sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Marilyn Monroe



Faz anos que, aos 36 anos, morreu Marilyn Monroe, uma das mais conhecidas sex symbols de Hollywood. Apareceu morta na manhã do dia 5 de Agosto de 1962 com uma overdose de barbitúricos, deixando a sua morte envolta num véu de mistério já que toda a documentação da investigação à sua morte desapareceu sem deixar rasto.

O seu ar de loira explosiva de curvas redondas bem sensuais e o género de filmes que rodou, comédias românticas, em que pouco tinha de usar os neurónios contrasta com a notícia dada hoje sobre um livro que vai ser publicado brevemente com textos íntimos e passagens dos seus diários que, dizem, revelam o seu extraordinário amor pela literatura e os livros. "Ninguém suspeitava que no interior de seu corpo vivia a alma de uma intelectual e poeta", escreve o italiano António Tabucchi no prefácio do referido livro.

Para recordar o triste fim da jovem artista que encantou o Presidente John Kennedy, fica o poema de Ruy Belo “Na morte de Marilyn”

Morreu a mais bela mulher do mundo
tão bela que não só era assim bela
como mais que chamar-lhe marilyn
devíamos mas era reservar apenas para ela
o seco sóbrio simples nome de mulher
em vez de marilyn dizer mulher
Não havia no fundo em todo o mundo outra mulher
mas ingeriu demasiados barbitúricos
uma noite ao deitar-se quando se sentiu sozinha
ou suspeitou que tinha errado a vida
ela de quem a vida a bem dizer não era digna
e que exibia vida mesmo quando a suprimia
Não havia no mundo uma mulher mais bela mas
essa mulher um dia dispôs do direito
ao uso e abuso de ser bela
e decidiu de vez não mais o ser
nem doravante ser sequer mulher
O último dos rostos que mostrou era um rosto de dor
um rosto sem regresso mais que rosto mar
e toda a confusão e convulsão que nele possa caber
e toda a violência e voz que num restrito rosto
possa o máximo mar intensamente condensar
Tomou todos os tubos que tinha e não tinha
e disse à governanta não me acorde amanhã
estou cansada e necessito de dormir
estou cansada e é preciso eu descansar
Nunca ninguém foi tão amado como ela
nunca ninguém se viu envolto em semelhante escuridão
Era mulher era a mulher mais bela
mas não há coisa alguma que fazer se certo dia
a mão da solidão é pedra em nosso peito
Perto de marilyn havia aqueles comprimidos
seriam solução sentiu na mão a mãe
estava tão sozinha que pensou que a não amavam
que todos afinal a utilizavam
que viam por trás dela a mais comum imagem dela
a cara o corpo de mulher que urge adjectivar
mesmo que seja bela o adjectivo a empregar
que em vez de ver um todo se decidia dissecar
analisar partir multiplicar em partes
Toda a mulher que era se sentiu toda sozinha
julgou que a não amavam todo o tempo como que parou
quis ser até ao fim coisa que mexe coisa viva
um segundo bastou foi só estender a mão
e então o tempo sim foi coisa que passou

(Ruy Belo)

3 comentários:

  1. Os que morrem jovens, permanecem jovens na nossa memória!
    Não deixa de ser um privilégio!

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  2. Um privilégio muito oneroso para eles, muito triste para nós!

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  3. Quando começei a ler o texto, pensei o mesmo que a autora do primeiro comentário.
    Pelo menos não foi tudo uma desgraça. Tem pelo menos a virtude de na nossa mente estar sempre a imagem de uma bela mulher, jovem e bonita, o resto faz parte do mito.

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