sexta-feira, 30 de novembro de 2012

A milésima entrada

Cumpro hoje a milésima entrada (não gosto de usar a palavra inglesa post e muito menos postagem que é um triste aportuguesamento que me faz lembrar compostagem, que é um procedimento “muito moderno” que me mete nojo) neste meu espaço que abri há pouco mais de dois anos e meio.

Tem sido uma forma de manter a minha cabeça ativa e, com textos mais ou menos interessantes, tenho tido a sorte de contar com um grupo grande de Amigos que, de forma bastante fiel, me têm animado com a sua companhia e com os seus comentários sempre amáveis, sempre oportunos, incentivando-me a continuar.

Por isso hoje não me vou deter a falar da carta aberta assinada por 78 personalidades da vida cultural e política portuguesa enviada ao primeiro-ministro e ao presidente da República a pedir a demissão do primeiro (e porque não do segundo também?); nem da intenção do governo em concessionar as escolas públicas a privados (ah! ganda Relvas!) ou em fazer os alunos pagarem pela educação obrigatória (paradoxal, não vos parece?); nem de como a srª de Cavaco Silva andou às compras de Natal com a infanta D. Pilar de Bourbon (com os seus parcos 800 euros de reforma e sem subsídio de Natal); nem sequer dos 77 anos do passamento do meu queridíssimo Fernando Pessoa com o seu tão premonitório último pensamento: I know not what tomorrow will bring…

Não! Hoje, ao fim de mil textos a “moer-vos” o juízo com críticas e ironias, quero presentear-vos apenas com as belas cores de outono aqui na cidade.











O outono à porta de casa




A todos o meu muito especial obrigado!

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Por um fédice mais feliz

As melhores coisas da vida não dão lucro. Mas nem por isso se devem considerar luxuosas, pelo contrário, é mesmo por esses pormenores essenciais que vale a pena viver. Os governos deveriam zelar pela felicidade dos cidadãos. Uma ideia básica que, hoje em dia, é tida como irresponsável, só porque não dá bons resultados na folha do Excel. Que mais será preciso fazer para lembrar governantes e afins que o que mais conta são as pessoas, e que a cegueira pelo lucro financeiro causa-nos um imenso e irrecuperável prejuízo?


Talvez alguns desses homens de gravata apertada e cinto largo nas calças façam contas pela manhã, quando beijam o filho antes de sair para escola. Pensarão: "Se eu der algum carinho ao meu filho, pagar-lhe comida e educação, aumento a probabilidade de ele ser bem-sucedido na vida. Se ele for bem-sucedido na vida, talvez ganhe dinheiro suficiente para cuidar de mim quando eu ficar velho. Se ele cuidar de mim quando eu ficar velho, escuso de gastar dinheiro numa conta poupança reforma. Por isso, é um bom investimento dar um beijo ao meu filho pela manhã". A outra hipótese é dar-lhe um beijo seco e depois apresentar-lhe a conta de toda a despesas lá para os 40 anos, assim que ele finalmente arranjar o primeiro emprego. Há quem, por pensar demasiadamente assim, opte mesmo por não ter filhos, pois é um investimento demasiado arriscado, abaixo do nível do lixo na tabela da Moodys.

E se não é rentável ter filhos, tão pouco é ter velhos, que só dão prejuízo e ainda escrevem cartas às juntas de freguesia. Muito menos doentes, que nem cartas escrevem; para não falar dos desempregados que, aprofundando a lógica, deviam morrer à míngua e assim aliviar as taxas que tanto preocupam os nossos parceiros europeus. Se o avô não dá lucro, atira-se da janela.

Defenestrar avôs não é permitido por lei. À sociedade resta algum bom senso e respeito por valores básicos. E mesmo a atual política não prevê tal ato, embora possivelmente a lógica do custe quanto custar talvez caminhe nesse sentido.

Há uma cegueira do curto prazo, da lógica imediata, que invalida saídas futuras. Esta lógica não só compromete o médio e o longo prazo como, por absurdo, inviabiliza a eficácia no prazo mais curto. Na Bélgica, há já muitos anos, resolveram iluminar as autoestradas. Através de um estudo, chegaram à conclusão que a melhoria das condições de segurança na via compensava financeiramente, poupando-se não só em vidas humanas como em tratamentos hospitalares. Por cá, desinvestem na saúde, nos transportes, na educação, na cultura, sem que se apercebem que a médio e longo prazo o prejuízo (mesmo o financeiro) será altíssimo. O problema não é da folha do Excel, mas sim da fórmula utilizada.

Manuel Halpern (in JL 17-30 de Outubro de 2012) (sublinhados meus)

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Ite, missa est

 O dia ontem tornou-se muito frio. Não, não pretendo parafrasear «O dia deu em chuvoso» porque chuvoso já ele estava e bem. Só que, para além do céu de chumbo próprio de novembro, a temperatura foi descendo e, com o misto de humidade que sempre adeja aqui por Leiria, tornou-se muito desagradável. 

Eu bem sei que estive a passar a ferro uma série de camisas – que querem? sempre gostei de passar camisas de algodão! – mas, quando chamei para almoçarmos, já estava em manga curta o que não deixou de causar alguma estupefação. A que se deviam tais calores se nem somos dos afortunados que têm aquecimento central? Fácil de explicar: estive a ouvir as “alegações finais” dos deputados dos vários partidos com assento na Assembleia face ao assombroso (ou assombrado? Ou porque não ensombrado?) Orçamento de Estado para o próximo ano. 



Sempre calorosos e cheios de garra os discursos da esquerda dita extrema; pragmáticos e rigorosos os dos comunistas; o Seguro – mesmo que o pessoal do PS socrático (no qual me incluo com grande honra e sem qualquer rebuço) não goste de ouvir elogiá-lo – esteve bastante bem e chegou “forte e feio” neste “governo” que anaforicamente apelidou de incompetente. 

Depois, o centrista Telmo Correia veio defender a “sua dama” com o já estafado discurso da “fatura que estamos a pagar mercê dos gastos exagerados realizados desde 1995” – sim, porque durante a interminável governação do PSD/Cavaco, o chamado tempo das “vacas gordas” não houve gastos exagerados, nem se fizeram obras megalómanas, nem se admitiram e aumentaram funcionários públicos aos magotes, nem os empresários, melhor dito, os patrões se aviaram à grande com o dinheiro que entrava aos milhões para restruturação, reorganização da indústria e para a famigerada formação do pessoal, etc. etc., tudo coisas de que o senhor Telmo não se lembra porque ainda não era nascido…

Agora quem me fez despir o casaco de tanto rir – é verdade: rir – foi a intervenção do deputado do PSD, que desta vez não foi feita pelo verruminosamente demagógico e despudorado Luís Montenegro, mas por um qualquer senhor “bem-intencionado” de quem eu nem sabia o nome e agora sei chamar-se Pedro Pinto (ele é Pintos, Coelhos e sei lá o que mais, e nós todos aqui armados em franguinhas de aviário, valha-nos Deus!) que num tom quase paroquial e num solilóquio ali entre o epifânico e o tragicómico, engrandeceu a obra-prima que é o OE para 2013 com o qual, naturalmente, o seu partido concorda e que, depois da enumeração de todos os re que o partido maioritário do governo gosta de referir, com exceção da refundação porque essa não caiu bem, afirmou veemente que irá permitir uma reindustrialização do país, constituindo uma porta aberta para a nossa redenção como indivíduos e como país restaurando a nossa soberania. Lembrei-me das tiradas dos ministros da Igreja Universal do Reino de Deus que se contavam nas anedotas de aqui há uns anos atrás, género “Salve, Aleluia, Salve, meu Irmão!” E por isso me deu para rir.

 Por fim, a aparição do “nosso” mui bem-falante e expressivo ministro Gaspar, autor irrepreensível e contrito da obra apresentada que, depois da referência detalhada a dados mapeados da absoluta compreensão do mais comum cidadão já que todos recebemos noções de Economia e Finanças desde o jardim-de-infância, entrou no campo político-partidário tomando o tom Calimero justificando o OE versão 2013 com a “desgorvenação” nacional dos últimos cinco anos e com a malvada da recessão europeia. Mas ele acredita que lá para 2000 e tantos o país irá ressurgir, renascer! (Mais paleio IURDiano… à laia do Ite,missa est com que os padres católicos despediam os fieis quando a missa ainda era dita em latim… )

Agora imaginem o gozo quando hoje li na crónica em que Pedro Marques Lopes comentava estes mesmos discursos que precederam a aprovação do OE que «só faltou mesmo alguém gritar [na Assembleia] “Elvis está vivo!”...»

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Play it, Sam!

Já faz 70 anos que foi estreado o filme Casablanca. Lindo de encantar! Romântico até doer! Com aquela mulher lindíssima com aquele brilho no olhar. Cheio de símbolos em plena II guerra mundial. (A segunda que os alemães desencadearam em menos de cinquenta anos. Quem duvida que voltarão a fazê-lo?) E com aquela música inesquecível...



Se fosse na atualidade, a cena seria algo diferente e Ingrid Bergman veria o script alterado...



domingo, 25 de novembro de 2012

Rómulo de Carvalho (cont.)

Negócio feito com o Google... e eis-me aqui a exibir algumas fotos do livro a que me referia ontem - "As Origens de Portugal" - quando fui impedida pelo nosso querido blogger de continuar.


   

Os primeiros povos:









Alguns mapas:

(A Europa)

(De onde vieram os Visigodos)

(O Condado Portucalense)

(As fronteiras de Portugal)
Castelos e muralhas:

(Um castelo para recortar e montar)

(Muralha de Santarém)

(O Castelo de São Jorge)

(Uma "poderosa" máquina de guerra)

(Uma página sobre os Mouros)

Para além das noções de História de Portugal, tem lições de Geografia, de Língua Portuguesa e de Cidadania. Um verdadeiro manual de pedagogia.

Vale a pena espreitarem o livro e quiçá oferecê-lo aos vossos mais pequenos.

sábado, 24 de novembro de 2012

Rómulo de Carvalho


Nasceu em Lisboa em 24 de Novembro de 1906 e foi uma mente brilhante. Físico, professor do Liceu, pedagogo, investigador, historiador da ciência e da educação e, depois de tudo isso, um poeta-sol que encheu de encanto as letras portuguesas do século XX sob o nome de António Gedeão.

Em jeito de homenagem poderia deixar aqui o "melhor" - digo eu! - de todos os seus poemas





Mas não! Prefiro deixar aqui imagens do amoroso livro As Origens de Portugal que escreveu e ilustrou para ensinar a nossa história aos filhos e que é uma obra escrita em segunda pessoa, de um cuidado e de uma ternura a toda a prova.

Pronto! Aconteceu! Dizem-me que não tenho mais espaço para colocar fotografias! Quando li a queixa da Contempladora Ocidental, pensei que me ia acontecer o mesmo. E aconteceu! Quando resolver o problema (não sei como!) voltarei para pôr as fotos do livro de que estava a falar...


sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Medo



Impossível calar! Não se passou no privado, foi mesmo numa escola pública: depois de regressar da sua licença de parto, uma jovem mãe professora que tinha – como todas as outras, de há já alguns anos para cá – direito à sua redução de horário para amamentação, foi sendo impedida de a gozar porque a direção lhe ia dizendo que não tinham ninguém para a substituir com os alunos e a jovem lá foi continuando a cumprir o seu horário completo. Instada pelos colegas a exigir os seus direitos, acabou por admitir que não confrontava a direção porque é contratada e receia que não lhe renovem o contrato no próximo ano.

É este tipo de diretor-patrão que contrata quem muito bem entende e descontrata quem o contraria, que define critérios de contratação em que só falta o nome do candidato pretendido, que desenha horários “de vingança”, que esculpe e define a vida dos contratados porque eles precisam de ser contratados.

Foi esta a autonomia que o ministro (C)rato pretendeu e pretende implementar nas escolas: o poder discricionário e ditatorial dos senhores diretores e das suas equipas que começam a agir como quando comecei a dar aulas antes de 74. De facto, eles podem porque sabem que (já) não há CAE, nem há DRE, nem ninguém que defenda os verdadeiros direitos e interesses dos “subordinados”, mesmo os previstos na lei. 

Assim é fácil fazer implodir o Ministério da Educação, como prometido.