A Comunidade dos Países de Língua
Portuguesa (CPLP) fez
quinze anos e recebeu – nem sei como! – uma prenda do governo português: um
palácio para aí instalar a sua nova sede em Lisboa. É o Palácio Conde de
Penafiel, onde funcionava o Ministério das Obras Públicas, construído sobre o
edifício do Correio Mor o qual foi destruído pelo terramoto de 1755. Está
situado bem no centro, numa das encostas do Castelo de São Jorge.
A
inauguração, feita pelo presidente da República, contou com a presença do
vice-presidente de Angola, do PM português e dos ministros dos Negócios
Estrangeiros de todos os países, o que, naturalmente, deu lugar a discursos.
Ora
eu só trago este tema aqui porque, como convém a qualquer reformado, estava de
televisão acesa a meio da manhã e assisti a um programa da SIC Notícias que deu
destaque a este evento, abrindo de seguida um espaço para intervenção do
público em geral. Não tenho muita paciência para ouvir essas discussões a maior
parte das vezes ocas e bacocas, mas ocupada que estava com as lides domésticas,
deixei-os falar.
Exceções
à parte – poucas – é verdadeiramente confrangedor constatar a ignorância, o egoísmo
e a tacanhez de tantos de nós. Mais que um dos intervenientes afirmaram que a
CPLP não servia para nada porque aqueles países em nada nos podem ajudar. Outros
quiseram comparar – depreciativamente, claro! – a CPLP à Commonwealth. Só se
esqueceram que a Commonwealth começou a desenvolver-se há mais de cem anos
enquanto a CPLP tem quinze curtos anos além de que tem objetivos algo
diferentes. O dislate é igual quando se quer comparar – e estamos sempre a
fazê-lo – o grau de educação e de instrução do nosso país com o de países como
a Suécia ou a Finlândia – só nos esquecemos que nesses países há cem anos quase
não havia analfabetismo, enquanto por cá, a taxa de analfabetismo há cem anos
era de 70% ou mais. Uma pequenina diferença!
Alguns
intervenientes queixaram-se da introdução do novo acordo ortográfico, mas a
parvoíce máxima ouviu-se da boca de um qualquer ilustre cidadão daqueles que
sobram por aí e que sabem discutir de tudo um pouco, que lamentou “estarmos a
desistir da nossa língua”,” estarmos a deixar de falar a nossa língua, a língua
de Camões” [sic], que “ a pior coisa que se faz foi o acordo ortográfico”, que
só se fez “para dar graxa a esses países dos PALOP” [sic].
As
disciplinas de linguística que tive na Faculdade – e já foi há muitos anos –
não me dão o conhecimento suficiente para afirmar que este é o melhor acordo
que se poderia ter feito, mas deram-me o conhecimento mais que suficiente para
saber que a língua é um organismo vivo, que se deteora com o uso, que se
altera, que se modifica, que se deixa influenciar com o contacto com outras
línguas e com outras formas de falar. E que, de vez em quando há que parar para
lhe introduzir algumas alterações que se tornam norma. Também sei que, sempre
que isso acontece, os falantes que aprenderam a usar a língua de determinada
forma, reagem às mudanças e “recusam-se” porque lhes custa aceitá-las. Foi
assim no início do século XX; foi assim nos anos 40; foi assim, mas menos
porque as alterações aconteceram mais ao nível gramatical, em 1967.
Pensará,
por ventura, aquele ilustre cidadão que atrás referi que a língua em que Camões
escreveu a sua extraordinária obra – que duvido que ele conheça minimamente –
era exatamente a mesma que se usa atualmente quer seja anterior ou posterior ao
novo acordo?
"As línguas desenvolvem-se, evoluem, alimentando-se de outras. A língua portuguesa, em particular, recolheu palavras do mundo inteiro...
ResponderEliminarO milagre é que esta língua seja tantas línguas, que tantas línguas sejam uma só língua".
Aqui vai um exemplo
http://www.youtube.com/watch?v=6yCAguhsnXs&feature=player_embedded#!
Por a língua ser um organismo vivo é que tenho a certeza que cada comunidade linguística a irá usar de acordo com o contexto geográfico, económico, social, cultural onde está inserida.
ResponderEliminarNão há normativos que resistam aos usos!
Ninguém consegue legislar sobre a dicção e aí começa logo a diferença!
E que diferenças tão interessantes e originais existem entre os falantes do português!E ainda bem!
Eu não morro de amores pelo NAO, não por ser retrógrada mas por ser realista tanto mais que nem houve uniformidade de critérios face às dificuldades encontradas.
Daqui por uns anos, como dizes, estaremos de novo com estas discussões!:-))
Com NAO ou sem NAO em português nos entendemos ...ou NÃO!:-))
Abraço
Não me repugna muito, ou mesmo nada que se alinhe pelo português falado no Brasil, pois é daí que vem a influência para a alteração.
ResponderEliminarEntendo que em determinadas circunstâncias eles defendem melhor a língua portuguesa que nós próprios. No primeiro mandato do presidente Lula, foram mandados tirar todos os estrangeirismos (não sei da eficácia da medida), que colocavam em causa a língua portuguesa, cá usam-se tantos que por vezes nem entendo do que se está a falar.
Confesso que resisti à mudança, e muitas vezes tenho vontade de não mudar.
Quando eu frequentava a 2ª ou 3ª classe,foi retirado o trema de palavras como: frequente.Esse facto provocou um enorme estremeção nos profs.Lembro minha Mãe que,Prof. do Ensino Primário,(não primária)dizia aflita:como é que as crianças vão ler esta palavra sem o trema?Afinal,tranquilamente (sem trema)ninguém se enganou e, poucos,a não ser dinossauros como
ResponderEliminareu,se lembram daquela mudança que,a par de outras de que não me lembro agora, foram decretadas.Parece-me que se confunde levianamente Língua com registo gráfico da mesma quando se levantam vozes contra os atentados à Língua Portuguesa por via de alterações do respectivo registo gráfico.Mas eu sou ninguém como o Romeiro do outro. Kinkas
Ainda bem que gostas e estás convencida que é bom, mas se o acordo fosse tão bom como apregoas e tivesse surgido da evolução natural da língua e não tivesse sido pensado por pessoas sentadas à secretária na comodidade dos gabinetes não criava dupla grafia como este cria. Uniformizava, porque uniformizar parece-me o objetivo principal deste acordo, que uniformiza muito pouco.
ResponderEliminar"OpiniÃes"!!!!
Não sou a favor do acordo!
ResponderEliminarQuerida hoje não estou muito bem foi à pouco a cerimónia da cremagem de um grande amigo.
Beijinho muitogrande
Ainda voltei só para dizer que estou plenamente de acordo com o conceito de Língua exposto pela Rosa.Lembrei entretanto que a palavra "desapontado"foi introduzida no Português por Garret,que a trouxe depois da sua estadia em Inglaterra.
ResponderEliminarQuem se lembrará de castigar o escritor banindo-o como incompetente?Provavelmente o Graça Moura.Kinkas
Boa, querida Kinkas! Só mesmo tu!
ResponderEliminarIsabel, como querias tu que se fizesse um acordo sem ser à secretária? Seria impossível fazê-lo por aclamação popular!
Olhem queridas amigas (ex)professoras de Português, o que eu acho um disparate do tamanho do castelo é a TLEBS (a nova nomenclatura gramatical) que considero ser a morte por asfixia da gramática junto dos alunos. Um disparate pegado. Mas eu também sou como o Romeiro: "Ninguém!"...
Beijinhos.
Já adotei a escrita do novo acordo desde o ano passado. Isto de escrever de umas maneiras nuns sítios e à "antiga" noutro, só por mera teimosia, presta-se é a confusões! :)
ResponderEliminarDizer que estive de acordo com o acordo, não é verdade: tal como a Rosinha indica a língua é viva e vai mudando no tempo e no espaço, conforme os seus falantes e escreventes. Logo, "engenharias linguísticas" destas, feitas em gabinetes de "iluminados", dá mau resultado. O objetivo em si era bom, o de dar mais visibilidade à língua portuguesa no mundo.
Acontece que o "novo" acordo, data de 1990! Portanto, acho completamente irrelevante, 22 anos depois, ainda estarmos a discuti-lo!
Mais ainda que VGM, que sempre o desaprovou, tenha o atrevimento e a prepotência de obrigar a instituição portuguesa a que preside de seguir os seus ditames, em vez do tratado internacional já ratificado por Portugal. E aí os atuais governantes mostraram a sua verdadeira faceta - uns podem ter estas atitudes ditatoriais, outros não! Se é um boy, pode... :P
Desculpa, mas esta cambada repugna-me completamente!
Beijocas!
Bom
ResponderEliminarquanto a mim
A CPLP é mais que uma comunidade linguística. A CPLP devia integrar um plano B... A última coisa que nos podia acontecer era agora estar a discutir um acordo ortográfico...