sábado, 9 de fevereiro de 2013

Gatos

Adoro ler páginas de diários. Ora o Jornal de Letras costuma trazer na sua última página excertos de diários de escritores e outros artistas portugueses conhecidos que eu, naquela minha mania de começar a ver os jornais e as revistas de trás para a frente (nem sei se Freud teria explicação para isso!), leio assim que compro aquele jornal bimensal.

O JL de finais de Janeiro trazia umas entradas do diário de escritor e crítico Eugénio Lisboa que não resisto a transcrever para aqui dada a sensibilidade e a ternura que transmitem e que tanto me dizem.

«30.11.2010
A minha gatinha, a Secotine, encontra-se hospitalizada, há três dias, com uma grave afeção renal ainda não identificada. É a gatinha mais viva, mais terna, mais atenta, mais afetuosa que jamais conheci. Tem só seis anos. E já está neste inferno indescritível. A natureza é cega: não tem fair –play. A um ser tão meigo e confiante não se prega uma partida destas. Fomos vê-la e tivemo-la ao colo. Fizemos-lhe festas, longamente. Pareceu reconhecer-nos. (…) O pérfido Oscar Wilde: “Nothing that actually occurs is of the smallest importance.” Em termos galáticos, é verdade. Mas como eu não tenho dimensão galática, a doença da Secotine tem, para mim, uma importância desmedida.

10.1.2011
Ontem, às oito da noite, perdemos a Secotine. Estava no fim, em visível sofrimento – pedimos à veterinária que pusesse termo àquele milagre de vida, de afeto e de graça  que se chamava Secotine. No ano e meio que viveu connosco encheu-nos a vida de alegria e prazer, com o seu afeto brusco e atrevido: entrava na sala, saltava-nos sem cerimónia para o colo, enchia-nos de marradinhas e anichava-se em nós, com ar de proprietária. Ela era a elegância, a beleza, a velocidade, a surpresa. Enchia-nos a vida. Agora, fica só um grande buraco de saudade inútil. (…) 

11.1.2011
Não me conformo com a perda da Secotine. Estava sempre connosco: seguia-nos por todo o lado, quando chegávamos a casa, ouvia a chave e corria a vir esperar-nos. Quando eu escrevia, saltava para cima da mesa e vinha deitar-se em cima de livros e papeis, com ar impositivo. Queria atenção e dava-nos atenção. Queria carinhos e dava-nos carinhos. Era uma presença tão grande, é agora uma ausência tão grande! Merecia ficar na memória das pessoas para sempre e só vai ficar, por muito pouco tempo, na daquelas pessoas que a amaram. Tudo acaba, até a memória daquilo que foi bom.»
 
Não consegui ler este trecho, nem transcrevê-los sem os olhos se me rasarem de lágrimas. Até porque já foram três os gatos – para além dos que me desapareceram e me morreram de morte natural – que tive de pedir à veterinária que pusesse «a dormir» por estarem a ser vítimas de doenças graves.

Foi a «minha» Julinha que viveu connosco durante quinze anos e morreu há uns cinco anos com cancro nas maminhas. Era a gatinha mais fofa que se pode imaginar: acompanhou-me numa enorme depressão; aguentou as loucuras das festas de amigas da minha filha mais nova; adotou tudo quanto foi animal que por esta casa passou, incluindo uma coelha anã…




Foi a Ritinha que, há dois anos, acabou também com uma insuficiência renal. 




E, em Setembro último, o Gorki, gato de companhia da minha filha Marta de quando viveu sozinha no Barreiro, mas que passava grandes temporadas connosco e até chegou a ir connosco de férias para o Algarve.



É sempre um enorme drama para mim. E há quem não entenda isso.

17 comentários:

  1. Entendo sim... Gatos nunca tive, mas sei bem a tristeza em que se fica quando se perde um animal de estimação.

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  2. Como eu a entendo...no dia em que a minha Mimi partir , vou sofrer , faz muita companhia, mas já é muito velhota.
    Tambem leio revistas e jornais de trás para a frente....
    M.A.A.

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  3. o amor sera sempre eterno.

    E ja agora - Gin

    Bjinhos
    Paula

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  4. Deixam um profundo vazio. Passei por isso e ainda que com o tempo vamos aceitando a situação, nunca se olvidam, ao extremo continuar a andar com precaução para não calcar o rabo da Princesa.
    Um abraço bem grande e muito ânimo

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  5. Jornais e revistas são para ler...do fim para o princípio!:)Também não sei explicar!
    Cá em casa, perdemos o Guizinho que desapareceu sem sabermos como nem para onde. Já passaram 2 anos e, às vezes, ainda me parece que vou vê-lo voltar no seu andar pachorrento. Faz-me falta!

    Bom Domingo.

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  6. Há quem não entenda, é verdade. Ele há gente para tudo!... Há até quem não entenda o valor da Vida!...

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  7. Só ama os animais quem sabe dar e receber carinho. Os gatos são por natureza dóceis e muito amigos.
    Recordo dois que tive e que me acompanhavam a pé para todo o lado.
    Uma noite seguiram-me por mais de um quilómetro até ao extremo da povoação
    Fizeram cerimónia não querendo entrar em casa dos meus amigos e depois miaram tanto que tive de me vir embora para casa vendo-os a saltitarem à minha frente até aqui.
    Bons amigos.

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  8. Absolutamente compreensível, Graça !
    Essas "fofuras", transformam-se rapidamente em membros da família !
    O problema é morrerem cedo ! ... Ora foi essa, precisamente a razão para que eu deixasse de as adoptar !... custa muito ver morrer e perder um familiar com essa frequência ! :((

    Beijinho e bom domingo ! :))
    .

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  9. Leio sempre esses diário.

    Eugénio Lisboa, tão lúcido, sempre, pareceu-me alguém a pedir, encarecidamente, de um abraço forte.

    Dos animais sabemos a profunda honestidade nas relações... Gosto tanto deles!

    Um beijo

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  10. Ah como eu entendo bem, Graça! Mas só mesmo quem sentiu a dedicação de um gato pode perceber o vazio de ficar sem ele.
    Comovente, o diário de E.L.!
    Abraço

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  11. Não tenho nenhum gato de estimação mas tento compreender essa afeição, amor até, pelos animais que passam a sua vida em lares carinhosos.
    Gostei bastante de ler essas crónicas.

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  12. Convenceu-me a comprar o JL

    (aviso-a que a citei...)

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  13. Minha querida amiga como sabe entendo-a muito bem.
    O texto comoveu-me também e muito.

    "Tudo acaba, até a memória daquilo que foi bom."


    beijinho

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  14. Entendo lindamente, Graça! Embora nunca tivesse sido necessário pedir isso ao veterinário, certo é que o meu Nicky morreu uma hora depois de vir de lá, na tentativa de o salvar. O mal era o mesmo: insuficiência renal! E uma idade avançada para gato, que já ia nos seus 17 anos...

    Não voltei a ter gato, que o desgosto foi grande!

    Beijocas!

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  15. Bolas nem me fales...saio rápido pois já estou de lágrima no olho...
    Bjs

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  16. Como sabes fui sempre fiel a cachorros, porque cresci com eles. Quanto chorei, sempre que algum me morria.
    Agora, com a Carlota, vai acontecer-me a mesma coisa.

    beijinhos, querida

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  17. Ah pois vai, MeNina... Mas enquanto dura, vida doçura...

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