Adoro ler páginas de diários. Ora
o Jornal de Letras costuma trazer na sua última página excertos de diários de
escritores e outros artistas portugueses conhecidos que eu, naquela minha mania
de começar a ver os jornais e as revistas de trás para a frente (nem sei se
Freud teria explicação para isso!), leio assim que compro aquele jornal
bimensal.
O JL de finais de Janeiro trazia
umas entradas do diário de escritor e crítico Eugénio Lisboa que não resisto a transcrever para
aqui dada a sensibilidade e a ternura que transmitem e que tanto me dizem.
«30.11.2010
A minha gatinha, a Secotine,
encontra-se hospitalizada, há três dias, com uma grave afeção renal ainda não
identificada. É a gatinha mais viva, mais terna, mais atenta, mais afetuosa que
jamais conheci. Tem só seis anos. E já está neste inferno indescritível. A
natureza é cega: não tem fair –play.
A um ser tão meigo e confiante não se prega uma partida destas. Fomos vê-la e
tivemo-la ao colo. Fizemos-lhe festas, longamente. Pareceu reconhecer-nos. (…) O pérfido Oscar
Wilde: “Nothing that actually occurs is
of the smallest importance.” Em termos galáticos, é verdade. Mas
como eu não tenho dimensão galática, a doença da Secotine tem, para mim, uma
importância desmedida.
10.1.2011
Ontem, às oito da noite, perdemos
a Secotine. Estava no fim, em visível sofrimento – pedimos à veterinária que
pusesse termo àquele milagre de vida, de afeto e de graça que se chamava Secotine. No ano e meio que
viveu connosco encheu-nos a vida de alegria e prazer, com o seu afeto brusco e
atrevido: entrava na sala, saltava-nos sem cerimónia para o colo, enchia-nos de
marradinhas e anichava-se em nós, com ar de proprietária. Ela era a elegância,
a beleza, a velocidade, a surpresa. Enchia-nos a vida. Agora, fica só um grande
buraco de saudade inútil. (…)
11.1.2011
Não me conformo com a perda da
Secotine. Estava sempre connosco: seguia-nos por todo o lado, quando chegávamos
a casa, ouvia a chave e corria a vir esperar-nos. Quando eu escrevia, saltava
para cima da mesa e vinha deitar-se em cima de livros e papeis, com ar
impositivo. Queria atenção e dava-nos atenção. Queria carinhos e dava-nos
carinhos. Era uma presença tão grande, é agora uma ausência tão grande! Merecia
ficar na memória das pessoas para sempre e só vai ficar, por muito pouco tempo,
na daquelas pessoas que a amaram. Tudo acaba, até a memória daquilo que foi
bom.»
Não consegui ler este trecho, nem
transcrevê-los sem os olhos se me rasarem de lágrimas. Até porque já foram três
os gatos – para além dos que me desapareceram e me morreram de morte natural –
que tive de pedir à veterinária que pusesse «a dormir» por estarem a ser
vítimas de doenças graves.
Foi a «minha» Julinha que viveu
connosco durante quinze anos e morreu há uns cinco anos com cancro nas maminhas.
Era a gatinha mais fofa que se pode imaginar: acompanhou-me numa enorme
depressão; aguentou as loucuras das festas de amigas da minha filha mais nova;
adotou tudo quanto foi animal que por esta casa passou, incluindo uma coelha
anã…
Foi a Ritinha que, há dois anos, acabou
também com uma insuficiência renal.
E, em Setembro último, o Gorki,
gato de companhia da minha filha Marta de quando viveu sozinha no Barreiro, mas
que passava grandes temporadas connosco e até chegou a ir connosco de férias
para o Algarve.
É sempre um enorme drama para
mim. E há quem não entenda isso.
Entendo sim... Gatos nunca tive, mas sei bem a tristeza em que se fica quando se perde um animal de estimação.
ResponderEliminarComo eu a entendo...no dia em que a minha Mimi partir , vou sofrer , faz muita companhia, mas já é muito velhota.
ResponderEliminarTambem leio revistas e jornais de trás para a frente....
M.A.A.
o amor sera sempre eterno.
ResponderEliminarE ja agora - Gin
Bjinhos
Paula
Deixam um profundo vazio. Passei por isso e ainda que com o tempo vamos aceitando a situação, nunca se olvidam, ao extremo continuar a andar com precaução para não calcar o rabo da Princesa.
ResponderEliminarUm abraço bem grande e muito ânimo
Jornais e revistas são para ler...do fim para o princípio!:)Também não sei explicar!
ResponderEliminarCá em casa, perdemos o Guizinho que desapareceu sem sabermos como nem para onde. Já passaram 2 anos e, às vezes, ainda me parece que vou vê-lo voltar no seu andar pachorrento. Faz-me falta!
Bom Domingo.
Há quem não entenda, é verdade. Ele há gente para tudo!... Há até quem não entenda o valor da Vida!...
ResponderEliminarSó ama os animais quem sabe dar e receber carinho. Os gatos são por natureza dóceis e muito amigos.
ResponderEliminarRecordo dois que tive e que me acompanhavam a pé para todo o lado.
Uma noite seguiram-me por mais de um quilómetro até ao extremo da povoação
Fizeram cerimónia não querendo entrar em casa dos meus amigos e depois miaram tanto que tive de me vir embora para casa vendo-os a saltitarem à minha frente até aqui.
Bons amigos.
Absolutamente compreensível, Graça !
ResponderEliminarEssas "fofuras", transformam-se rapidamente em membros da família !
O problema é morrerem cedo ! ... Ora foi essa, precisamente a razão para que eu deixasse de as adoptar !... custa muito ver morrer e perder um familiar com essa frequência ! :((
Beijinho e bom domingo ! :))
.
ResponderEliminarLeio sempre esses diário.
Eugénio Lisboa, tão lúcido, sempre, pareceu-me alguém a pedir, encarecidamente, de um abraço forte.
Dos animais sabemos a profunda honestidade nas relações... Gosto tanto deles!
Um beijo
Ah como eu entendo bem, Graça! Mas só mesmo quem sentiu a dedicação de um gato pode perceber o vazio de ficar sem ele.
ResponderEliminarComovente, o diário de E.L.!
Abraço
Não tenho nenhum gato de estimação mas tento compreender essa afeição, amor até, pelos animais que passam a sua vida em lares carinhosos.
ResponderEliminarGostei bastante de ler essas crónicas.
Convenceu-me a comprar o JL
ResponderEliminar(aviso-a que a citei...)
Minha querida amiga como sabe entendo-a muito bem.
ResponderEliminarO texto comoveu-me também e muito.
"Tudo acaba, até a memória daquilo que foi bom."
beijinho
Fê
Entendo lindamente, Graça! Embora nunca tivesse sido necessário pedir isso ao veterinário, certo é que o meu Nicky morreu uma hora depois de vir de lá, na tentativa de o salvar. O mal era o mesmo: insuficiência renal! E uma idade avançada para gato, que já ia nos seus 17 anos...
ResponderEliminarNão voltei a ter gato, que o desgosto foi grande!
Beijocas!
Bolas nem me fales...saio rápido pois já estou de lágrima no olho...
ResponderEliminarBjs
Como sabes fui sempre fiel a cachorros, porque cresci com eles. Quanto chorei, sempre que algum me morria.
ResponderEliminarAgora, com a Carlota, vai acontecer-me a mesma coisa.
beijinhos, querida
Ah pois vai, MeNina... Mas enquanto dura, vida doçura...
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