sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Lamento por uma política perdida




Mesmo correndo o risco de me "caírem em cima" das formas  mais inverosímeis - não há grande probabilidades de isso acontecer porque não sou muito conhecida no meio - não resisto a copiar para aqui a crónica de hoje do jornalista Ferreira Fernandes no Diário de Notícias. Gosto imenso de o ler diariamente sobre os assuntos mais díspares e, que me desculpem os que assim não pensam, mas tem um olhar crítico (quase) sempre certeiro sobre as questões que aborda.

Não venho aqui fazer a apologia da anterior ministra da Educação (que, de facto, falhou muito), embora eu tenha sido das poucas pessoas que sempre a admirou pela sua verticalidade e pela certeza do que queria fazer (por oposição à actual ministra que, de sorriso fácil e com pouco dentro da cabeça, não sabe o que quer nem o que se há-de fazer). A questão é que o PS quebrou a coluna para acabar por dar razão aos professores com o objectivo de ganhar as eleições e, semi-ganhando-as apenas, não conseguiu nada nem para os professores, nem para si próprio, nem para o país.

Foi pena!

E diz o Ferreira Fernandes:

Na semana em que Sócrates foi reeleito, perguntaram-me na SIC pelas medidas que ele devia tomar. Fiquei-me por uma só e, mesmo essa, óbvia. Era como aconselhar Álvaro Siza quando desenhou a pala da Expo: "Arquitecto, faça-a de maneira que ela não caia." Disse eu naquele debate da SIC: "Sócrates devia manter a ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues." Grande espanto, no debate... Não sendo uma águia em análise política, uma coisa eu tinha por certa do primeiro mandato de Sócrates. Num sector prioritário, a Educação, tentou-se que os seus trabalhadores seguissem a mais elementar das normas profissionais: subir na carreira só por mérito. Maria de Lurdes Rodrigues (MLR) fora a cara dessa revolução (e aqui está uma definição de Portugal: revolução, por cá, é tentar que aconteça a um professor o mesmo que ao merceeiro que eu escolho para me fornecer e aos astronautas seleccionados pela NASA - ser examinado). Mas a ministra foi muito contestada e tinha de ser chutada no novo Governo. Daí o espanto pela minha proposta, no debate da SIC. E, de facto, MLR foi despedida. À custa da popularidade perdeu-se uma ministra com política certa. Hoje, as sondagens são desastrosas para o PS. Isso é o problema do PS. O problema de Portugal é que, com o receio de chegar mais cedo a essa impopularidade, o PS não nos garantiu como herança aquela política certa.

6 comentários:

  1. É uma das questões a resolver neste país, a situação do ensino, mas não me parece que seja com mudança de ministros que ela se resolve, mas sim com mudança de política, e essa não depende dos ministros, que são apenas executores.
    (Obrigada pela visita ao "Quarteto":))) e bom fim de semana chuvoso...)

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  2. Obrigada Justine e claro que tem toda a razão!

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  3. Recebi por mail um comentário a este meu texto da minha amiga T. do tempo da Faculdade, que muito prezo e que passo a transcrever aqui:

    "Não resisto a manifestar-te o meu mais veemente desacordo pela apologia que fazes , no blog, da ex Ministra da Educação.
    · Como é possível rotular de vertical uma governante que implementou medidas disfarçadas de moralizadoras apenas para poupar dinheiro e conseguir mudanças de fachada?
    · Como é possível falar de progressão por mérito num sistema em que os professores eram avaliados por actos lectivos pontuais ( 2/3 aulas ) com instrumentos produzidos em cima do joelho ( que isto de construir instrumentos de avaliação de professores não é nada igual a produzir fichas de avaliação de alunos) por Conselhos Pedagógicos que não tiveram o mínimo de tempo de reflexão nem o mínimo de formação para tal....e tendo como avaliadores as criaturas mais impreparadas para esse acto...Acrescente-se ainda que a EVOLUÇÂO, princípio que deve nortear qualquer processo de avaliação, estava arredada deste processo! Tratava-se apenas de rotular profissionais como se fossem garrafas...
    · Como é possível pensar que as famigeradas aulas de substituição ( como elas funcionaram e funcionam ) têm algum interesse para os alunos ou para a sua formação.. . elas são, tão somente, uma forma de encarcerar alunos dentro de uma sala , custe o que custar....e custou horrores àqueles que, como eu, nunca foram para uma aula sem saber o que iam fazer; nessas ocasiões, todavia, eu fui transformada em entertainer de miúdos que não queriam o entretenimento que eu lhes dava e a relação que daí resultava era a da força, nunca a relação pedagógica que , como sabes, tem sempre que ser desejada!
    · Como é possível pensar-se que MLR era uma Ministra que sabia o que queria em termos de reforma das escolas...ela disse e desdisse conforme a ocasião e somente em função da vantagem política do acto em causa; realmente há grandes diferenças entre ela e a actual Ministra: Esta foi contratada para sorrir e, às vezes, nem repara que riem dela; a outra era pérfida e foi bem escolhida para hostilizar uma classe profissional ,cujo trabalho é essencial para o futuro do país; esse desiderato de humilhação e difamação de toda uma classe profissional, ela conseguiu de foram magistral, envenenando a opinião pública através da generalização dos podres de alguns a todos!
    · Como é possível que profissionais que honraram a classe ( como tu,...) ainda nutram admiração por uma personagem de acção tão nefasta para a nossa profissão...os resultados começam a estar à vista!!"

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