Tinham passado apenas uns breves meses
desde a Revolução e as coisas já não estavam a correr bem para o Presidente da
República, o General Spínola, conservador de mais para os militares do MFA.
Aí a
população civil e militar que ainda ansiava pelo regresso ao “24 de Abril” viu
uma oportunidade de começar a fazer com que tudo andasse para trás e organizou –
mesmo sem ainda haver redes sociais – uma manifestação
silenciosa que deveria ter lugar no dia 28 de Setembro, sábado, em Lisboa.
Foram distribuídos e afixados cartazes por toda a cidade e pelo resto do país
que prontamente iam sendo retirados e destruídos pelos militares e pelos civis da
chamada esquerda. A manifestação acabou por não se realizar porque o governo
(de Vasco Gonçalves) e o MFA não autorizaram tendo sido montada pelo COPCON uma
operação de vigilância apertada por toda a cidade com o objetivo de prenderem
os organizadores da dita manifestação. Entrar e sair de Lisboa, bem como
circular pela cidade era extremamente difícil porque havia forças militares e policiais
por todo o lado.
Por essa altura já nós andávamos
a tratar da nossa mudança para Leiria onde até já tínhamos casa alugada,
mobilada e prontinha apenas à espera da minha colocação numa escola de cá. Porém,
essa mudança estava a ser tão penosa para mim que todos os fins-de-semana íamos
a casa da minha mãe em Sintra onde ficara ainda parte da nossa mobília de
casamento, ritual que se prolongou por alguns anos…
Ora uma dessas idas e vindas lá
calhou naquele sábado 28 de Setembro, dia da manifestação de cuja importância e
perigosidade quase nem tínhamos dado conta. A entrada em Lisboa foi demorada e,
já não me lembro porquê, fomos pela Marginal para depois no Estoril cortarmos
para Sintra. Demoras e mais demoras no trajeto e aí o meu jovem marido, do alto
daquela inconsciência própria dos seus/nossos vinte e tal anos, fartinho que
estava de cortes nas estradas, resolveu, da forma mais irrefletida, fazer uma
louca inversão de marcha por cima dos dois traços contínuos da Marginal para
experimentar outro caminho mais rápido.
Ato contínuo tínhamos dois carros
de polícia atrás de nós com as sirenes a apitar. Foi um susto daqueles! Parámos
o carro de imediato e lembro-me ainda hoje do que o polícia de cara muito
fechada disse: «O senhor sabe o que fez?» Levámos uma reprimenda de todo o
tamanho mesmo perante todas as justificações que o meu marido foi dando. E
depois disso tivemos o carro todo revistado. Estou a ver o saco de viagem que
trazíamos lá atrás com a nossa roupa e as nossas coisas de higiene e estou a
ver o polícia a abrir-lhe o fecho, a meter a manápula lá dentro e a remexer
tudo e sacar lá do fundo uma caixa que lhe deve ter trazido alguma
desconfiança. Tirou-a cá para fora um pouco impante e… deu-se com uma caixa de tampax. Em segundos voltou e metê-la no
saco e depois de nos dar mais uns “puxões de orelhas”, lá nos deixou seguir em
paz…
Eu estava a cumprir serviço militar em Tomar nessa altura... Boa recordação.
ResponderEliminarBom fds
E assim fiquei a saber que a falta de educação policial já vem de longe.
ResponderEliminarBom fim de semana:))
Por essa altura estava eu parado numa barragem de estrada, para os lados de Viseu, um furriel e um praça, um deles barbudo, a abrir o porta bagagens do carro. O Bruno ainda não tinha 1 anito, lá vinha um saco com fraldas de pano, claro, que era o que havia.
ResponderEliminarDado o cheiro caraterístico da circunstância, lá decidiram que não devia haver armas escondidas e prosseguimos viagem.
Também vivemos esse dia em desassossego temperado pela festa de aniversário do meu "menino d´oiro"!
ResponderEliminarAbraço
Pois, acho que passei o dia em Espanha.
ResponderEliminarHoje vou passá-lo em Lisboa, defendendo o que resta de Abril!!
Podem destruir o meu país e roubar-me o que ganhei com o meu trabalho, mas não contem com o meu silêncio e a minha conivência!!!
Um abraço, GRacita
As tuas peripécias em dia de manifestação da Maioria
ResponderEliminarSilenciosa como então foi chamada.
Eu e meu marido mobilizá-mo-nos para uma contra manifestação e garanto-vos que não nos livrámos de alguns sustos.
Esperemos que hoje, dia 29, a manifestação não seja silenciosa mas sim de maioria para silenciar este Governo de Malfeitores que roubam impunemente sem curarem de estudfar se as suas medidas vão mesmo salvar o país da bancarrota.
Abraços
A esta distância, ter vinte e tal anos é tramado...
ResponderEliminar:)
Gostei de ler o que alguns escreveram...é assim mesmo , calar nunca. Quando era garota , era o tempo do "come e cala" ...isso acabou.
ResponderEliminarGraça, de amanhã até dia 5 , vou ser sua vizinha e vou andar por aí...Não sei se vou ter computador, mas vou aproveitar para descansar, num local próprio para quem trabalhou. Um Abraço.M.A.A.
ResponderEliminarOs ideais de Abril em perigo e a memória, automaticamente, a estabelecer correlações.
Lídia
É verdade Lídia! As correlações! Hoje a manifestação foi bem ruidosa e bem participada! também por lá andei..
ResponderEliminarBoa memória, Graça.
ResponderEliminarBelíssimo depoimento você
ResponderEliminardeixou na minha página.
Gostaria muito de contar
com a sua presença amanhã,
no mesmo espaço.
Um beijo e obrigado.
silvioafonso
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