Ainda me lembro da primeira vez
que fui ao Alentejo. Foi na primeira metade dos idos de sessenta. O meu pai
teve de ir a Aljustrel em trabalho e lá fomos nós, num sábado ou num domingo de
muito sol, numa carrinha Volkswagen lá do serviço, daquelas a que agora
estupidamente chamam de “pão de forma”, com picnic e tudo, que naquele tempo
não abundavam os restaurantes por esses caminhos de Deus, nem o dinheiro…
Foi uma viagem demorada – todas eram,
nesse tempo – mas superdivertida como era tudo nesse tempo desde que o meu pai
e a minha mãe estivessem bem-dispostos. Retenho, desse passeio, o calor, a
quantidade de árvores ao lado das estradas e a planura amarela, uma imensidão
amarela que corria dos lados da carrinha com algumas árvores baixas tão quase tão
perfeitas como as que o meu professor de Desenho pintava sobre o papel fabiano
e que iam rareando à medida que viajávamos para sul.
Tirando o meu primeiro encontro
com um sardão bem verde que se bronzeava em plena planície amarela (animal que
muito e para sempre me horrorizou, diga-se de passagem) fiquei a amar aquelas
paisagens que me pareciam a perder de vista com o seu as suas searas de tom Van
Gogh.
Contam-se pelas muitas dezenas as
vezes que atravessei o Alentejo, região que sempre nos surpreende com
tonalidades diferentes de acordo com a estação do ano. Em Abril começam a
aparecer os amarelos misturados com o branco e o lilás, depois pintalga-se com
o encarnado das papoilas, no verão todo ele é girassóis e no fim das ceifas
regressa ao vermelho barro para depois ficar vestido de outono.
Mas nunca como desta vez o vi
verde vivo e vibrante de água. Os campos verdes, verdes (não Minho, que esse é
inconfundível) mas verde vivo marejado em água. Deslumbrante como sempre mas
numa toada diferente onde, todavia, não faltava a passarada e os ninhos de
cegonhas.