quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Leituras ou gramática?




No final do passado ano letivo, comecei a receber mails de colegas professoras de Português com um texto da escritora Teolinda Gersão (minha professora de Teoria da Literatura por uma semana em Letras…) intitulado Redacção – Declaração de Amor à LínguaPortuguesa.

Apesar de gostar muito de redações, da Língua Portuguesa e do ensino da gramática, não gostei muito do teor dessa Redacção, primeiro porque estava um bocado dececionada com o final da leitura do romance A Cidade de Ulisses da referida escritora, como deixei aqui expresso; segundo porque nunca gostei muito (para não dizer nada) do facto arrogante da autora, com aqueles olhinhos trocistas e míopes, enquanto professora assistente em Letras não nos querer receber nas suas aulas, depois da morte repentina do professor catedrático Monteiro Grilo, o poeta Thomas Kim, porque já tinha muitos alunos; e, por último, porque achei, tal como o final do atrás referido romance, um pouco exagerado e manipulador em termos políticos. Por isso “desliguei”.
Ontem, porém, voltei a lembrar a dita redação ao ler no DN a crónica A ditadura dos linguistas” do jornalista Pedro Tadeu. Deu-me ele conhecimento de um pequeno quid pro quo que se gerou entre a autora da “Redacção” e a professora linguista Maria Helena Mira Mateus também da Faculdade de Letras de Lisboa acerca do tipo de gramática que se ensina atualmente nas escolas. 

(Teolinda Gersão vs Mª Helena Mira Mateus)

Para os leigos na matéria – que também é o caso do jornalista – a TLEBS, a nova Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário foi adotada para rever a terminologia em vigor desde 1967, a título experimental, pela Portaria 1488/2004, ainda num outro mandato do partido do governo atual, tendo sido suspensa para revisão em 2007, depois de muitas críticas apresentadas por vários intelectuais tais como Maria Alzira Seixo e Vasco da Graça Moura. Este processo foi depois transformando no Dicionário Terminológico segundo o qual se começou a ensinar a partir de 2010 e que (quase) nada tem a ver com a gramática dita tradicional, cuja referência maior (para mim) é a da Gramática do meu querido professor Lindley Cintra, que os professores aprenderam nos seus cursos. E este, parece-me, é que é o grande problema: é que os professores não aprenderam estas novas, estranhíssimas e pouco lógicas nomenclaturas sentindo-se na maior confusão sobre o que hão-de ensinar aos alunos.
O ME dirá que deu formação aos professores de Português. Deu nada! Limitou-se a criar uns esparsos núcleos de “formação” pelo país aonde um ou dois professores por escola tinham de se deslocar quilómetros a expensas próprias e depois do seu dia de trabalho para lhes serem dadas resmas de textos em inglês que teriam de ler e interpretar respondendo depois a una quaisquer testes online… Depois, esses professores pseudo-formados em coisa nenhuma estavam obrigados a passar a informação aos restantes professores de Português da escola se estes quisessem ouvi-los…
Como se deve calcular, foi tudo feito no ar – como é hábito no nosso ministério – e agora, atrevo-me a dizer que deva sentir-se o maior desnorte no ensino do funcionamento da língua, ou seja, da gramática, por esse país fora.
Isto sim é um enorme problema que abala o ensino e o uso da nossa bela Língua como um sismo! Mas, entretanto, andamos todos à bulha – a começar pelo “intelectual do regime”, o senhor professor Graça Moura – por causa de um sem importância nenhuma Novo Acordo Ortográfico para se saber se se há de escrever com mais p ou menos c, com mais hífen ou menos hífen, com mais acento ou menos acento!
A questão posta pelo jornalista, porém, – e infelizmente por grande parte dos professores de Português e até mesmo e pior pelos “iluminados” que estão nas Direções-Gerais a fazer os programas – é saber se é mais importante ensinar o chamado funcionamento da língua – a gramática, em terminologia antiga – ou pôr os alunos a ler obras de autores nossos de renome.
E é com estas discussões de “lana caprina” que se vão passando anos após anos letivos e se vai maltratando a aprendizagem da nossa Língua. Quanto a mim que sempre gostei imenso de ensinar Português, o problema nem se põe: há que ensinar o funcionamento da língua – mas a sério e sem medo de “traumatizar” os meninos o mais cedo possível até ao fim do ensino básico e, ao mesmo tempo, aí a partir do 7º ano, imergi-los na leitura dos nossos bons autores, ensinando-lhes o vocabulário com força – que é o que não se faz – e fazendo-os escrever textos mais ou menos longos sem apelo aos espaços para preencher, nem à escolha múltipla, nem à numeração ordenada de frases. Esses exercícios são bons para a introdução à língua estrangeira ou para outras matérias que não me atrevo a sugerir aqui.

11 comentários:

  1. Peço desculpa pela mancha do texto de hoje. Escrevi como de costume e saiu assim. E não consigo alterá-lo. Uma verdadeira "info-naba"....

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  2. Seleccionei ontem esta crónica para o meu mural do FB!
    Achei-o interessante!

    Abraço

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  3. Para além do estudo das regras básicas da Língua, só lendo por caminhos certos e escrevendo bastante se vai adquirindo o domínio do funcionamento da língua. Mas isto exige trabalho e para este, há pouco tempo.

    Um beijo

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  4. Sou leiga na matéria mas como em quase tudo deverá procurar-se um equilíbrio e penso que tens razão. Uma coisa não vai sem a outra.

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  5. Ora...eis que alguém me compreende!!!
    Tenho andado a sentir-me a pesoa mais burra do planeta, tenho andado com receio de enfrentar as reunuões de Departamento e de Grupo...pois estive a dar aulas aos adultos e embora tenha acompanhado a TLEBS, O D.T, e agora , as regras do Acordo ortográfico estou muito insegura...
    Estudei em Na Fac Letras de Coimbra e sim...era a Garmática de Lindley Cintra, era o rigor de Carlos Reis, a sabedoria de Vitor Aguiar e Silva e outros...
    Agora...sinto-me perdida!!! Comecei a lecionar em 84 e é AGORA que me sinto PERDIDA. E angustiada!
    O muito ler eo muito escrever são, quanto mim fatores fundamentais para se dominare e gostar da língua Portugues!
    Obrigada..pude desabafar e já não me sinto tão só na minha angústia.
    Obrigada mais uma vez!
    Isabel

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  6. Graça,
    Não estou à vontade como tema que escreve mas já na vertente informática sou bem mais expedita ;)
    Para retirares essa mancha branca, basta retirares a formatação que tem esse texto, para isso, na página onde se publica o post, tens uma barra com uma série de botões (mudar a letra, adicionar link, etc.), para alterar a formatação, basta clicar no T que tem um x vermelho, depois é só ajustar.

    Espero ter ajudado :)

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  7. Há uns tempos que não consigo fechar a boca por causa do pasmo que que se apoderou de mim.Até uso máscara para evitar moscas mosquitos e afins.Nem sabia nada do D T e ameaços.Cuidei mesmo que a "declaração de amor..." de Teolinda Gersão fosse uma caricatura, de mau gosto,sobre o caos do ensino da gramática.Afinal como vai sendo hábito neste nosso panorama de ensino da língua materna,tem fundamentos de verdade.
    Quando eu" era nova",ainda contactei a Professora Mira Mateus,convidando-a a vir à Escola D.Dinis para nos poder orientar na consulta da Gramática por ela editada com Isabel Hub e assim ,cuidava eu,poderíamos organizar as nossas ideias e,sem pretensões de ensino universitário, adquiriríamos bases que nos ajudassem no nosso caminho,evitando bacoradas.A Senhora deve ter-se rido à brava com este pedido vindo de um ser tão desprezível e,claro. não respondeu.
    Eu estava escaldada com o terramoto provocado pela gramática generativa,que de objectivos mal explicados pôs a malta plantar um arvoredo de galhos todos tortos que nunca deram para demonstrar a que nível a frase se constrói na massa cinzenta.Foi uma festa!Até se atropelaram as funções sintáticas etc.etc.Já agora,peço~te que leias o texto do blog "pensamentos vagabundos" de 13 de Agosto.Ele há cada coisa estranha...
    Vou pôr a máscara para poder continuar de boca pasmada.Kinkas
    PS Se souberes de alguém que queira adquirir a GRAMATICA DA LINGUA PORTUGUESA de M.H.Mira Mateus e outras Ed.Almedina e me custou 900 paus em 1983 só paga os portes.Acho que é um bom documento de consulta mas nunca mais terei pachorra para o abrir.

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  8. Querida Graça,

    Não sendo Professora mas amando a língua Portuguesa, que não domino, gostei da tua interpretação da situação atual do ensino da nossa língua que tão maltratada tem sido nestes últimos tempos.
    Será que os políticos vão deixar que se evolua para algo realmente construtivo?

    Lá teremos que esperar para ver.

    Beijosss

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  9. Já cá estive e não consegui abrir a caixa de comentários.

    Esta gramática em vigor é uma aberração. Eu, francamente, sinto-me a boiar.E, quantas vezes, não ando de telefone na mão a conferenciar com as outras colegas e terminamos sempre - É uma _erda! (continua a faltar-me o 'm'!

    Gostei do que escreveste. Tens toda a razão!

    Beijo

    Laura

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  10. Caramba esta coisa hoje está dificil para abrir, não quer que comente! Ok, não comento.
    Deixo a minha grande admiração por todos aqueles que se dedicam á educação e ao ensino.

    Beijinho e uma flor

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  11. Ó diabo! porque é que esta coisa está difícil de abrir?! Como afirmei no início, percebo muito pouco disto e sou autodidata. O que me vale é que há quem me ensine a fazer algumas coisas até aqui entre os bloggers: tenho de agradecer à Nina e agora também à Marta que me vão "abrindo os olhos"... Marta, vamos ver se sou capaz de seguir as tuas simpáticas orientações. muitos beijinhos gratos.

    Querida Blue, que "blue" que estás quanto ao ensino desta gramática estúpida e ilógica e como eu te compreendo! Fiquei feliz por teres gostado do que escrevi e por te ter feito desabafar. Aqui podes fazê-lo sempre! Mas também podes (e deves) fazê-lo no Departamento e em todas as reuniões! Não há que ter medo! Os alunos precisam e merecem a nossa coragem e o nosso desmedo!

    Querida Kinkas, tomaríamos que continuasse a haver professoras de Língua Portuguesa como tu sempre foste! Falaste aqui muito bem (como sempre) e fizeste bem em recordar o convite (gorado, não obstante) à Drª Mira Mateus. Nesse tempo, Leiria estava muito longe de Lisboa... Nem nos lembres da malvada gramática (de)generativa! Mas olha que a atual é bem mais estúpida e difícil de entender e de fazer os alunos entendê-la!

    Lídia, de facto, estes procedimentos que defendo levam tempo, mas agora os tempos letivos dedicados à LP são mais do que em tempos passados.

    Obrigada a todos pelos vossos simpáticos comentários.

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