segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Ainda a propósito do Franquelim


Uma vergonha, não é? Esta nomeação de um senhor que esteve intimamente ligado à golpada do BPN para secretário de Estado. E ainda o mais ignóbil foi o senhor presidente dar-lhe posse. Claro! Um amigo, um apaniguado, um facilitador - como não dar-lhe posse? E a quem a imprensa e a comunicação social assaca a responsabilidade desta (e doutras) aleivosia? À oposição, pois claro!... É preciso por todos os meios obscurecer a oposição para desculpar e dar alento a este bando de energúmenos que este povo tristemente sebastianista elegeu para nos "governar".

Não quero porém alongar-me em divagações porque, sobre o assunto, houve quem tivesse escrito muito melhor que eu e não resisto a deixar esse texto aqui.

Tropeçar no vilão

O caso de um membro de uma associação criminosa, chamada SLN, que aceitou integrar a delegação permanente da troika em Lisboa, e que, erradamente, se costuma designar por "governo", está longe de ser um exclusivo português. A crise global tem muitas características. É política. É ambiental. É financeira. É económica. Mas aquilo que a distingue é a sua natureza moral. A crise desfaz as máscaras e rasga os véus. Logo em 2008, ficou claro que, desde há décadas, os governos não passavam de obedientes agentes de uma rede de interesses ligados a uma parte do capital financeiro. O Goldman Sachs, com empregados seus em quase todos os executivos do mundo, ficou como símbolo de uma realidade mais vasta. O problema fundamental não reside só em perceber como as nossas democracias são frágeis e ineficazes. O problema é que a gente que manda, os banqueiros e especuladores que vivem acima da lei, nos casos Monte Branco, Libor, e outros, esses homens que, da UE aos EUA, utilizam o crime como ferramenta de trabalho, essa gente manda, mas não forma uma elite. Uma elite constitui-se em torno de valores comuns. De uma visão da sociedade. De um projeto de futuro. De uma capacidade de diferenciar o bem e o mal. Uma elite, se necessário, será capaz de se sacrificar pelos valores que protagoniza e pelo mundo em que acredita. O melhor exemplo disso foi dado pela elite financeira no naufrágio do Titanic, em 1912. Dos 400 homens super-ricos que viajavam em 1.ª classe, 70% morreram afogados. Há registos, recordados num ensaio de F. Zakaria, que nos confirmam que J. J. Astor, a maior fortuna do mundo de então, acompanhou a sua mulher até ao bote salva-vidas, recusando-se a entrar enquanto existissem mulheres e crianças por salvar. O mesmo fez B. Guggenheim, que ofereceu o seu lugar no bote a uma mulher desconhecida. Se o Titanic naufragasse em 2013, estou seguro de que quase todos esses 400 super-ricos chegariam são e salvos, deixando para trás, se necessário, as suas próprias mulheres e crianças. A gente que manda hoje no mundo acredita apenas no sucesso egoísta, traduzido em ganhos monetários, pisando todas as regras e valores. Os aventureiros que conduziram a humanidade à atual encruzilhada dolorosa não passam de jogadores que transformaram o mundo num miserável reality-show. Tirando o dinheiro, nada neles os distingue da gente vil, medíocre e intelectualmente indistinta que se arranha para participar nesses espetáculos insultuosos para com a condição humana. Quando andarmos pela rua, é preciso ter cuidado. É preciso olhar lá bem para baixo. No meio do pó e da lama, habita a vilanagem que manda no mundo. Cuidado para não tropeçarmos nalgum deles...

Viriato Seromenho-Marques

DN, 4/Fev/2013
 

13 comentários:

  1. Li esta manhã o artigo do VSM e apeteceu-me bater palmas de pé, mas tive medo que alguém que me estivesse a observar chamasse a polícia me acusasse de ser louco.
    Franquelim rima com festim. E também com pasquim. Está tudo dito.
    Boa semana

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  2. Nem vou comentar pois corro o risco de "vomitar" palavras inadequadas... prefiro falar do "pão-de-ló": ADORO!!!!!

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  3. Tanto zurzido? O coitado do Franklin, só foi chamado (por engano)... julga-se que inventará o para-raios que protegerá o Passos e seu lacaios...

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  4. Hoje não tive tempo de ler nada!
    Estive em trânsito e acabo de chegar do ensaio do coro!
    Quem canta seus males espanta!
    Quanta a esta sórdida história até dá vómitos!
    Se fosse com o anterior governo caía o Carmo e a Trindade!

    Abraço

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  5. Porque será que não me surpreende Graça, afinal não é habitual estes episódios acontecerem!
    Bioa semana Graça

    beijinho e uma flor

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  6. Concordo a 100% com o artigo! Ainda se safam algumas vozes nos jornais, felizmente!

    O tal Franquelim, já se percebeu, é farinha do mesmo saco da escumalha que nos (des(governa... :P

    Beijocas, Graça!

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  7. O BPN e a SLN ainda vão dar muito que falar, pessoalmente preferia que dessem outras coisas, mas a Justiça não deixa...

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  8. Obrigada pela partilha. Não tinha lido esta crónica.
    Temos aqui uma visão lúcida daquilo em que a cultura ocidental, dramaticamente, se transformou. A crise mais difícil de ultrapassar é a dos valores e isso deixa-nos na pele um sentimento de incapacidade ainda mais profundo, face à resolução das dificuldades que atravessamos.

    Um beijo

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  9. Êste Franklim (franco?), até pode ser uma pessoa com boas qualidades de gestão. Mas, tanto êle, quanto os senhores do (des) governo, deveriam ter vergonha na cara prestando-se a estes papeis. Nós, que todos os mêses, damos o nosso contributo, para tapar o buraco que toda aquela gente deixou, é doloroso, é uma afronta.

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  10. Estimada Amiga Graça Sampaio,
    Os portugueses, tal como eu, que vivem nas diáspora, cada dia que passa mais triste ficam, ao terem conhecimento dessas tramóias nesse qeu foi um jardim´à beira mar plantado.
    Por vezes interrogo-me sobre tudo o que se está passando, será o povo português calmo e sereno para suportar todas essas vigarices!..
    Nâo exite alguém com os tai ditos no sítio e ponha cobro e corra com toda essa cambada de fdp, para que o povo possa ter aquilo que com muito esforço conseguiu no 25 abril?
    Cada dia que passa mais desiludido fico com a politica portuguesa.
    Abra;o amigo

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  11. Aqui todos ficamos a saber, quem nos roubou, quanto roubou, quem é a pandilha, erguem-se vozes no parlamentos, mas não passa disso, ninguém vai preso.
    Até o velho do BPN, já anda aí na rua.
    Este caso do secretário de estado, é para dar corpo ao velho ditado, que diz;-Colocar a raposa a tomar conta do galinheiro.

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