o brilho das pérolas verdadeiras. Veja-se como foi com Camões, com Pedro
Nunes, com Damião de Góis, com Fernando Pessoa, com Jorge de Sena para falar
apenas dos que de momento me assaltam a ideia.
Preferem-se sempre os Dantas e os
Cavacos do regime. As pérolas opacas, baças, ocas. As de plástico.
Sophia, que é nome de pérola
ResponderEliminar(nem sei como te esqueceste dela)
e Saramago, tão raro
Mas o Saramago deu uma bofetada ou duas de luva branca nestes iletrados: foi viver para Espanha e depois veio com um Prémio Nobel! Tiveram de o engolir.... eh eh eh... o que eu adorei!!
EliminarA versão "desgaste rápido" cativa de forma impressionante.
ResponderEliminarUm beijo, Graça.
Nós é que nos vamos desgastando, aos poucos...
EliminarBeijinho
ResponderEliminarthx
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EliminarBem pensado. Há por aí muita gente a puxar o lustro, constantemente, à sua pérola de imitação. Distinguem-se pela forma como se apresentam vestidas e brilham muito, como os novos faróis dos popós, mas, de repente, ficam baças..
ResponderEliminarBoa semana
Só que, entretanto, vão enganado o pessoal e enchendo o papo...
EliminarÉ como diz a letra da canção do Carlos Mendes: "O BRILHO VAI-SE PERDENDO...". Assim é! Há por aí algumas pérolas mas o brilho delas vai-se perdendo ...
ResponderEliminarNão conheço essa canção de Carlos Mendes de quem sempre gostei muito. Mas fui ao YouTube e encontrei umas «brincadeiras» dele bem interessantes...
Eliminar"Não me peças mais canções" é o título da canção do Carlos Mendes cuja letra integra: " o brilho vai-se perdendo". Estas 3 palavras ficaram-me gravadas na minha cabeça desde sempre, não sei porquê.
Eliminarhttps://www.youtube.com/watch?v=jxCOf1wXrFA
Neste teu manifesto, não anti-Dantas, mas anti-pérolas pretensamente preciosas, referes o país que viveu durante quarenta anos no obscurantismo, e ( digo eu) volvidos outros quarenta anos, sem mordaças nem amarras, anda mais falso e hipócrita que pérolas de fantasia rasca.
ResponderEliminarEm minha opinião as pérolas verdadeiramente valiosas nem sequer necessitam ter brilho ofuscante. Basta que sejam genuínas! Dessas é que cada vez há menos...
"Basta, pum, basta"...Ah, grande Almada Negreiros!!
Belo texto, Graça!
Beijinhos.
Obrigada, Janita. Realmente «basta que sejam genuínas», mas são tão barbaramente esquecidas e ultrapassadas, que até mete raiva!
EliminarBeijinho