Foi há mais de trinta anos que
tive de abrir conta na Caixa Geral de Depósitos para poder receber o vencimento
quando este deixou de ser pago em dinheiro na secretaria da escola mediante
assinatura naquelas folhas enormes que depois eram integradas em livros também
enormes. Lembro-me que abri a conta com cem escudos…
Mas nunca fiz da CGD o meu banco.
Todos os meses desde então me dou ao trabalho de transferir o vencimento para o
meu banco de sempre e na caixa ficavam (quando havia…) os subsídios de férias e
de Natal, eventuais ajudas de custo, dinheiro que ia ganhando na formação de
professores e outros possíveis extras. E isso porque o atendimento ao público
foi sempre deplorável, muito mau. E continua.
É sempre um desespero ir à Caixa,
mas hoje tive de ir ativar o novo cartão e, para evitar as longas filas de
espera, em vez de ir à agência central em Leiria, optei por ir a uma agência de
bairro aqui perto de casa.
Estavam quatro pessoas à minha
frente em fila única. No balcão estavam dois funcionários: um a atender e, ao
lado, uma funcionária, bem na casa dos cinquenta anos, com um letreiro à frente
que dizia «encerrado», ia mexendo no computador, com um ar muito entendido se
bem que pouco atarefado, cara fechada e lábios finos cerrados em linha,
pretendendo mostrar a sua concentração e a sua autoridade. A fila – gosto mais
de dizer bicha, mas não quero chocar os meus possíveis leitores – ia aumentando
para trás de mim, sem que reduzisse para a frente. E os clientes lançavam
olhares inquiridores senão mesmo furiosos à senhora do letreiro «encerrado» a
ver se ela o retirava e se punha a atender o público. Nada!
Nisto, entra, vindo da rua, para
dentro do balcão um senhor de meia-idade, fato cinzento e gravatinha encarnado
vivo a ler um prospeto e senta-se a uma secretária mais atrás, mexendo em papéis.
O chefe – pensei eu. Depois apareceu lá de dentro um jovem funcionário, fatinho
cinzento, que se sentou ao balcão para o “atendimento personalizado” que se
destina a abertura de contas e negócios. Atenção que este “atendimento
personalizado” não é sinónimo de melhor ou mais rápido atendimento! Só dá
direito a estarmos sentadinhos à frente do funcionário que é mais simpático do
que o que está no atendimento geral e cumprimento os clientes estendendo-lhes ostensivamente
a mão para o impositivo cumprimento cordial ou assertivo ou sei lá o que lhe
ensinaram na formação.
A bicha avança lentamente. A senhora
do letreiro «encerrado» que destila comportamento de funcionário público por
todos os poros, fartinha de levar com os olhares penetrantes do público que
demora em ser atendido, resolveu levantar-se e ir lá para dentro.
Entretanto, de outro lado dos
gabinetes interiores aparece uma jovem funcionária, salto de sapato alto,
barriga encolhidinha e calça comprida larga e bamboleante, tic tic tic, com um
papel na mão que se dirige tic, tic, tic à secretária do pretenso chefe. Larga
o papel, pega outro e regressa ao interior de onde tinha aparecido, tic, tic,
tic…
E o único funcionário que estava
a fazer o atendimento lá continuava, inexpressivo e antipático, mas algo
eficiente, porém. A menina dos saltos altos ainda fez uma nova aparição, tic,
tic, tic até à secretário do possível chefe para recolher outro papel. Sem palavras.
Estava a chegar a minha vez
quando reparei num bonito cartaz publicitário na parede em frente com um
comboio que, dada a demora, me pareceu ser do tempo da Revolução Industrial
inglesa e de onde saíam umas frases estudadas que diziam: «Há um banco que mexe
e faz mexer o país: a Caixa com certeza».
A mexer assim realmente não vamos
lá!...