Tive sempre muita facilidade em
registar datas na minha memória. Nunca esqueci as datas de aniversário das
amigas do liceu, da Faculdade, de colegas de profissão, dos antigos namorados,
até dos antigos namorados das minhas filhas! Do mesmo modo sou capaz de
recordar datas de acontecimentos mais ou menos marcantes, mais ou menos
importantes, mais ou menos sérios. Deve ser o meu traço de Asperger, sei lá!
Ontem, dia 11 de Março, lá
recordei, uma vez mais, o episódio do Dia da Polícia.
Andava no Liceu Maria Amália, no
meu 6º ou 7º ano e tinha muitos amigos de comboio. Eu morava em Sintra e todos
os dias ia de comboio para Lisboa; como não havia liceus senão em Lisboa (e nas
capitais de distrito), todos os jovens que viviam na linha de Sintra e que
podiam dar-se ao luxo de levar o ensino secundário até ao fim tinham de apanhar
o comboio (das 7.04) para as aulas que começavam sempre às 8.30. Éramos quase
sempre os mesmos, muitos mais rapazes que raparigas, que elas ficavam-se pelo
2º ano ou, no máximo, pelo 5º ano, ou então seguiam para a Escola Técnica e aí,
frequentavam a Escola do Cacém.
E foi com o Carlos P. que se deu.
Ele, como quase todos os meus amigos de comboio, vinha do Algueirão (como
depois, já na Faculdade, vinha o Mega Ferreira – que ainda não era conhecido –
e se sentava quase sempre à minha frente sem nunca trocarmos palavra que ele
era tímido e eu também e, além disso, eu sabia dos amores e desamores dele…) e
andava no Liceu Passos Manuel. Por vezes, eles acompanhavam-me Avenida da
Liberdade acima sempre em grande galhofa, em franca brincadeira. Ríamos,
falávamos alto, cantávamos até, avenida acima – o melhor tempo das nossas
vidas…
Um dia, como todos os dias, lá
“desaguámos” na Estação do Rossio juntamente com operários que iam pegar às
oito, com empregados (que não se chamavam ainda “colaboradores”…) de
escritório, com empregadas de lojas (que abriam sempre às nove) e corriam para
os autocarros ou para o metro e vimos muitos polícias, mais do que era costume
e todos engalanados envergando a farda de festa. Como tudo servia, na
estouvadice dos nossos 16/17 anos, para rir e para gozar, lá nos pusemos a
conjeturar por que razão os polícias estariam todos bem vestidos. Seria feriado
sem nos termos dado conta? Seria que o Tomás iria sair pela cidade? E tanto
fizemos e acontecemos que o meu querido Carlos P. chega-se junto de um dos
polícias e, com o ar mais atrevido que um ganapo desocupado e com uma mancheia
de livros debaixo do braço conseguiu mostrar e que lhe vinha também da força que
o grupinho lhe emprestava, pergunta: «Ó, sô Guarda, porque é que os senhores
hoje andam todos tão bem vestidos?» Vimos jeitos de o polícia sacar do
cassetete e o levar para a esquadra, mas limitou-se a, com aquele ar boçal e
carrancudo dos polícias daquele tempo, perguntar com voz seca e arrastada: «O
senhor sabe que dia é hoje?» E o bom do Carlos: «11 de Março…» «E não sabe que
é o Dia da Polícia?!» Gargalhadas surdas e zombeteiras avenida acima… Claro!
Toda a gente tinha obrigação de saber o dia em que se festejava o dia da
Polícia!
Não sei se continua a celebrar-se
o Dia da Polícia a 11 de Março. Mr Google apenas me informou que era o dia do
aniversário do comando da PSP de Lisboa. Mas durante anos ouvi referências ao
dia da Polícia neste dia e sempre me lembrava da cena do meu amigo Carlos P.
que perdi de vista depois que terminei o liceu. Mas sei que fez anos no passado
dia 24…
Sabia que havia um Dia da Polícia, mas não sabia que era o 11 de Março.
ResponderEliminarMas, o que me apetece realçar neste teu post, é que hoje em dia os polícias são muito melhor formados e uma resposta dessa já não ocorreria. Continuam a bater como dantes, mas são mais educados. E há umas mulhere polícia que são mesmo giraças!
Enfim, a nova polícia também é uma conquista de Abril
Beijinho
O Carlos P?
ResponderEliminarDeu em policia, já se vê
Pois eu não sabia, não,do Dia da Polícia rrss
ResponderEliminarDorme bem
Estimada Amiga Graça Sampaio,
ResponderEliminarTempos que já lá vão.
Eu como políia aposentado, nunca festejei o dia da polícia, nós da Polícia Marítima tinhamos o nosso dia e os da PSP o deles.
Mas os pol+icias tem dias bons e dias maus, quando andam assim uniformizados estão aborrecidos, pois dá muito trabalho usar esses uniformes.
Adorei o relato de sua juventude e com polícias pelo meio.
Abraço amigo
Parabéns por essa memória decorativa.
ResponderEliminarPor acaso também não perco um aniversário dos meus amigos e familiares, mas socorro-me de uma agenda de 2008, onde registei essas datas em cada dia.
Mudam os dias de semana mas as datas de aniversário mantêm-se as mesmas.
Uma bonita crónica do tempo.
Também eu tenho imensa facilidade em fixar datas...é uma pancada ,será ? Até sabia do dia da polícia.M.A.A.
ResponderEliminarAqui em frente da casa da R. onde estou "de serviço" há uma esquadra da PSP e não dei por nada...
ResponderEliminarSe calhar já não há fardas de gala...só de galos emproados que escrevem roteiros da treta! :-))
Boa memória e boa narrativa!
Abraço
Boa memória, digo eu, com inveja.
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ResponderEliminarNão sabia, mas fiquei a saber! :))
E imaginei detalhes. :)))
Beijo
Laura
A propósito de memória, aliada ao 11de Março, lembro este dia em 1975quando as forças armadas estiveram em confrontação junto ao Ralis, na Portela de Sacavem, confesso que tive algum medo...
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ResponderEliminarMas que boa memória!...
A minha é mais para números...
Um destes dias, quando, numa loja dei, de cor, o meu contribuinte, o empregado esboçou um sorrisinho irónico e perguntou-me se era mesmo o meu número ou o do primeiro ministro. :)