segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

História Antiga



(Presépio de casa da Elisa)


Era uma vez, lá na Judeia, um rei.
Feio bicho, de resto:
Uma cara de burro sem cabresto
E duas grandes tranças.
A gente olhava, reparava e via
Que naquela figura não havia
Olhos de quem gosta de crianças.

E, na verdade, assim acontecia.
Porque um dia,
O malvado,
Só por ter o poder de quem é rei
Por não ter coração,
Sem mais nem menos,
Mandou matar quantos eram pequenos
Nas cidades e aldeias da nação.

Mas, por acaso ou milagre, aconteceu
Que, num burrinho pela areia fora,
Fugiu
Daquelas mãos de sangue um pequenito
Que o vivo sol da vida acarinhou;
E bastou
Esse palmo de sonho
Para encher este mundo de alegria;
Para crescer, ser Deus;
E meter no inferno o tal das tranças,
Só porque ele não gostava de crianças.

(Miguel Torga)



4 comentários:

  1. Outro belo poema de Natal que nós costumávamos ler e analisar com os nossos alunos!
    E tem aquele toque divertido "do tal das tranças"... :-))

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  2. Pois era! Acha que nunca deixamos de ser ... professoras?!

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  3. Delicioso poema, cheio de ironia e ternura, e que eu não conhecia:))
    Abraço

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  4. Obrigada, Justine. Só por isso já valeu pô-lo aqui.
    Beijo

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