E a propósito das fortificações de Elvas, há que deixar também aqui marca da estrela de Almeida, outra das fortificações abaluartadas de Portugal.
No princípio,
eram os castelos, de madeira ou pedra, sempre altaneiros, a impedir a entrada
dos inimigos.
Venciam-se pelo fogo, catapultando para dentro bolas de lume ou ateando as portas. Também pela doença, através do lançamento, para o interior, de cadáveres de vítimas da peste, designação genérica de doenças contagiosas de morte certa. Foi o início da guerra biológica. Por vezes, simplesmente, esperava-se. A fome e a sede levariam os sitiados à rendição. Habitualmente, tomava-se o castelo transpondo as muralhas, com engenhos e escadas.
Mas as
técnicas militares começaram a mudar. Em 1453, os turcos tomaram Constantinopla
usando canhões que “vomitavam fogo”, não os trons usados em Aljubarrota (1385),
que apenas lançavam pedras esféricas.
Esta nova arma tornou os castelos medievais obsoletos, incapazes de resistir ao fogo cerrado do inimigo. Dois ou três disparos bastavam para abrir uma brecha na muralha e permitir a entrada e a conquista. Ficaram para alimentar o nosso imaginário romântico, de príncipes e princesas.
As fortificações tiveram de se adaptar à nova arma. A primeira, em Portugal, foi a parte inferior da Torre de Belém, de influência italiana. Mas seria a necessidade de defesa face a Espanha, após a Restauração de 1640, que obrigou Portugal a construir uma ampla rede de fortalezas modernas, nas fronteiras terrestres e marítimas.
Em vez das muralhas altas dos castelos, fizeram-se muros grossos e baixos, quase a nível do chão, intervalados por fossos fundos e largos, com canhões apontados para o exterior, em todas as direções. No subsolo, escavaram-se abrigos, as casa-matas.
Assim nasceu a fortaleza de Almeida. O velho castelo lá continuou, mas apenas a servir de paiol da pólvora.
Na sua versão final (1747), a praça-forte de Almeida era
uma estrela de 12 pontas, ou seja, um duplo hexágono, com seis baluartes e
outros tantos revelins. É envolvida por um fosso de 12 m de largo, ao longo de
um perímetro de 2,5 km. Guarneciam-na 5000 homens e possuía mais de uma centena
de bocas de fogo de diversos calibres. Dispunha de compartimentos à prova de
bomba, as casa-matas, onde se podia acolher a guarnição e os civis durante os
bombardeamentos, bem como paióis subterrâneos e um hospital de sangue, também
devidamente protegido.
Almeida sofreu importantes cercos em 1762, durante a
Guerra dos Sete Anos e em 1810 por ocasião da III Invasão Francesa. Foi nesta
altura que um tiro dos artilheiros de Massena acertou num dos paióis da praça,
situado no castelo medieval, provocando uma violenta explosão que destruiu
parte da fortaleza e levou à rendição dos defensores (25 de Agosto de 1810).
Entrada do Castelo |
Conhece-se bem o dito popular «Alma até Almeida!» que significa coragem, firmeza de ânimo perantes as adversidades, os reveses, os sofrimentos. Conta-se que esta expressão tem origem no seguinte:
«Um
sobrinho de Junot foi gravemente ferido. A ordenança tentou conduzi-lo ao
hospital mais próximo que era na praça de Almeida, ocupada, está-se a ver pelos
franceses em 1807. Sempre que o esforçado tenente desanimava pelo caminho o
soldado que o amparava dizia-lhe para o animar:
- Alma até Almeida, meu tenente!»
Fontes
Ia para escrever na "postagem" anterior que se assemelhava muito a Almeida no que diz respeito à forma de "rosácea"...sendo esta mais pequena, claro!
ResponderEliminarAfinal é mesmo:
"Alma até Almeida!"
Abraço
Também há estrelas
ResponderEliminarno chão
Não conhecia o ditado nem a fortaleza, mas adoro castelos e acho, até, que fui uma princesa numa outra encarnação. Ou terei sido uma aia e a frustração me tenha acompanhado séculos após ao ponto de gostar tanto do título?:))
ResponderEliminarbeijoquinhas
Graça
ResponderEliminarHá muito que não ouvia esse dito popular, acho que já o tinha esquecido.
Beijinho e uma flor
Gracinha, a menina, já contactou a patrocinadora do prémio que lhe coube, lá no desfio?
ResponderEliminarParece-me que não. ;)
Não te esqueças, sim?
Beijinhos.
Poeticamente você, Graça conta-nos um pouco de uma grande história! Parabéns!
ResponderEliminarBj. Célia.
O que eu aprendi ao ler este post!
ResponderEliminar: )
Abraço
O Doze Estrelo...
ResponderEliminarAcho que as estrelas terão inveja de Almeida
Olá Graça ! :)) Um beijinho grande !
ResponderEliminarAlmeida foi sempre um "lugar" que me despertou o interesse pelo que tinha lido sobre a fortaleza.
Finalmente há cerca de 2 anos passei lá uma noite na Pousada para poder visitar os pormenores do forte. :))
Valeu a pena ! :))
.
Também nós, os portugueses de hoje, temos que ter "Alma até Almeida".
ResponderEliminarPor mim, espero que "Almeida" no nome me possa servir de inspiração para vencer as adversidades da vida.
Oportunos pormenores acerca de Almeida, sucintos e interessantes. Tanta história na História de Portugal!
Alma até Almeida! - é , de facto, aquilo que todos nós temos de sentir e gritar para aguentar tudo isto que se está a abater sobre nós!
ResponderEliminarOlá, Ruizinho da Bica! Gosto de o "ver" de volta e cheio de vida! Já irei visitá-lo!
Manelinha, tem calma que eu já entrei em contacto ontem com a querida Sam!
Agradeço a todos os que gostaram de saber estas histórias de estrelas que nasceram do chão para defesa do território. Eu gosto mesmo de História, em especial da nossa.
Beijinhos especiais à Princesa Nina!...