sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Público e Privado




Aqui há semanas foi a falácia do ranking das escolas. Que as escolas privadas é que se colocam nos primeiros lugares do ranking; que as escolas públicas só aparecem no segundo dígito da escala; que não se ensina nada de jeito na escola pública; que os professores da escola pública não se esforçam porque não são escolhidos por uma direção forte; que na escola pública não se pratica um ensino de qualidade por causa do bendito eduquês que tanto jeito dá ao ministro (C)rato e aos pseudo-elitistas deste país com forma de província; etc. etc.

Hoje foi a falácia de que cada aluno no ensino privado fica 400 euros anuais mais barato que no público. E é que não houve jornal nem telejornal que não embandeirasse em arco e enchesse os títulos e os ecrãs  com a poupança que o estado faz com a educação no privado. E que fácil é convencer o público em geral que o privado é que é bom! Senão vejamos: os alunos aprendem mais e têm melhores resultados nos exames, são muito mais educadinhos, estão muito mais seguros dentro das suas escolinhas e até os levam a casa de autocarro e ainda por cima ficam mais baratos ao estado! 

Então porque não se privatiza toda a educação em Portugal? Com tantas vantagens parece ser  a escolha ideal. E, ainda por cima, está dentro daquilo que o senhor ministro (C)rato e o seu  governo no todo defendem. Claro que depois não sei quem daria resposta aos alunos que não têm sucesso, aos alunos portadores de deficiência, aos alunos que escolhem trajetos alternativos sejam artísticos, sejam pré-profissionais, sejam profissionais? Quem daria resposta aos alunos que são expulsos ou que nem sequer “apresentam perfil” para sequer serem admitidos nos colégios? Quem daria (ou deverei dizer: quem pagaria?) apoios a todos estes alunos que não se bastam nas turmas ditas normais de meninos filhos de algo de que se alimentam os colégios que ganham os primeiros lugares dos rankings?  É que estes (muitos, muitos) alunos é que encarecem em muito a educação. É a escola pública (despesista) que tem os recursos humanos necessários e bons para dar resposta a todos e não só a alguns alunos. É a escola pública (despesista) que não só “recolhe” aqueles que são sacudidos para fora da (poupada) escola privada como nunca os sacode de si. É a escola pública (despesista) que, apesar das recentes mudanças, tem regras estritas de respeito pelo trabalho de professores e de funcionários, o que não acontece – e eu sei do que falo – em muitas das (poupadas) escolas privadas.

Seriam estes esclarecimentos – e outros – que os jornais e os telejornais deveriam acrescentar às notícias sobre os rankings e sobre as comparações entre os gastos da escola pública e os da escola privada se quisessem prestar uma informação séria.

13 comentários:

  1. Estimada Graça Sampaio,
    Ouvi ontem através do canal RTPi a informação sobre os gastos no ensino do estado e do particular, mas esse estudo é referente a 2008, não sei quem estará certo ou errado, só pessoas abalizadas e dentro do assunto se proderão pronunciar.
    Cá em Macau existe a Escola Portuguesa que é subsidiada por várias entidades.
    Abraço amigo

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  2. Boa malha!

    Hoje, ao jantar, argumentei mais ou menos isso a discutir com o meu genro... ter lido antes tinha-o "esmagado" com os seus argumentos...

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  3. Eu penso que os dados são de 2010...
    Com os cortes feitos penso que nesta altura a diferença será bem menor com a agravante de para o público ficarem todas as crianças e jovens que não têm o perfil adequado (social, económico, cognitivo, comportamental, etc), como dizes.
    Só quem não sabe como o sistema funciona pode comparar o incomparável!

    Abraço

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  4. «Se quisessem prestar uma informação séria», mas não querem!
    Por isso, a tentativa quase constante de branqueamento dos disparates do governo. E então, de escolas (só?), não percebem nada! Será porque outros "valores" mais altos se levantam?

    Bom fim de semana.

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  5. Parabéns pela frontalidade e pelo conhecimento sobre o tema.

    Com sou da tua área e sempre defendi a Escola Pública , pelas razões que tão lucidamente apontas, sei que estás coberta de razão.


    Mas que as crianças só recebidas da Escola Pública fiquem sem apoios e sem instrução não é coisa que importe a estas criaturas , pois o seu pensamento filia-se no do ministro do Estado Novo que afirmava ser inconveniente o povo saber ler e escrever, porque começava a ter ideias perigosas.Tais como, presumo, exigir liberdade, dignidade e respeito pelos seus direitos.


    Só te faltou dizer uma coisa, que eu acrescento - se me permites: o puxar de notas para cima feito no privado(incluindo a Universidade Católica - donde gerlamente saem estas sumidades que tresandam ódio a tudo quanto é público).

    Um enorme abraço, Graça!

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  6. Não quero saber de números (euros) mas sim de qualidade de ensino.
    Não me apetece andar atrás de 'ranking's' porque são, regra geral, falaciosas e, quantas vezes intencionalmente velhacas.

    O que me importa saber é se o governo, através do Ministério da Educação, está a fazer um trabalho sério.
    E se o ensino está bem ou não.

    No ensino está o futuro.

    Professora Doutora Mestrada Graça Sampaio, os meus cumprimentos.
    :)

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  7. Posso dizer um palavrão, Gracinha?

    Esta gente não é gente. Não pensa.:((

    (é bem pior esta miséria do que o dinheiro que nos roubam!)

    bji

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  8. O que problema é fazer com que o cidadão comum entenda estas contas que, por caminhos errados até parecem certas.

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  9. Parabéns pela frontalidade. Parabéns pela coerência. parabéns por ser tão lúcida e consciente.
    sou sua fã.

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  10. Pois...Com salários mais baixos,tipo escravatura,tás a ver ó Esteves?

    ó sino da minha aldeia.

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  11. Muito obrigada, amigos, pelas vossa palavras tão simpáticas - é que eu estive 40 anos no ativo e sempre a dar muito e a fazer de tudo na escola (pública). De modo que aprendi muito. Como se diz por aqui: foram muitos anos a "virar frangos"!...

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