Na semana passada fomos ao Museu
M[i]mo visitar a exposição de fotografia (Re)conhecer
Leiria – memórias e imagens do século XX com textos e imagens de Raul
Faustino de Sousa e do fotógrafo leiriense de sempre, o senhor Fabião. Sobre a
exposição falarei noutra altura. Mas, apaixonada que sou pelos acontecimentos
do século XX, especialmente da primeira metade a que não assisti, e pelas
imagens desse tempo nomeadamente dos locais onde vivi, e influenciada pelos
trechos transcritos do livro “As Minhas
Memórias – Leiria 1909-1939” de Raul F. de Sousa, acabei por adquiri-lo no
fim da visita. (O nosso amigo blogger asnunes já se referiu a este livro aquando do seu lançamento na Fundação da Caixa
de Crédito Agrícola de Leiria).
Não se trata de uma obra
literária, mas tão-somente de uma sequência de pequenas narrativas, com
fotografias e croquis do próprio autor de episódios do tempo da sua vida que
passou em Leiria e que decerto será muito mais apreciada pelos leirienses aqui
nados e criados conhecedores das famílias tradicionais desta pequena e bem
fechada cidade.
Ora hoje, que estou a preparar as
coisas para ir passar uma semana lá para o Sul, lembrei-me da descrição divertidíssima
e quase surreal dos preparativos da família de Raul Sousa quando, nos anos
20-30 do século passado, se deslocava de férias com os pais e os irmãos para a
praia da Vieira. Vamos ver.
«No dia aprazado, logo de manhã,
chegava à nossa porta o almejado transporte, que naquele tempo era um “carro de
esquadrão” (espécie de galera, mas mais bem feito e cómodo) puxado por uma ou
duas parelhas de mulas. Era um bom carro, com os taipais altos de grades de madeira,
onde se aninhava toda a espécie de coisas e bagagens a levar para um mês de
praia. Depois de carregado, era muito cómodo.
Ali se metiam malas grandes com
roupas de cama, de mesa e outros, grandes caixotes de comida, camas, colchões,
enfim, uma amálgama de coisas para montar casa para cinco pessoas.
Logo a seguir ao assento do
condutor, havia uma tábua onde cabiam mais duas pessoas. Eu tinha a incumbência
de fazer a distribuição da bagagem, de forma a dar espaço e comodidade às
pessoas que deviam ir no carro. Assim, tratava de almofadar a tábua com
cobertores, assim como a grande mala, logo atrás. (…)
Ali nos aconchegávamos e, depois
de tudo pronto, dava ordem para arrancar. E, dada a partida, encetávamos a
viagem que ia durar umas horas.
Meu pai ia a cavalo e só ia mais
tarde. (…)
Apesar de as estradas serem de
macadame, a viagem fazia-se com relativo conforto e fazíamos alto na Vila da
Vieira, para breves visitas e descanso dos animais.
Retomávamos a viagem, depois de
uma ou duas horas de descanso, da Vieira para a Praia e, logo que se entrava no
pinhal, enfrentava-se uma série de buracos, que chegavam a atingir uns quatro
metros de comprido, a toda a largura da estrada, que era um caso sério para
sair dali pois estes grandes buracos eram de areia solta e pedra solta. (…)
Algumas vezes aconteceu sairmos
de Leiria às nove da manhã e só chegarmos à praia à tardinha. E uma vez
chegámos à praia à noite, tendo-se procedido à descarga do carro à luz de
candeeiros Petromax.»
Cá por mim, espero amanhã levar muitas
menos horas a chegar de Leiria ao Algarve…
Só hoje visitei essa exposição mas tenciono voltar lá, da próxima vez com a minha mãe. Acho que ela irá gostar de a ver ainda mais do que eu.
ResponderEliminar:)
Diverte-te e repousa. Depois conta como foi! : )
ResponderEliminarHoje também fui ao M[i]mo o pouco tempo que tinha não deu para fazer uma visita, mas tive o prazer de conhecer pessoalmente os nossos amigos da blogosfera, Rui Pascoal e a esposa, a Sandra Subtil e a Carlota, a visita da exposição dei apenas uma pequenina vista de olhos, mas vou voltar em breve!
ResponderEliminarBoas férias Graça, fugiste da chuva.
beijinho e uma flor
Quantos cavalos substituem as duas parelhas de mulas?
ResponderEliminarÉ que se a tração fosse muar
Levava um tempão a lá chegar
Boa estadia!
Bom descanso ;))
ResponderEliminarBeijos
Pelos vistos, a exposição está concorrida; tb lá fui anteontem... re-cordar, quando o coração é o centro da memória!
ResponderEliminarDessas viagens, para ir passar o Verão à praia (no meu caso, a Nazaré), ainda me lembro bem. A bagagem era imensa, as estradas péssimas, os automóveis lentos, embora bastante resistentes. Dias cansativos e com alguns imprevistos, mas depois bem recompensados, é certo.
Para si, desejos de óptima semana aí pelo Sul, aonde já se chega agora em menos de um fósforo!
Então boas férias, Gracinha!
ResponderEliminarAi as horas que passei em viagem!
Curiosamente eram mais penosas as 6 horas para vir da aldeia ao Porto do que aquelas que passava entre Portugal e França. Nestas não havia curvas que me fizessem vomitar.:)
bji gde
ResponderEliminarBoas férias, Graça! E que o tempo por lá esteja de feição... primaveril.
Beijo
Laura
Que tenhas melhor tempo do que aquele que nós apanhámos!
ResponderEliminarBoas mini-férias!
Abraço
Boas férias, Graça. Que voltes refeita e com força para continuar a cascar na tropa fandanga
ResponderEliminarTem uma Páscoa feliz
Beijinho
ResponderEliminarUma delícia, este relato!
Efetivamente tempos mudaram.
Em muitos casos, para melhor, em outros tantos, para pior.
Um beijo e boas férias.
Lídia
A tia do meu avô, que morreu com 98 anos, contava que nos tempos dela de menina e moça, a família ia passar férias a Belém. De burro... :)))
ResponderEliminarEstes relatos são sempre muito bons! :D
Beijocas e boas férias para ti!
Obrigada pelos vossos simpáticos votos.
ResponderEliminarAfinal saímos de Leiria aí pelo meio-dia e chegámos ao Algarve aí pelas 4.30 e ainda comemos umas boas sandochas de pão alentejano com o belo presunto serrano e o delicioso queijo de Serpa pelo caminho.
Beijinhos
Teté, teria eu os meus dois/três anos, os meus pais levaram-me de férias de Algés para Santa Iria da Azoia para apanhar ares do campo...
Outros tempos...
Gostei do que li sobre a ida há praia , ao ponto de fazer uma cópia e juntar duas fotos antigas e publicar no meu face ... Grato pelo relato ...Cumprimentos
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