terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Catarse - ou talvez não


Parte II (continuação - ou talvez não - do texto de ontem)


Tudo fui fazendo dentro das minhas possibilidades e das minhas limitações, com mais ou menos entusiasmo, com mais ou menos resultados. Mas o mais humilhante, o mais ignóbil de todos os “exames” a que me submeti, foi aquela entrevista a que o decreto-lei 75/2008 – diploma cheio de incongruências, diga-se, que denunciei em devido tempo e a quem de direito – obriga no concurso ao cargo de diretor de escola ou agrupamento de escolas. O júri foi o conselho geral do agrupamento que, como sabem, é constituído por representantes de professores, de pais, de funcionários, dos autarcas e da sociedade civil. E a presidente do dito conselho, colega sem a força e sem o saber necessários para “ter mão” numa assembleia daquelas, deu todo o poder da entrevista a um paizinho (desculpem a ironia, mas é mesmo um paizinho: pequenino no tamanho físico e não só) só porque tem uma daquelas licenciaturas em gestão, de recursos humanos ou coisa parecida. Digo-vos: coitados dos recursos humanos que se veem obrigados a ser geridos por ele, que deve ser um pequeno ditadorzinho daqueles que estão a aparecer nos tempos que correm. O senhor já tinha decidido (porque tudo fora pré “cozinhado”) que o diretor do agrupamento não ia ser eu e, por isso portou-se da forma mais deseducada e pequenina (tão pequenino como ele) que podem calcular: bocejou, fechou os olhos, deixou cair a cabeça, enquanto eu falava e “embirrou” com a minha forma de falar sobre “liderança” – um daqueles conceitos americanos que tanto gostamos de importar, como “assertividade” e “mediação” e “sinergias” e “benchmarking” e análises SWOT e sei lá o que mais que o senhor gestor de recursos leu nos livros lá no ISLA ou não sei onde. 

 Bom, mas o paizinho gestor decidiu convencer parte do grupo que o outro candidato, muito menos experiente e menos habilitado para o cargo, é que era o tal da liderança!


 

E o tal da liderança é o que, entre muitos outros desastres de que eu talvez venha a falar aqui, já promoveu acareações entre pais queixosos e professores apontados pelas queixas, tomando o partido dos pais, naturalmente; é o que atafulhou o pavilhão gimnodesportivo com mobiliário antigo vindo da secundária requalificada; é o que – espante-se! – fecha a Biblioteca durante três dias durante a Semana da Leitura que foi marcada a nível concelhio para lá receber os senhores inspetores da avaliação externa; é o que – espantem-se ainda mais! – vai realizar a Feira do Livro da escola, que é uma tradição das boas daquela escola desde os idos de 80, da forma mais invulgar e disparatada: os alunos poderão, se quiserem, dirigir-se a uma livraria da cidade, que até nem está próxima da escola, fazem prova de que são alunos do agrupamento e têm direito a 15% de desconto nas compras. Para promoção da leitura, diga-se que é, no mínimo, original…

(Desfrutando a Biblioteca)

 Alguém devia dizer àquele paizinho pequenino que, para se der diretor de um agrupamento de escolas – onde há alunos! – não chega saber papaguear umas coisas sobre liderança (e jactância…)  É preciso ter conhecimento, saber de experiência feito, pedagogia, abertura ao outro, entusiasmo no trabalho e, mais do que tudo, sensibilidade para as coisas da educação. E isso, garanto-vos, não vem escrito nos livros de gestão.
  


(Uma verdadeira Exposição/Feira do Livro)




6 comentários:

  1. Oi, Graça!
    Ah! A bendita "verborragia"... na prática, nós educadores, sabemos muito bem que a teoria é outra!!
    Abraço, Célia.

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  2. E assim vai o mundo escolar.O dito senhor pequenininho, nem com a idade que terá, será capaz de emendar o seu desenho.O jarro será desenhado com a asa do lado direito como sempre desenhou e não há cá conversas.A minha amiga,a dos nove anitos,olhou o seu trabalho e emendou-o a tempo,esse pequenininho nunca será capaz de fazê-lo.Nota:não conheço nem quero conhecer o pequenininho da gestão Kinkas

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  3. E assim vai a Educação neste delicioso jardim beira-Atlâtico: graças a DEus, que já estou fora destas tragédias!

    Um solidário abraço


    Ainda não te disse que estás muito bem nesta nova foto?

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  4. Tive o privilégio de ter passado alguns anos da minha vida a lecionar no Ensino Secundário (agora os vários ciclos escolares são outros), de 1966 a 1968 (EIC Leiria), 1969/70 em Nampula (vi-me Grego para dar umas aulitas de matemática que aquela rapaziada não tinha bases nenhumas) e, nos supra-ditos anos 80 voltei, em part-time, ao ensino na Marinha Grande e na actual Escola Secundária de Domingos Sequeira.

    Fiz parte da 1ª Direção da Associação de Pais da Escola da Gândara (fui o 1º Presidente da Direção).

    Mas nunca me vi envolvido numa situação como a que descreve, Graça.

    Uma desgraça, pelo que conta e eu acredito piamente.

    Um abraço
    ps.:
    anulei o comentário anterior porque a rever dei por que tinha escrito que lecionei em Leiria, 1966 a 1068. Ainda ficavam a pensar se já alguém teria inventado um inversor de tempo!

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  5. Obrigada, São(zita) pelo "piropo"...

    Querida Kinkas, entendes-me, não é? Obrigada. Mas tu conheces o "paizinho" - ele é uma figurinha da cidade...

    Obrigada, António, pela compreensão.

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