sábado, 23 de março de 2013

Ida de férias

Na semana passada fomos ao Museu M[i]mo visitar a exposição de fotografia (Re)conhecer Leiria – memórias e imagens do século XX com textos e imagens de Raul Faustino de Sousa e do fotógrafo leiriense de sempre, o senhor Fabião. Sobre a exposição falarei noutra altura. Mas, apaixonada que sou pelos acontecimentos do século XX, especialmente da primeira metade a que não assisti, e pelas imagens desse tempo nomeadamente dos locais onde vivi, e influenciada pelos trechos transcritos do livro “As Minhas Memórias – Leiria 1909-1939” de Raul F. de Sousa, acabei por adquiri-lo no fim da visita. (O nosso amigo blogger asnunes já se referiu a este livro aquando do seu lançamento na Fundação da Caixa de Crédito Agrícola de Leiria).

Não se trata de uma obra literária, mas tão-somente de uma sequência de pequenas narrativas, com fotografias e croquis do próprio autor de episódios do tempo da sua vida que passou em Leiria e que decerto será muito mais apreciada pelos leirienses aqui nados e criados conhecedores das famílias tradicionais desta pequena e bem fechada cidade.

Ora hoje, que estou a preparar as coisas para ir passar uma semana lá para o Sul, lembrei-me da descrição divertidíssima e quase surreal dos preparativos da família de Raul Sousa quando, nos anos 20-30 do século passado, se deslocava de férias com os pais e os irmãos para a praia da Vieira. Vamos ver.




«No dia aprazado, logo de manhã, chegava à nossa porta o almejado transporte, que naquele tempo era um “carro de esquadrão” (espécie de galera, mas mais bem feito e cómodo) puxado por uma ou duas parelhas de mulas. Era um bom carro, com os taipais altos de grades de madeira, onde se aninhava toda a espécie de coisas e bagagens a levar para um mês de praia. Depois de carregado, era muito cómodo.

Ali se metiam malas grandes com roupas de cama, de mesa e outros, grandes caixotes de comida, camas, colchões, enfim, uma amálgama de coisas para montar casa para cinco pessoas. 

Logo a seguir ao assento do condutor, havia uma tábua onde cabiam mais duas pessoas. Eu tinha a incumbência de fazer a distribuição da bagagem, de forma a dar espaço e comodidade às pessoas que deviam ir no carro. Assim, tratava de almofadar a tábua com cobertores, assim como a grande mala, logo atrás. (…)

Ali nos aconchegávamos e, depois de tudo pronto, dava ordem para arrancar. E, dada a partida, encetávamos a viagem que ia durar umas horas.

Meu pai ia a cavalo e só ia mais tarde. (…) 

Apesar de as estradas serem de macadame, a viagem fazia-se com relativo conforto e fazíamos alto na Vila da Vieira, para breves visitas e descanso dos animais. 

Retomávamos a viagem, depois de uma ou duas horas de descanso, da Vieira para a Praia e, logo que se entrava no pinhal, enfrentava-se uma série de buracos, que chegavam a atingir uns quatro metros de comprido, a toda a largura da estrada, que era um caso sério para sair dali pois estes grandes buracos eram de areia solta e pedra solta.  (…)

Algumas vezes aconteceu sairmos de Leiria às nove da manhã e só chegarmos à praia à tardinha. E uma vez chegámos à praia à noite, tendo-se procedido à descarga do carro à luz de candeeiros Petromax.»




Cá por mim, espero amanhã levar muitas menos horas a chegar de Leiria ao Algarve…


14 comentários:

  1. Só hoje visitei essa exposição mas tenciono voltar lá, da próxima vez com a minha mãe. Acho que ela irá gostar de a ver ainda mais do que eu.
    :)

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  2. Diverte-te e repousa. Depois conta como foi! : )

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  3. Hoje também fui ao M[i]mo o pouco tempo que tinha não deu para fazer uma visita, mas tive o prazer de conhecer pessoalmente os nossos amigos da blogosfera, Rui Pascoal e a esposa, a Sandra Subtil e a Carlota, a visita da exposição dei apenas uma pequenina vista de olhos, mas vou voltar em breve!
    Boas férias Graça, fugiste da chuva.

    beijinho e uma flor

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  4. Quantos cavalos substituem as duas parelhas de mulas?

    É que se a tração fosse muar
    Levava um tempão a lá chegar

    Boa estadia!

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  5. Pelos vistos, a exposição está concorrida; tb lá fui anteontem... re-cordar, quando o coração é o centro da memória!

    Dessas viagens, para ir passar o Verão à praia (no meu caso, a Nazaré), ainda me lembro bem. A bagagem era imensa, as estradas péssimas, os automóveis lentos, embora bastante resistentes. Dias cansativos e com alguns imprevistos, mas depois bem recompensados, é certo.

    Para si, desejos de óptima semana aí pelo Sul, aonde já se chega agora em menos de um fósforo!

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  6. Então boas férias, Gracinha!

    Ai as horas que passei em viagem!
    Curiosamente eram mais penosas as 6 horas para vir da aldeia ao Porto do que aquelas que passava entre Portugal e França. Nestas não havia curvas que me fizessem vomitar.:)

    bji gde

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  7. Boas férias, Graça! E que o tempo por lá esteja de feição... primaveril.

    Beijo

    Laura

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  8. Que tenhas melhor tempo do que aquele que nós apanhámos!
    Boas mini-férias!

    Abraço

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  9. Boas férias, Graça. Que voltes refeita e com força para continuar a cascar na tropa fandanga
    Tem uma Páscoa feliz
    Beijinho

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  10. Uma delícia, este relato!

    Efetivamente tempos mudaram.
    Em muitos casos, para melhor, em outros tantos, para pior.

    Um beijo e boas férias.

    Lídia

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  11. A tia do meu avô, que morreu com 98 anos, contava que nos tempos dela de menina e moça, a família ia passar férias a Belém. De burro... :)))

    Estes relatos são sempre muito bons! :D

    Beijocas e boas férias para ti!

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  12. Obrigada pelos vossos simpáticos votos.

    Afinal saímos de Leiria aí pelo meio-dia e chegámos ao Algarve aí pelas 4.30 e ainda comemos umas boas sandochas de pão alentejano com o belo presunto serrano e o delicioso queijo de Serpa pelo caminho.

    Beijinhos

    Teté, teria eu os meus dois/três anos, os meus pais levaram-me de férias de Algés para Santa Iria da Azoia para apanhar ares do campo...

    Outros tempos...

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  13. Gostei do que li sobre a ida há praia , ao ponto de fazer uma cópia e juntar duas fotos antigas e publicar no meu face ... Grato pelo relato ...Cumprimentos

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