Li no
Banco corrido que «Pedro
Alves, deputado do PSD por Viseu, atribui ao atual Governo o regresso do ensino profissional à
escola pública depois de esta o ter abandonado nos anos 80 e 90. Para o
deputado, José Augusto Seabra, Roberto Carneiro, David Justino e, já agora,
Maria de Lurdes Rodrigues não existiram. Pedro Alves, deputado do PSD por
Viseu, sabe de fonte segura que foi Nuno
Crato que inventou a roda.»
Achei graça à ironia,
mas não liguei muito! Só quando, ontem, tomei conhecimento de mais uma das
tropelias que o ministro (C)rato vai fazer à escola pública e, pior, aos jovens
deste país! Para mim que li em 2005 o irritante livro do Eduquês do dr. (C)rato
já nada nele me espanta. O que me espanta é que o país, os sindicatos e em
especial os professores (que, infelizmente, na sua maioria, são tão elitistas
como o senhor ministro que lhes continua a cercear todas as suas possibilidades
profissionais sem que eles se queiram dar conta) não se insurjam contra estas
barbaridades como tão avidamente se insurgiram em 2008 contra o facto de serem
avaliados. Apenas.
O senhor ministro (C)rato
deve ter tido uma educação muito traumatizante porque, que se saiba, não foi
daqueles que tiveram de “subir na vida a pulso”, nem daqueles que para estudarem
tiveram de se esgatanhar a trabalhar, nem daqueles que tiveram de, aos dez
anos, escolher a escola técnica porque os pais não podiam mantê-los no liceu e
que, por isso não puderam seguir os estudos para os quais tinham apetência e
inteligência. Só assim se justificaria tanto azedume e tanta implicância para
com a escola para todos que tanto
custou a alcançar até a bons ministros da sua área política que o antecederam.
Com toda a demagogia e
hipocrisia dos senhores deste governo que muitos neste país fizeram eleger e
dos seus apaniguados – vide Ramiro Marques, o seguidor-sombra do senhor
ministro que nenhum outro talento tem senão esse, o de ser seguidor na sombra
do ministro – vêm agora defender o ensino profissional e as vias
profissionalizantes – que foi retomado e reabilitado desde o início dos anos
90, e não antes por questões culturais e nenhuma outra – porque na Holanda
assim e porque na Alemanha assado, sem quererem ou saberem explicar a evolução
histórico-social desses e de outros países altamente industrializados desde o
século XIX, de quem estamos, infelizmente, a anos-luz de distância a todos os
níveis!
E, num golpe de rins, ou
de mágica, ou de desprezo puro e simples pelos cidadãos que, mal ou bem, os
puseram no comando, o senhor ministro (C)rato vem subliminarmente e com as suas
proverbiais falinhas mansas, retomar o ensino profissional de há 50 anos atrás
em que os meninos pobrezinhos (alguns! Que muitos nem chegavam à escola) tinham profissões manuais e
os outros, filhos das famílias abastadas ou de famílias mais cultas – que foi o
seu caso, filho de professores de matemática e descendente dos Viscondes de não
sei quê – iam para o liceu onde se instruíam e educavam as “elites”.
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(Do pintor Augusto Gomes) |
Agora, os alunos que cheguem
ao 6º ano com duas retenções na bagagem – o que é fácil de acontecer com miúdos
filhos de famílias disfuncionais, monoparentais e socialmente desfavorecidas (e
eu sei do que falo!) – serão obrigados – leram bem: obrigados – a seguir a via profissional tendo de aprender três
ofícios a escolher pela escola de acordo com as necessidades económicas da
região, como sendo agricultor, eletriscista, canalizador, talhante… (Creio bem que
a ideia de seguir estudos em talhante terá vindo daquela entrevista que o
senhor Soares dos Santos deu há meses em que se queixava amargamente que, se precisava
de contratar um talhante para os seus estabelecimentos – as mercearias doces –
tinha de ir buscá-lo à Holanda ou à Polónia…)
Estaria aqui o resto do
tempo a insurgir-me contra esta última pérola Cratina, mas melhor, muito melhor
do que eu possa dizer, disse o articulista André Macedo hoje no DN numa excelente
crónica a que deu o título de O Erro
Crato que termina assim:
«Nuno Crato vive preocupado em exibir autoridade. Quer chumbar, punir,
travar. Vê a escola como um centro de exclusão, não como espaço de desenvolvimento
de competências sociais, culturais e técnicas - com regras, competição e
exigência. Não tem um plano educativo desempoeirado: sofre de reumatismo
ideológico. Engaveta os alunos. Encolhe o País. Reduz a riqueza. É matemático.»