A geração da perna de galinha

Decerto conhecem a alegoria do homem que nunca comera uma perna de galinha. Nado e criado nos anos da ditadura, dizia ele que nunca comera uma perna de galinha. Quando era miúdo e lá em casa havia arroz de galinha, a perna era sempre para o pai, o chefe de família. Depois, quando foi pai, e já em liberdade, a perna de frango era sempre para o filho. 

Eu sempre soube que pertenço à geração da perna de galinha. Não na verdadeira aceção naturalmente, porque, criada com a minha avó espanhola, ela nunca me deixou sem perna de galinha. Mas porque em criança e jovem sempre tive de fazer o que a minha mãe queria e mandava e agora vejo-me forçada a fazer o que as filhas acham que eu devo fazer… Não pertenço à geração rasca, nem à geração à rasca porque isso é para a gente nova, mas pertenço à geração da perna de galinha.

Hoje a minha filha mais velha chegou cá (o almoço ao domingo é cá em casa e em família) e disse que tivera a ver as fotografias da manifestação em Leiria que eu pus ontem no blog e logo declarou, perentória, que o meu blog estava uma seca, só política, só política. Que gosta mais de blogs generalistas. Eu ainda contrapus que até ponho muita poesia e música e assim, mas ela que não, que estava um blog muito revolucionário. Que queres? Eu sempre fui revolucionária! Queres que eu ponha o quê, homens nus?! E ela: Olha, por exemplo! E o marido dela: E se forem pretos, ainda melhor, que a menina gosta mais…

E como pertenço à geração em que as mulheres deviam obediência a todos e a cada um e em que eram educadas para fazer vontades também a todos e a cada um, aqui estou eu a fazer a vontade da menina…

E este em branco, que dizem?!

Meninas, manifestem-se e...

Boa semana!