terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Os Meninos do Colégio


Deparei-me hoje, cá em Leiria, com uma grande manifestação de crianças e adolescentes no Largo em frente do edifício da Câmara, gritando e alguns empunhando cartazes que, do carro, não consegui ler. Pensei: “Meu Deus, o que é que o Raul Castro fez a estas criancinhas? Isto é um Agrupamento...” E, por momentos, até pensei que se tratasse dos alunos do “meu” Agrupamento que é o mais central da cidade.

Mais tarde informaram-me, porém, que se tratava de uma manifestação dos alunos dos colégios a reclamarem contra o novo regime de financiamento às escolas privadas.

Não se tem lido nem ouvido outra coisa que não seja a “maldade” que este governo está a fazer em reduzir, já no início do próximo ano, do apoio aos 500 colégios apoiados de 114 mil euros para 80 mil euros por turma!

Francamente não sei do que se queixam! Não entendo por que razão o Estado, que tem as suas próprias escolas, muitas e boas, com bons corpos docentes e actualmente já com condições bastante boas, tem de estar a gastar milhões para apoiar o ensino privado. Entendi isso, nos anos 80 do século passado, quando se deu o boom da massificação, com os filhos das pessoas regressadas das ex-colónias e com o alargamento da escolaridade para os 15 anos, numa altura em que ainda não estavam construídas tantas escolas como as que temos actualmente por todo o país.

As famílias têm o direito de escolher o tipo de educação que pretendem que os seus filhos recebam, têm sim senhor, está escrito na Constituição; mas não está escrito que tem de ser o estado a pagar as várias opções. Se, de facto, o ensino privado tem tanta qualidade como alguns pais e alguns pedagogos reclamam, então os pais que suportem essa despesa. Porque a alternativa para todos é uma falácia. Por exemplo, aqui nesta cidade, a alternativa limita-se aos alunos filhos de determinadas famílias com elevado estatuto social. Se estas condições não se puserem, ou se os alunos se revelam menos responsáveis ou não correspondam ao perfil de aluno definido pela direcção do colégio, eles não têm lá lugar. Então onde está a liberdade de opção?

Mais uma razão para não ser o Estado – e todos nós – a pagar esse ensino que muitas vezes só vai de encontro à vaidade de alguns pais.


5 comentários:

  1. Concordo com o que disseste...
    Apesar de achar que talvez não se devesse generalizar, confesso que colégios que seleccionam por nomes de família e profissão dos pais, que excluem meninos com necessidades educativas especiais...são colégios onde não queria os meus filhos. A sério.
    E sabes, colégios de " betos" ou " pseudo-betos" sempre me causaram muita irritação.
    Desculpa o desabafo longo...
    Beijinhos

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  2. Tens toda a razão naquilo que está escrito. Porém, há instituições, como o infantário de religiosas, onde andaram as minhas netas mais velhas (na localidade não havia outros), cujas mensalidades eram por escalões, consoante o vencimento dos pais. Quem é pobre, tem lá umas quantas vagas, não paga nada, é tratado como outro qualquer.
    Já ouço dizer que isso vai acabar por causa desta nova lei, e de duas uma, ou vai fechar, lá vão umas quantas educadoras para o desemprego, ou então sobem as mensalidades para valores só ao alcance dos ricos.

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  3. Sabes que vivo numa terra onde só há ensino público até ao fim do 1º ciclo e mesmo assim quando os meus filhos eram pequenos não havia escolas em todos os lugares da freguesia que é enorme. Por isso os rapazes só conheceram o ensino público quando entraram na universidade...
    Estes colégios substituem e bem o ensino público e salvo duas excepções, que eu conheça, e por acaso com o mesmo colégio, recebem todos os alunos sem qualquer tipo de selecção.
    Nestes casos e há vários no país, quando as famílias não têm estabelecimento público próximo, ficando mais caro e sendo mais penoso para as crianças a sua deslocação para uma escola pública, têm que ter um tratamento diferente dos colégios sediados em localidades onde há a oferta do ensino público.
    Por isso há casos e casos!
    Agora o Ministério tem que fazer inspecções rigorosas para saber onde e como é que o dinheiro é aplicado!

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  4. 1º: As escolas privadas ficam mais baratas ao Estado que as escolas estatais.
    Custo médio aluno/ano:
    - Escolas do Estado: €5.249 (dados OCDE SET2010);
    - Escolas privadas: €€4.469 (dados Inspecção-Geral do Ensino - Relatório 2009.

    2º: Todas as escolas provadas com Contrato de Associação são obrigadas a ter os mesmos critérios de selecção de alunos que as escolas do estado.

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  5. Claro que há casos e casos, como em tudo. Nos sítios onde não há ensino público ou em que este não chega para a procura, naturalmente que o Estado tem obrigação. Porém, nós, aqui da zona Centro sabemos muito bem que nos finais dos anos 80/princípio dos anos 90, a DREC autorizou a abertura de n colégios que tiraram a população estudantil a várias escolas públicas e também sabemos que os respectivos directores estão muito bem na vida... Triste mesmo foi saber que em alguns desses colégios pertencem às respectivas direcções alguns professores aposentado daquela DRE...
    Quanto ao Amigo GVX,agradeço o seu comentário, mas desculpe-me que lhe diga que os alunos ficam mais baratos no privado porque não são obrigados a cumprir as exigências com o pessoal docente e não docente que o público tem de cumprir e, por outro lado, podem estar obrigados a ter os mesmos critérios de aceitação dos alunos, mas, grande parte deles, não os cumpre.Quando lhes convém, mandam alunos embora, enquanto no público isso não pode nunca acontecer. Entre outras coisas.

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