sexta-feira, 13 de julho de 2012

Histórias da minha ida à Caixa


Foi há mais de trinta anos que tive de abrir conta na Caixa Geral de Depósitos para poder receber o vencimento quando este deixou de ser pago em dinheiro na secretaria da escola mediante assinatura naquelas folhas enormes que depois eram integradas em livros também enormes. Lembro-me que abri a conta com cem escudos…

Mas nunca fiz da CGD o meu banco. Todos os meses desde então me dou ao trabalho de transferir o vencimento para o meu banco de sempre e na caixa ficavam (quando havia…) os subsídios de férias e de Natal, eventuais ajudas de custo, dinheiro que ia ganhando na formação de professores e outros possíveis extras. E isso porque o atendimento ao público foi sempre deplorável, muito mau. E continua.




 É sempre um desespero ir à Caixa, mas hoje tive de ir ativar o novo cartão e, para evitar as longas filas de espera, em vez de ir à agência central em Leiria, optei por ir a uma agência de bairro aqui perto de casa.
 
Estavam quatro pessoas à minha frente em fila única. No balcão estavam dois funcionários: um a atender e, ao lado, uma funcionária, bem na casa dos cinquenta anos, com um letreiro à frente que dizia «encerrado», ia mexendo no computador, com um ar muito entendido se bem que pouco atarefado, cara fechada e lábios finos cerrados em linha, pretendendo mostrar a sua concentração e a sua autoridade. A fila – gosto mais de dizer bicha, mas não quero chocar os meus possíveis leitores – ia aumentando para trás de mim, sem que reduzisse para a frente. E os clientes lançavam olhares inquiridores senão mesmo furiosos à senhora do letreiro «encerrado» a ver se ela o retirava e se punha a atender o público. Nada!

Nisto, entra, vindo da rua, para dentro do balcão um senhor de meia-idade, fato cinzento e gravatinha encarnado vivo a ler um prospeto e senta-se a uma secretária mais atrás, mexendo em papéis. O chefe – pensei eu. Depois apareceu lá de dentro um jovem funcionário, fatinho cinzento, que se sentou ao balcão para o “atendimento personalizado” que se destina a abertura de contas e negócios. Atenção que este “atendimento personalizado” não é sinónimo de melhor ou mais rápido atendimento! Só dá direito a estarmos sentadinhos à frente do funcionário que é mais simpático do que o que está no atendimento geral e cumprimento os clientes estendendo-lhes ostensivamente a mão para o impositivo cumprimento cordial ou assertivo ou sei lá o que lhe ensinaram na formação.

A bicha avança lentamente. A senhora do letreiro «encerrado» que destila comportamento de funcionário público por todos os poros, fartinha de levar com os olhares penetrantes do público que demora em ser atendido, resolveu levantar-se e ir lá para dentro.

Entretanto, de outro lado dos gabinetes interiores aparece uma jovem funcionária, salto de sapato alto, barriga encolhidinha e calça comprida larga e bamboleante, tic tic tic, com um papel na mão que se dirige tic, tic, tic à secretária do pretenso chefe. Larga o papel, pega outro e regressa ao interior de onde tinha aparecido, tic, tic, tic…

E o único funcionário que estava a fazer o atendimento lá continuava, inexpressivo e antipático, mas algo eficiente, porém. A menina dos saltos altos ainda fez uma nova aparição, tic, tic, tic até à secretário do possível chefe para recolher outro papel. Sem palavras.




Estava a chegar a minha vez quando reparei num bonito cartaz publicitário na parede em frente com um comboio que, dada a demora, me pareceu ser do tempo da Revolução Industrial inglesa e de onde saíam umas frases estudadas que diziam: «Há um banco que mexe e faz mexer o país: a Caixa com certeza». 

A mexer assim realmente não vamos lá!...
 

11 comentários:

  1. Uma vez tive de ir à CGD tratar de um assunto da minha irmã (ela também foi professora em tempos) que estava de férias, aquilo realmente era um horror. Já foi há mais de 20 anos, mas pelos vistos as melhoras não foram muitas... :)

    Haja paciência!

    Bom fim de semana, Graça!

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  2. Graça
    Ai só tu mesma amiga!
    Obrigada por este momento, ainda estou a rir, tal não foi o tempo de espetra que conseguiste ver a grossura dos lábios da funcionaria e a cor de todas as roupas e sapatos dos outros, até tiraste a medida à barriga e ás calças da tic, tic.
    Deve ser por isso que não funciono com a CGD

    Bom fim de semana amiga

    Beijinho e uma flor

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  3. (Por falar em publicidade...)
    "Há mais na Caixa do que você imagina".
    :)

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  4. Por aqui costumamos dizer: ... mudam-se as moscas, mas a merd... continua a mesma!!
    [ ] Célia.

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  5. Olá,

    Os anos vão passando, as coisas vão evoluindo, mas o atendimento na CGD não muda, é sempre o mesmo, seja em Lisboa, na minha terra, ou onde quer que seja.Para tratar de assuntos da minha tia que tem lá conta, tenho ultimamente ido lá com frequência, aquilo é uma seca.

    Bjs e bom fim de semana

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  6. Estimada Amiga Graça Sampaio,
    nâo fiquei admirado com o tratamento e a eficácia dos funcionários da CGD, já que eu, embora viva cá nesta parte do mundo ia anualmente a Portugal e tinha conta no BNU, que passou a ser integrado na CGD.
    No BNU em Évora não consegui tratar o assunto que pretendia,que era enviar uma avultada soma de dinheiro para a minha conta em Macau, então fui informado para ir à CGD e lá resolveriam o problema.
    Lá fui, fiquei na bicha e quando fui atentendido por uma simpática funcionário e dizendo-lhe o que pretendia ela chamou um outro funcionário.
    Quando lhe ia dizer o que pretendia ele, todo empruado me disse Dr. xxx, bem eu já vinha aborrecido por ter passados horas no BNU, e o fulano ao dizer para o tratra por Dr., respondi-lhe, Dr. uma merda você aqui é um mero funcionário do banco e nada mais, eu sou um cliente, já agora mete o Dr. na P.... pois não sabe com quem está falando.
    O pessoal ficou espantado com as minhas palavras, mas houve alguns que bateram palmas, é que esse funcionário tinha a mania que era mais que todos os ouros e por Dr. queria tratrado, nunca mais quis nada com a CGD, isto aocnteceu em 2055, quando vendi a casa e tudo o que possuia em Évora.
    É assim já Amiga Graça.
    Abraço amigo e óptimo fim de semana.
    Ps - isso não acontece em banco algum em Macau, onde as pessoas com mais 65 anos tem até tratamento prioritário.

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  7. Queria dizer 2005, aqui na Tailândia é que estamos no ano 2555.

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  8. Bom dia Graça
    Foi com gosto que li o relato da sua ida à CGDepósitos.
    Nunca consegui entender aquele atendimento, nem a paciência desmedida dos clientes. Renovam as construções mas tudo continua na mesma no essencial - o atendimento.

    À conta disso nomeiam cada ano mais gestores, chefias e outros que para lá entram pela mão dos governos e dos partidos mas para trabalhar "népia"...e mais não digo...antes que o Relvas me meta no saco da pancada...

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  9. Declarações de um ex-bancário da concorrência.
    Esta instituição sempre foi morosa, de métodos burocráticos de muito peso, que fazia os seus clientes estarem horas intermináveis nas suas instalações. Porém, nos tempos em que os Bancos eram instituições de Bem, hoje não são! os empregados na sua maioria eram diligentes, só que tinham muita dificuldade em fazer face a tanta clientela, que obrigatoriamente tinha que abrir contas na CGD.
    Sempre foi um Banco com muito dinheiro, e estes Governos da treta, foram-se encarregando de o esvaziar, hoje está ao nível de qualquer "BANIF-zeco", que anda às sopas dos dinheiros da Troika.
    Renovou os seus métodos de trabalho, mas comparados os sistemas com o Banco onde trabalhei e sou cliente, parecem-me bem mais complicados, pelo menos no que ao Home-banking, diz respeito, do resto não tenho experiência.
    A tua descrição está de morte.
    Infelizmente, hoje não existem bancários mas sim vendedores de produtos, e as agências acabaram, passaram a ser lojas com miúdos, que de produtos bancários nada sabem, só se limitam a receber papéis e enviar para os back office, e aí lhes ser dado o devido encaminhamento.
    Um desconto em papel comercial/livrança, é chinês, um cheque visado, é arrancar um dente a estes pobres coitados, que não têm culpa de serem mandados às feras, sem terem nenhuma formação, é vê-los a toda a hora a telefonar para a sede a tentar resolver os problemas. Pior ainda, estão contratados a prazo e ao fim de três anos quando já sabem alguma coisa vão para a rua para não terem vinculo laboral, depois vêm outros aprender tudo de novo.

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  10. Graça, tu não percebeste que isso faz parte da política de poupança do governo? Enquanto estás na bicha da CGD não andas pelo supermercado a gastar os euros (não refiro outros sítios porque os troikos já não permitem veleidades). Quem se deveria queixar era o tio Belmiro...

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  11. Está uma descrição incrível :) (na agência da CGD perto da minha casa, normalmente tenho sorte e não espero muito para ser atendida,na de local de trabalho, já pensei em levar um livrinho para aproveitar o tempo :)

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