Já deve ter dado para ver a minha
relação com os animais. Pois é: sofro sempre muito por eles. Herdei (mais) este
traço da minha mãe que, desde sempre, foi defensora de cães e de gatos que
trazia para casa quando os via maltratados. E o pior é que consegui passá-lo para
as minhas filhas, especialmente para a mais nova que me encheu sempre a casa
com animais que apanhava (uma vez trouxe um canário que apanhou no caminho da
escola) ou que lhe ofereciam (cada namorado que tinha oferecia-lhe (mais) um
animal zinho!) E, uma vez, em pleno 6º ano de escolaridade, estava ela a
resolver um teste de Língua Portuguesa cujo texto tinha como protagonista um
cãozinho a quem tinha acontecido já não me lembro muito bem o quê e aí a
rapariga vai de se largar a chorar que nem uma Madalena!... Valeu-lhe a professora
ser daquelas professoras supersensíveis que se apaixonavam pelos alunos (e por
ela especialmente) e por isso as coisas não correram mal…
Tudo isto para vos enquadrar no
espírito mimalho cá da casa, o que explicará, entre outras coisas, a narração desta
história (e de outras a haver) que aconteceu por aqui nas últimas semanas.
Rua de cães e de gatos (e de
ratos também, mas esses, porém, nasceram com outro destino, os pobres) em que
todas as casas têm os seus animais de companhia. O Billy era um deles. Cãozito
rafeiro, branco e castanho, pequenote mas cheio de “atitude” que pertencia a
uns vizinhos pobres, muito pobres mesmo, mas que o tratavam muito bem. Há uns
meses o dono, que há muito estava doente, morreu. O cãozito não ficou abandonado
porque fora já adotado por uma vizinha do dono, atrás de quem ele calcorreava
todas as redondezas. O cão porém ressentiu-se, entrou numa profunda tristeza e
deixou de comer. Lá me disponibilizei a pagar uma visita à clínica veterinária
onde sou por de mais conhecida e o Billy, com os tratamentos e os extremos carinhos
da vizinha que o tinha adotado, lá arrebitou voltando a dar todos os passos que
a dona dava (e não eram poucos já que se tratava de uma pobre mulher
desequilibrada, mas inteligente e sensível, cozida porém pelo álcool e pelos
maus tratos da vida).
Mas por ironia, também esta,
apesar de estar ainda na casa dos quarenta, desapareceu de uma semana para a
outra, quando o seu fígado acabou por ceder às imensas quantidades de bebida
que teve de ir destilando. Além de lamentar a morte da pobre mulher que, não
sei porquê, mostrara sempre uma enorme estima por mim, fiquei preocupada com o
cãozinho. E passei ainda uma ou outra noite acordada a ouvi-lo a ladrar
tristemente como que a chamar pela sua amiga. Depois, deixei de o ver e de o
ouvir e pensei que qualquer outra vizinha tivesse tomado conta dele.
Até que há poucos dias, à entrada
do café aonde vamos todas os dias beber a nossa bica da manhã, vi um cãozinho
perecido com o Billy – mas desses há tantos! – muito bem tratado, lavadinho e
de pelo escovado, agarrado por uma trela presa na árvore fronteira ao café,
todo aprumado, a olhar de olho bem brilhante lá para dentro. Perguntei à jovem
que lá trabalha se aquele não era o cão que andava sempre atrás da L. ao que
ela, muito feliz, me respondeu que sim, que tinha sido ela que lhe tinha
arranjado um novo dono e que estavam ambos muito contentes.
E acrescentou, sorridente: «Esta
semana, já consegui tirar três cãezinhos da rua!»
(Sou mesmo mauzinho)
ResponderEliminarVou ler este post à minha cara-metade sabendo antecipadamente que ela vai chorar.
Ainda bem que esta história teve um final feliz.
:)
Voltei, só para confirmar o que disse anteriormente.
ResponderEliminar:)
Bonita história de solidariedade com os animais nossos amigos, que raramente têm culpa dos donos que lhe calham na rifa. Com bons sentimentos, mas doentes, tristes ou infelizes e que acabam por partir antes do tempo... Vá que cão teve um "final" feliz e esperemos que assim continue! :)
ResponderEliminarBeijocas!
Realmente, uma história comovente, pois apesar de irracionais, muitas vezes, agem de forma mais inteligente que nós, os humanos racionais!
ResponderEliminarBj. Célia.
Que história mais ternurenta...tirando o infortúnio dos dois donos anteriores...
ResponderEliminarO Billy é um cão cheio de sorte e tu também tiraste um peso de cima!
Sei como isso é, já que cá por casa se passa o mesmo!
Admiro o empenhamento de tanta gente a tirar os animais da rua.
Os cães não são como os gatos, não se "viram" sozinhos, precisam mesmo de um dono ou dona!
Abraço
Nem imaginas como fiquei feliz ao ler esta história...
ResponderEliminarBjs
Que história bonita, um lindo final feliz para o Billy!
ResponderEliminarHá tantos cãezinhos assim pelo mundo e é de lavar a alma quando sabemos de uma história que deu certo.
Bjocas
A crónica do cão - ainda a tenho e ainda não chego ao fim - fala de sensações bem conhecidas...saudades de tanta coisa! O José (isto é mesmo genético, só pode) dizia, depois de ver os nossos gatos serem levados para a avó para passar o fim de semana: «Eu não quero ficar sem os nossos gatos», com a maior tristeza...
ResponderEliminarQt aos animais dados pelos namorados, só a coelha Sara Afonso foi de facto pelo namorado; a Helsa, com H, foi o pai dele e a gata Ritinha, que tu adotaste depois do divórcio, foram os quase-sogros... :-) lindo texto pq não acaba em lágrimas, só li pq sabia do final feliz...
O Billy, rafeirinho da história com final felíz, fez-me lembrar aqueles fidalgos falidos, tem nome pretensioso (podia ser um vulgar Piloto, ou Benfica), foi sempre ligado a gente de poucas posses, teve relações com a bebida, mas no fim lá se reconciliou com a vida, e está bem!
ResponderEliminarComo sabes que sou adoptante de cães abandonados (militante), tenho três, já adoptei seis, fico bem em saber que felizmente, por cada besta que abandona o seu animal, há sempre um/uma boa alma que se levanta, e adopta, para lhe proporcionar bem estar para o resto da sua vida. Infelizmente nem sempre calha assim.
Obrigada pelos vossos comentários também ternurentos!
ResponderEliminarCom exceção do menino Rui que e mesmo mauzinho, mauzinho... Mas não para os nossos amigos de quatro patas, que eu sei!
Tenho outra história para contar mas não termina tão bem... (até porque a vida não é justa, nem para nós, nem para os irracionais.)
Beijinhos