No dia 16 de Julho de 1879,
Leonor de Almeida, a Marquesa de Alorna, poderia ter descrito assim no seu
Diário, a tomada da Bastilha a que terá assistido.
«O que mais me aflige é a
duplicidade, que me envergonha.
Dividida entre os meus ideais, os
meus princípios e o temor suspeitoso de poder estar a testemunhar o início da
queda do meu mundo, tal como o conheço.
Foi o que senti ao assistir à
tomada da Bastilha,
sem saber como lidar com os meus sentimentos
divididos, diante das emoções tumultuadas do povo exaltado.
Na madrugada do dia treze tudo parecia
ainda amodorrado e duvidoso. Sem nenhuma autoridade civil, Paris aparentava
dormitar, apesar do clima de tensão e os nervos arrepiados, à flor da pele da
noite, numa espécie de furor assombrado e mal contido.
Madrugada brumosa e fria, a
anteceder a manhã luminosa, enganosa, que desponta logo nas primeiras horas do
dia catorze.
Saí afoitada para a rua, em busca
de uma tranquilidade que mais tarde se iria estilhaçar, fazendo com que o clima
aparentemente calmo e amortecido, depressa se transformasse em brasa, enquanto
eu seguia arrastada pelo entusiasmo e a coragem das muitas mulheres que, em
tumulto, corriam gritando ou cantando com uma vontade inquebrantável. Desde esses
primeiros instantes, tão tolhida de medo quanto fascinada pela ousadia
feminina, indómita e corajosa, segui sem relutância o trilho da raiva, da
exaltação e do desespero a que sempre leva a falta de liberdade, a miséria e a
fome.
E acabei diante da Bastilha.
Na noite seguinte, para ir ao
salão da pintora Marie Anne Vigée-Lebrun, escolhi um vestido de seda negra com
rendas altas e nocturnas a cobrirem-me os ombros, os braços e o pescoço, como
se estivesse de luto. No entanto, colocara num dos meus dedos um rubi sanguíneo
encastoado a ouro.
Sentia o pulso apressado como
nunca, e no meu peito, o coração descompassado exultava.»
Paris, 16 de Julho de 1789
(de “As Luzes de Leonor” por
Maria Teresa Horta, 2011)
(se gostarem de romances históricos, de prosa poética e se
tiverem pachorra para ler um livro
com 1050 páginas, aconselho este, indubitavelmente!)
Aparenta ser de boa leitura, e o tema é atraente. Bom, tu acabas argumentar muito bem e de vender melhor a ideia... que remates de venda fazes!
ResponderEliminarGosto deste tipo de leitura mas dependendo dos protagonistas, do tema..
Um grande abraço, ilustre e muito querida amiga
Amanhã é o dia da "debandada" ! :))
ResponderEliminarEncontrei este texto que liga as duas situações (passada e presente):
http://revistaepoca.globo.com/tempo/noticia/2012/07/o-ultimo-sair-apague-luz.html
Cuidado com as redes sociais e com as manifestações exteriores de riqueza ! eheheh
.
Ando para o ler, mas ainda não tive tempo de qualidade para lhe dedicar.
ResponderEliminarBoa semana!
Beijo
Laura
Graça minha querida
ResponderEliminarNão me encontro de momento com pachorra para ler um livro desse calibre, mas faço questão de o ler, até porque já são algumas as vezes que digo "não quero morrer sem ler este livro".
Boa semana minha amiga.
Beijinho e uma flor
Quando for grande tentarei ler livros grandes, mas como sou pequenino...
ResponderEliminar:)
Uma mulher fora de série!
ResponderEliminarEspero que mo emprestes para ver se o leio nos longos serões de Inverno!
Gosto do género mas a quantidade de páginas assusta-me um pouco!
Abraço
Este também quero ler!:)))
ResponderEliminarbeijocas