quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Dissimulação




Sabe quem viu o programa do passado domingo do professor Marcelo Rebelo de Sousa (eu não gosto muito de ver programas de opinion makers partidários porque são ainda mais tendenciosos que grande parte dos jornalistas) como este, de olhos brilhantes, anunciou a recandidatura do dr. Cavaco à Presidência da República.

Apesar de considerar o professor Marcelo o mais demagógico de todos os comentadores que já passaram pela televisão, tenho-o por pessoa de grande inteligência e de enorme eloquência, grandes de mais para se reduzir à figura de arauto da desgraça que é podermos vir a ter o mesmo presidente por mais cinco anos. Melhor fora, apesar de tudo, que ele viesse anunciar, de olhos brilhantes, a sua própria candidatura. Não estando contudo próximo das minhas preferências políticas, confesso que me veria mais bem representada pelo professor do que por este presidente que se recandidata.

Mas a questão não é essa. A questão que se me põe é a da hipocrisia do dr. Cavaco de andar a “fazer-se caro” e a pretender mostrar que a sua recandidatura não é o mais importante para o país no momento actual e a deixar entender que é coisa que não lhe interessa nem o preocupa e que torna e que deixa...

Entretanto lá anda, dissimuladamente, em campanha pelo país fora, país que, afectado ainda pelas reminiscências salazaristas, continua a arrebanhar criancinhas das escolas que, inocentes e de bandeirinha na mão, cantam o hino ao senhor presidente... E, depois disso, quer ainda mostrar-se tão desprendido, tão desinteressado que chega ao ponto de encomendar o anúncio do seu desejo.

Semelhante dissimulação faz lembrar a de Salazar: “A minha política é o trabalho” dizia o ditador que ficou conhecido pelo seu silêncio, pela sua invisibilidade. E, no entanto, entrava diariamente pelas casas, pelas vidas, pelo pensamento de todo e de cada um dos portugueses e fê-lo, com consequências irreparáveis, por quase 50 anos. O máximo da dissimulação!

Felizmente para nós, o dr. Cavaco não tem a estatura política nem a inteligência brilhante que tinha Salazar.


2 comentários:

  1. Achas que anda dissimuladamente?!
    Eu acho que é o cúmulo da desfaçatez andar a fazer campanha, às claras, à custa do dinheiro de todos nós!
    Quanto a MRS, de facto é brilhante, perspicaz e tem uma retórica de cinco estrelas, aliada à demagogia (qualidades importantes num político-:-) ) mas falta-lhe a ousadia.É um teórico...

    Até logo

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  2. Tens razão, Rosinha. Como (quase) sempre...

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