sábado, 11 de abril de 2015

Ensinem esta gente a falar português!

Anda meio mundo por este «jardim à beira-mar plantado» a bater no acordo ortográfico de 1990 por causa de menos um p ou menos um c que nem se pronunciam inventando mentirinhas e falácias como aquela patetice do «cágado» e do «cagado» (porque a ignorância é tanta que nem sabem que as esdrúxulas são todas obrigatoriamente acentuadas) e ninguém se preocupa em ensinar esta juventude a falar convenientemente.

Hoje telefonei para um restaurante que vende refeições para fora a fazer uma encomenda para um quarto para uma e diz-me a menina que me atendeu lá do outro lado: «então isso é para as 12 e 45, não é?» Depois de lhe parecer que eu estaria a falar chinês, acabei por lá chegar à hora marcada (fosse ela qual fosse…) e nem pedido havia registado! Mas isso é outro assunto que nada tem a ver com o conhecimento da língua portuguesa…


(Casa da Música - foto de F. Mendes)

Ontem, como toda a gente sabe, celebraram-se os dez anos da inauguração da Casa da Música e a TVI, numa iniciativa muito louvável, juntou-se às comemorações fazendo um acompanhamento próximo, divulgando o espaço, a sua construção, concertos, como os visitantes são conduzidos pela Casa por guias que vão mostrando e explicando o que deve ser conhecido. Muito bem! Quando lá fui há cinco anos, infelizmente ainda não havia este serviço. O pior foi ver uma jovem guia, que parecia bem conhecedora e bem desembaraçada, dirigir-se ao grupo de visitantes por «Vocês»… Apanágio da gente nova e dos vendedores que levam «injeções» de marketing à americana, ninguém lhes diz que o tratamento por «você(s)» não deve ser utilizado com pessoas que não conhecemos – é extremamente indelicado!!

Isto para não falar na «perca» (que não do Nilo, mas de oportunidades ou de direitos) ou no «houveram» com que os “nossos” bem-falantes políticos nos brindam constantemente, ou na avalanche de termos americanos infiltrados por via das ciências da gestão e sem os quais parece que já ninguém consegue viver.


É que a nossa língua, a dita «língua de Camões» com que toda a gente enche a boca para enfatuadamente atacar o pobre do acordo ortográfico de 1990, não precisa de infiltrações americanas porque é rica e plástica de mais! O pior é que também é difícil de mais e muitas dessas pessoas não a conhece bem.


(Casa da Música - Reflexos - foto de F. Mendes)

35 comentários:

  1. São como os jovens canadianos que nos tratam por “you guys”. Fico pior que estragada mas não digo nada quando uma empregada de restaurante, por exemplo, nos pergunta: Are you guys ready to order?” Já devia estar há muito habituada mas como estou noutro grupo etário ainda fico um pouco incomodada.
    Não me incomodo, porém, quando os amigos dos meus filhos me tratam pelo nome próprio. Fazem-no desde crianças. Até as miúdas de 5 e 7 anos dos meus vizinhos me tratam assim.
    Mesmo pessoas que não nos conhecem: ao telefone, funcionários de lojas, etc etc... americanices!!! : )))
    Quanto ao acordo ortográfico... bem... adotei-o há muito. Nesta altura do campeonato não percebo por que tantas pessoas teimam em continuar a escrever “como antigamente” quando foi implementado oficialmente. Por esta ordem de ideias deveriam escrever “mãi” como a minha mãe aprendeu; ou então pharmacia! Não era assim que se escrevia?
    Bjos

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    1. Com certeza, Catarina! Hei de trazer um texto muito bom sobre o que o Saramago dizia acerca dos acordos ortográficos!

      Quanto a tratarem-me pelo nome, não me importo nada: até dizia aos alunos que podiam fazê-lo. Nas aulas de inglês tratavam-me por Carol - era muito giro!

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  2. ~ Estou abslolutamente de acordo contigo e considero
    a tua excelente crónica muito pertinente e pedagógica:
    um apelo à inovação, mas também, ao rigor e estudo.

    ~~~~Bjs~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
    ~

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Graça, sem querer contrariar aquilo que escreves-te, deixa-me só dar a minha modesta opinião a respeito de se falar em bom ou mau português, independentemente de se concordar e usar o A.O. ou não.
    Quando se diz "um quarto para uma ou uma menos um quarto", ou 12 horas e 45 minutos, não me parece que isso tenha a ver com bom ou mau português. Acho que é mais uma questão de 'regionalismo' ...Aqui no Porto, por exemplo, a maioria das pessoas quando quer dizer 12:30,. ou meio dia e meia hora, como eu costumo dizer, diz simplesmente MEIA HORA, sabias?

    Isso de um/a cicerone se dirigir a um gripo de visitantes, seja em que parte do país for, usando "vocês" faz-me lembrar os ensinamentos da minha Mãe que nos dizia, que Você é "estrebaria"...Já agora...tenho lido por essa blogosfera fora muito boa gente usar essa forma indelicada de se dirigir a outrem...e não falo nos brasileiros. Tratamento que lá é corrente; são portugas, mesmo!

    Por outro lado já se vulgarizaram uma série de palavras com as quais não concordo e já as ouvi da boca de locutores da televisão. Uma delas é " `líderes" quando se deve pronunciar «lideres» e outras que de momento não me ocorrem.
    Isso da 'perca' (perda) e do 'houveram' (houve) mesmo se falarmos no plural, já são outros quinhentos...como dizerem prencípios em vez de princípios, e olha que são muitas pessoas que o dizem.

    Tu, como professora, embora não estejas no activo, sentes que é tua obrigação a adesão ao novo A.O., já eu, embora reconheça a inutilidade de escrever consoantes que não se pronunciam, não quero nem vejo interesse - já tenho ouvido dizer 'enteresse' - em aderir, porque, pura e simplesmente, as palavras me parecem estranhas.
    Concordo que se todos pensassem assim, ainda hoje se escreveria farmácia com ph....
    Não pretendo ser mais papista que o papa, mas considero que todos temos direito à nossa opinião e não creio que a não adesão ao acordo ortográfico seja um atentado à nossa bela Língua de Camões...:)

    Janita

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    1. A questão das horas não é uma questão de bom ou de mau português. É uma questão de entender o que se diz e os meninos acham uma maçada dizer as horas sem ser pelos relógios digitais que são os únicos que conhecem... Quanto aos regionalismos do Porto e do Minho conheço-os bem porque toda a família do meu pai era de Barcelos.

      Não é por ter sido professora que me sinto obrigada a adotar o acordo de 1990; é porque aprendi linguística e sei que estes ajustamentos na ortografia dão-se mais ou menos de 50 em 50 anos e outras coisas que não vou estar para aqui a "desbobinar"....

      Beijinhos, Janita e obrigada pela tua opinião.

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  5. "Vou continuar a escrever como escrevo hoje. Não vou querer estar a ir constantemente ao dicionário ver se se escreve com "c" ou não. Os revisores encarregam-se disso. Isto vai até 2015, creio, e vamos ter de actualizar dicionários. Agora que eu tenho 85 anos não vou sentar-me outra vez no banco da escola primária para aprender a escrever. Isso faço eu. Há uns apêndices que caem para outra pessoa, neste caso o revisor, que se encarregará de limpar a prosa."

    Até nessa coisa a que chamam acordo sou saramaguiano.

    Ah! lembra-se do poema do Rogerito?

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    1. Claro! Gosto muito dos escritos do Rogerito....

      Hei de trazer um texto sobre o que o nosso Nobel achava do acordo que mostra bem aquela lisura com que ele sempre dizia as coisas. E ele era brilhante a dizê-las - e a escrevê-las!

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  6. Olhe, Graça, aquilo a que se refere é gramática, não é ortografia, e deve andar muito distraída para não perceber que o AO que, pelos vistos, tanto estima, não se limitou a eliminar cês e pês, mas eliminou acentos e hífenes, com incongruências e "soluções" completamente ilógicas. Mais, originou novos erros ortográficos que andam por aí nos meios de comunicação social, nas instituições, nos sites do Governo, no Diário da República. O próprio texto do acordo é ambíguo em várias passagens, o que nas cabeças menos informadas terá o seu efeito. Além disso, o AO veio aumentar a incerteza e insegurança ortográficas, originando fenómenos de hipercorrecção e erros por analogia (por via, sobretudo, das grafias facultativas e inconsistências de palavras cognatas). Repare neste já corriqueiro "excessão" (por confusão com "exceção") que já era comum no Brasil e que por cá já se faz notar (http://goo.gl/Ufw6vk).
    Não basta dizer que o AO é a quinta maravilha do mundo, há que conhecê-lo, mas tudo aponta para que seja a pior das "maravilhas". Informe-se antes de escrever, sim?

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    1. Meu caro RH (negativo?), eu não aprecio o acordo de 1990! Aprecio-o tanto como o de 1945 ou outro qualquer anterior. Agora, sei que a língua é um organismo vivo, sistémico, em constante expansão e que a ortografia, que tem de deixar transparecer a pronúncia e que, portanto, tem de se adaptar.

      E, já agora, eu não baralho a gramática - ou queria V. dizer a morfologia com a ortografia, meu caro! Limitei-me a citar uma brincadeira que corre nos mails...

      Obrigada pela sua opinião, mesmo assim.

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    2. RH neutro e objectivo. Então se não aprecia o AO, pare de o defender invocando questões de gramática que nada têm a ver com ortografia. E sim, a língua é um organismo vivo e dinâmico, mas isso não quer dizer que se lhe possa fazer tudo. É, acima de tudo, uma ciência e não foi tratada como tal pelo AO. E não, a ortografia não tem que deixar transparecer a pronúncia, porque no Norte se fala de forma diferente do Sul, do Centro ou das ilhas, e a ortografia deve ser transversal a essas várias pronúncias, caso contrário não havia uma ortografia da língua portuguesa.
      Uma vez mais, informe-se antes de escrever, sim? Passe bem.

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  7. Bom a verdade é que eu só tenho a quarta classe. Mas antigamente era raro dar um erro. Hoje escrevo no Word, certas palavras aparecem com erro. Faço a correcção, e quando a escrevo no blogue dá-me novamente erro e tenho que a corrigir ficando escrita da mesma maneira. Exemplo. Correcção. Quando a escrevo no Word, manda-me retirar o c. Mas quando a escrevi aqui no comentário deu-me o erro e manda-me por o c. Já não sei bem como se deve escrever.
    Um abraço e bom domingo.

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    1. Elvira, minha querida, não se preocupe com os «erros»! A meina escreve muito bem e já não tem de ir fazer os exames do (C)rato, portanto....

      Beijinhos

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  8. ~
    ~ ~ ~ I n c r í v e l !

    ~ ~ Como ribombam os «Velhos do Restelo»!

    ~ ''Erros por analogia'', como se não fossem praticados desde sempre!

    ~ Que argumento mais inconsistente para refutar o alijamento que o AO efetua na aprendizagem da ortografia, deixando espaço para a gramática, como «Estudo do Funcionamento da Língua» que, note-se, inclui a etimologia.

    ~ Há pessoas que são assim - carentes de visão - apenas conseguem enxergar a situação algo confusa de transitoriedade! Arraigadas que estão a hábitos rotineiros, são incapazes de avaliar os benefícios para as gerações futuras.

    ~ A confusão gerada provém da debilidade de governos que receiam perder votos, pelo que, não deram a devida força à lei. Quando tal acontecer, tudo se resolverá.
    ~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

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    1. Divirta-se (a sua ignorância não irá gostar): https://www.facebook.com/TradutoresContraAO90/photos_stream

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    2. RH

      Obrigada pelo link. ( sei que o não deixou para mim, mas adorei! )

      Gostei tanto, que copiei a imagem e palavras do cantor/compositor Fausto, para levar para o meu cantinho.

      Peço desculpa à Graça mas não tinha outra forma de o contactar.

      Graça, não leves a mal!
      .

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    3. Ora, porque haveria de levar a mal? Sou por de mais liberal nestas (e noutras) coisas, Janita!

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    4. O/A RH (negativo e bem!) manda-me esse link para quê? Que tenho eu a ver com os tradutores? Quanto à minha suposta ignorância, senhor(a) RH, teria muito a ensinar-lhe.... (se bem que esteja sempre disposta a aprender...) Passe bem!

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  9. Amiga Graça, acho que é básico haver educação na forma como tratamos as pessoas.
    Quanto à escrita, escrevo como aprendi e sinceramente não tenho paciência para escrever de outra forma.
    beijinho e boa semana

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    1. Claro, Fê! E ninguém te obriga!!! Já não tens de ir fazer os exames nacionais...

      Beijinhos

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  10. Várias vezes ao dia me arrepio, me irrito, de indigno com o modo como esta nossa bela língua está a ser usada por quem tinha obrigação de a falar correctamente - isto é, todas as pessoas com a escolaridade obrigatória...
    E isso, Graça, nada tem a ver com estar-se ou não de acordo com o NAO!

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    1. Claro que não!! Só que se está a dar demasiada importância ao AO e a desprezar o essencial.

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  11. Estou de acordo com o que escreve.
    Detesto , odeio ser tratada por você e em Espanha ...por tu , mas aqui não há nada a fazer.
    M.A.A.

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    1. Mas Espanha, sê espanhol, M.A.A. .... Agora cá, não se tolera!

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  12. Fizeste-me lembra a jovem que insistia que a carne era "mal", média" ou "mal" passada e que não havia nenhuma "medianamente" ....mesmo depois de eu lhe explicar o termo!

    Boa semana ...

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    1. Eheheheheh...... é tal e qual! Têm tão pouco vocabulário que não entendem o que se lhes diz!

      Beijinhos

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  13. Não tolero esse "vocês". É muito incomodativo, mas nunca o associei a um mau português. Antes, a uma grande falta de educação.

    Beijinho

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    1. Grande falta de educação e falta de ensinamento sobre os níveis de língua e as formas de tratamento.

      Beijinho

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  14. Eu não utilizo o AO. Acabarei por ser vencida por ele....
    Detesto o Vocês e devo dizer-lhes que há bem pouco tempo ouvi um "voceses" ( nem sei como se escreve)
    Há uma grande diferença entre o AO e a boa educação....
    xx

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    1. Claro!! Nem eu pretendia confundir uma coisa com a outra.... «Voceses» então é de mais.....

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  15. Já escrevo com o AO, embora também ainda haja palavras que me parecem estranhas. E, se calhar, acabo por dar alguns erros, misturando a velha e a nova ortografia... Será uma questão de hábito. Estou convencida de que com o tempo acabará a controvérsia.

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  16. Daremos todos, Luísa! Todos daremos «erros» mas acabaremos por entrar no modelo. Assim aconteceu com o AO de 1945 e certamente com os anteriores.

    Beijinho

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  17. Graça, não podia estar mais de acordo consigo. O Novo Acordo afeta um número diminuto de palavras (1,6%). Podemos discordar e todos têm direito à sua opinião. Mas o que mais me aflige são realmente os erros ortográficos com que nos deparamos diariamente, muitas vezes vindos de pessoas que se dizem defensoras da língua portuguesa e, por conseguinte, se opõem contra o Novo Acordo.
    Um beijinho para si

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