fingir que está tudo bem: o corpo rasgado e vestido
com roupa passada a ferro, rastos de chamas dentro
do corpo, gritos desesperados sob as conversas: fingir
que está tudo bem: olhas-me e só tu sabes: na rua onde
os nossos olhares se encontram é noite: as pessoas
não imaginam: são tão ridículas as pessoas, tão
desprezíveis: as pessoas falam e não imaginam: nós
olhamo-nos: fingir que está tudo bem: o sangue a ferver
sob a pele igual aos dias antes de tudo, tempestades de
medo nos lábios a sorrir: será que vou morrer?, pergunto
dentro de mim: será que vou morrer? olhas-me e só tu sabes:
ferros em brasa, fogo, silêncio e chuva que não se pode
dizer:
amor e morte: fingir que está tudo bem: ter de sorrir: um
oceano que nos queima, um incêndio que nos afoga.
(José Luís Peixoto, in
‘A Criança em Ruínas’)
Um belo poema do J. L. Peixoto.
ResponderEliminarBoa semana, Gracinha!
Gostei muito de ler. Claro que não está tudo bem. Mas com o esforço de todos e o RESPEITO que a vida nos merece, VAI FICAR TUDO BEM. Eu, acredito
ResponderEliminarCuide-se
Luto contra
ResponderEliminar"As crianças em Ruínas
contra
Os velhos em ruínas
os filhos deles
e também das filhas
Como?
"Desenhando Sonhos"
porque não adianta fingir
que está tudo bem
nos empenhamos
em que estejamos
um pouco melhor...
E não é que conseguimos?
Não está tudo bem mas vai ficar tudo bem.
ResponderEliminarBeijinhos