Zurzida publicamente por Mega
Ferreira quando há uns meses se deslocou a Leiria para apresentar o seu livro “Viagem
pela Literatura Europeia” por nunca ter lido Camilo já que nunca consegui
passar da segunda página do “Amor de Perdição”, resolvi-me a começar a tapar
essa indizível lacuna nas minhas leituras e pus-me à procura pelas minhas
estantes de livros daquele autor ultra-romântico das nossas Letras da primeira
metade de 800.
O primeiro que me apareceu foi “O
Retrato de Ricardina”, um dos primeiros números da velhinha coleção de bolso da
Europa-América. E lá me decidi a lê-lo. E o certo é que consegui lê-lo até ao
fim e em tempo record dado o suspense que
o autor consegue imprimir ao devir dos acontecimentos e dos capítulos.
A intriga está muito bem urdida e
tem os ingredientes todos que uma novela sentimental exigia à época: amores
impossíveis e contrariados, as mulheres tratadas como propriedade dos pais e
mais tarde dos maridos bem como a sua entrada forçada nos conventos, a sociedade
bem estratificada, a superiorização e a influência do alto clero e, tal como as
novelas da TVI (?!) gasta mais de metade da narrativa a “enrolar” desgraças
sobre desgraças para depois a menos de um terço do final desenrolam-se todas as
infelicidades e tudo começar a rodar em favor dos até então infelizes
protagonistas.
A beleza da obra está
essencialmente na excelência da escrita: o vocabulário é muito rico, variado e
naturalmente posto na boca das diversas personagens e a sintaxe – por vezes de
bem difícil compreensão – revela quem conheceu bem as regras da gramática do
latim. Tantas palavras de cujo significado eu nem desconfiava! Tantos
parágrafos que tive de reler a fim de entender a mensagem! – A propósito, como lamento quem afirma e
defende que os jovens de hoje não se interessam pelas obras dos nossos autores,
bons autores, porque usam um vocabulário que eles desconhecem! Coitadinhos dos
jovens de hoje que não sabem, nem podem usar o dicionário… Seria uma boa
maneira de melhorar e muito a sua forma de falarem e de escreverem…
Por mim, agora vou passar às “Novelas
do Minho”…
Ah! Ia esquecer-me de dizer que
passam este ano 125 anos sobre a sua acidentada morte – um tiro na cabeça aos
65 anos de idade depois de ter vivido uma vida de aventura(s) e desventura(s),
de amores e desamores, sempre no fio da navalha. (De ler o excelente e super
completo artigo sobre Camilo de Hugo Pinto Santos na revista Ler deste Outono)
Camilo Castelo Branco foi um escritor de eleição quando era adolescente. : )
ResponderEliminarQue maravilha! Como é que conseguiste?
Eliminar~ Fui sempre muito crítica em relação ao estilo do autor...
ResponderEliminar~ Desejo-te 'dias de salvação'... Beijinhos.
Bem precisamos desses "dias de Salvação", Majo!!!
EliminarBeijinho.
Camilo Castelo Branco não é um deus no céu da literatura portuguesa, todavia, é um prazer ler os seus romances de amores e desamores, escritos numa linguagem ríquissíma.
ResponderEliminarFoi isso que descobri agora, ematejoca. Vale mais tarde que nunca...
EliminarLi O Amor de Perdição porque foi um dos livros escolhidos no liceu - gostei mais de Viagens na minha Terra, de Eurico o Presbítero e Os Maias. Um destes dias tenho de voltar a lê-lo e outras obras de Camilo Castelo Branco também (na escola tivemos um passeio até à sua casa, gostei da sala com a estante e a secretária onde trabalhava, vi a acácia do Jorge, tentei imaginá-los por lá).
ResponderEliminarTambém gostei mais do Garret e do Herculano, sem sombra de dúvida.O Eça então.... maravilha!
EliminarLer desgraças e infelicidades!?
ResponderEliminarÓ amiga... isso nem parece teu! :D
Tudo o que li no tempo do Liceu... já lá vai! Não me lembro de quase nada! Teria de reler tudo de novo... but the time hasn't come yet !
Beijinhos adiados
(^^)
Há-de chegar um dia, como me chegou a mim...
EliminarBeijinhos
Li O amor de Perdição e Os Mistérios de Lisboa.
ResponderEliminarAgora estou a reler Viagens na minha terra de Garret, por imposição na Universidade Sénior
Um abraço e bom fim de semana
As Viagens são uma delícia, Elvira!!
EliminarBeijinhos e boas leituras.
Da extensa obra deste grande dramaturgo - que tanto amou e sofreu - apenas li o mais e o menos conhecido dos seus romances!
ResponderEliminarO célebre "Amor de Perdição" - que li e reli há muitos anos atrás - e o "Bem e o Mal", do qual já falei num post.
Fizeste bem em lembrar os 125 anos após a trágica morte do infortunado escritor.
Beijinhos ( quando terminares as Novelas do Minho, diz de tua justiça!)
Ok. Fica assim combinado!
EliminarBeijinhos
Foi um dos autores portugueses do século XIX que mais prazer me deu ler (mais que o Eça).
ResponderEliminarabraço Graça
A sério?! Gostos não se discutem, Luís!
EliminarBeijinho
"A beleza da obra está essencialmente na excelência da escrita: o vocabulário é muito rico, variado e naturalmente posto na boca das diversas personagens e a sintaxe – por vezes de bem difícil compreensão – revela quem conheceu bem as regras da gramática do latim."
ResponderEliminarNeste momento, neste contexto, pensar em ler Camilo, tem Graça
Há tempo para tudo... E a leitura acalma a ansiedade...
EliminarBeijinhos
Só li o Amor de Perdição do liceu, mas não fiquei fã: pareceu-me uma novela igual a tantas outras, só que nessa época antiga, em que as meninas e mulheres não decidiam a sua vida ou amores. Ou seja, algo demodé... :)
ResponderEliminarBeijocas
Ah, mas leste, Teté! E eu não tive pachorra... São romances datados e é também assim que se faz a História.
EliminarObrigada por teres (re)vindo aqui. É sinal que estás a retomar a tua rotina. Ainda bem, minha querida!
Reler Camilo, agora, tem mais encanto. A serenidade ou paciência posta na leitura faz-nos descobrir a riqueza da sua escrita.
ResponderEliminarSe tivesse vivido nos dias de hoje não teria acabado como acabou...
Bom domingo.
Doutas palavras, Agostinho!
EliminarBoa semana
O que é sempre intrigante é a vida e o fim da vida de certos escritores.
ResponderEliminarSim eu gosto de Camilo Castelo Branco.
Desejo que a amiga se encontre bem.
Bj.
Irene Alves
Obrigada, Irene!
EliminarBeijinhos e tudo bom.
Ler Camilo, agora, dá-nos outra perspetiva da sua obra, diferente daquela que tivémos quando éramos adolescentes. Eu queria saber rapidamente como acabavam aqueles amores tão infelizes, hoje, já não tenho essa pressa e saboreio devagar o que leio.
ResponderEliminarÉ bem verdade, Benó! A idade traz-nos outra perspetiva das coisas...
EliminarBeijinhos e boas leituras.