domingo, 5 de junho de 2011

Em dia de reflexão




Para distrair da desastrada campanha eleitoral e das injustiças da vida, meti-me, logo de manhã na livraria grande do shopping para bisbilhotar sem horas todo o recanto da literatura portuguesa. É que lá posso ver e mexer e tirar os livros que muito bem me apetece e sentar-me a folhear, a ler e a magicar sem ter nenhuma daquelas jovens simpáticas (ou não) atrás de mim a perguntar se me podem ajudar.

A intenção era procurar o que havia da obra do discreto Manuel António Pina que discretamente recebeu há dias o Prémio Camões e que eu – ignorante e inculta – apenas conhecia das belíssimas crónicas dos jornais. Lá encontrei a colectânea das ditas crónicas algumas das quais fui lendo ou relendo, apreciando-lhes a sintaxe e a fina ironia. Quanto à poesia que desconhecia por completo e de que, quanto sei, há mais do que uma antologia, nada encontrei. Compreendo, porque a poesia custa mais a “sair” do que qualquer outro género literário, mesmo assim, depois de consultada uma das tais jovens simpáticas, que nesta livraria, para meu agrado, se apagam a um canto, lá encontrei um livrinho de 1999 da Assírio & Alvim chamado “Nenhuma Palavra e Nenhuma Lembrança” com uma vintena de poemas e alguma prosa – que será de certo poética – sempre, ou quase, subordinados à(s) palavra(s) que me parece ser o leit motiv deste autor. Tive de o trazer...

O pior é que, entretanto, os olhos não paravam de varrer todo aquele espaço de autores portugueses e (re) encontrei o livro “Rever Portugal” de Jorge de Sena com aqueles “textos políticos e afins” que ele escreveu entre 1959 e 1978 e, como eu que dou tudo para esquadrinhar o meu querido século XX – o melhor de todos os séculos! – especialmente quando descrito por autores que reverenciam a nossa língua, não resisti!

E aquelas mil e tal páginas que a Maria Teresa Horta – grande senhora da língua portuguesa – escreveu sobre a Marquesa de Alorna e que chamou “As luzes de Leonor”? Lá que se trata de um romance, não há dúvida – está lá escrito na capa. Mas o de história, de filosofia, de poesia, de conhecimentos, de sentimentos filtrados, que nos serão transmitidos por toda aquela miríade de palavras e de frases que não sei como há talento e arte para serem escritas!

Agora o que me encantou ainda mais – ou não, sei lá! – foi (mais) uma obra do Professor Carlos Reis que, por acaso, já é de 2008, mas que eu – ignorante e inculta – ainda não tinha visto e que se chama Introdução aos Estudos Literários, da Almedina. Trata da literatura como instituição e da linguagem literária, da criação poética, dos géneros literários e eu sei lá o que mais! O que eu gostava de ler esse estudo! Mas a esse, resisti! (Por enquanto...)

Lembrei-me da minha mãe há uns – muitos – anos atrás, quando em tempo de “vacas magras” cá por casa, me ralhou, uma vez que comprei mais uns dicionários de inglês, dizendo no tom autoritário que lhe era característico: “Não tens um casaco comprido de jeito e foste comprar mais dicionários!”

5 comentários:

  1. Temos algo em comum. Gostar de ir às livrarias e passar lá umas horas. Aqui temos uma rede de livrarias - Chapters - bastante espaçosas com cadeiras muito confortáveis onde podemos passar algum tempo muito agradável, sem ninguém nos incomodar. Como o inverno é longo temos que recorrer com mais frequência a estes espaços convidativos...
    Os últimos livros que aí (em Portugal) comprei foi um de Miguel Sousa Tavares (no dia em que o livro foi lançado – creio que já li todos os seus livros ) e outro de Isabel Stilwell.
    Raramente leio sobre eles nos blogues...
    Curiosidade: os livros que aí tenho comprado são muito pesados e acho-os muito caros!
    Suponho que essa seja uma das razões principais por que, de uma forma geral, os portugueses continuem a não ler muito... : )!

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  2. Querida carol, tal como tu, também me perco nas livrarias, e sou capaz de ficar uma tarde inteira a ler extractos, a folhear e a saborear. Por cá na Bertrand já me conhecem e são uns queridos. Aí faço encomendas e deixo o meu dinheirito, todo. Os livros são mesmo caros, como diz a nossa amiga Catarina!
    Apesar de amante das letras escritas, tu estás muito mais à frente e já tomei algumas notas, com estes teus conselhos. Obrigada :)

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  3. Boas escolhas, Carol!
    Quanto a Carlos Reis, desculpa dizer-te, é de facto muito douto e então em estudos sobre Eça nem se fala... mas uma criatura pedante a dizer basta! Foi meu professor em Coimbra quando terminei a licenciatura, já casada e mãe de filhos!
    O meu dia de reflexão foi passado de forma menos cultural mas muito emotiva. Mais uma vez se reuniu a gloriosa Companhia de Caçadores 801 que serviu a Pátria em Timor e mais uma vez foi o "alferes" cá de casa o organizador!
    Ai Timor! :-))
    No fundo, eu que não sou nada de encontros disto e daquilo, acabo por achar graça a estes homens que passados quarenta e tal anos falam uns para os outros como se tivessem vinte! :-))

    Abraço

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  4. Segundo os signos do Zodíaco, o tempo joga a seu favor... agora não precisa de casacos, só roupa e leve... sim, leve muitos livros.
    :)

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  5. Este Rui faz sempre uns comentários com tanta pinta!... Mas olhe que em Janeiro, um bom casaco de boa lá dá muito jeito...

    Pois é, Rosinha, estes estudiosos são cá uns pedantes! Especialmente os de Coimbra que ainda continuam a pensar que a Universidade deles ainda é a única! Mas que o "fulano" é bom, lá isso não deixa dúvidas... Então lá foste com o teu "soldado" de Timor à romagem de saudade... Ai Timor!!!

    A Catarina tem toda a razão: os livros por cá são caríssimos mesmo! Sempre foram. Há que fazer escolhas de entre as compras para lhes chergarmos.

    Obrigada, querida Manuela, pelas amáveis palavras (se bem que não correspondam de todo à realidade...)

    Beijinhos e... bons resultados eleitorais...

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