sexta-feira, 6 de maio de 2011

A propósito de José Coelho Pacheco





Pelo que li num texto excelente de Teresa Rita Lopes no Jornal de Letras de 20 de Abril, haveria (mais) sub-heterónimo de Fernando Pessoa, chamado José Coelho Pacheco, a quem eram atribuídos uns tantos poemas, nomeadamente “Para Além doutro Oceano”.

Resultante da incansável pesquisa da autora referida, chegou-se à conclusão que, afinal, José Pacheco Coelho foi, na sua juventude, juntamente com Almada Negreiros e António Ferro, um dos “putos” do Orfeu. (E, a propósito, tenho de referir que fiquei deveras surpreendida com o  facto de já nesse tempo se usar a expressão “putos” para se falar dos jovens, até porque no meu tempo de juventude não me lembro de ser utilizada)

Ora esse “puto” enveredou pelo caminho dos negócios, tendo sido proprietário de um stand de automóveis em Lisboa sem deixar, porém, de “ser amante das artes e praticante da escrita literária”. Numa carta que Coelho Pacheco escreveu a Fernando Pessoa em 20 de Fevereiro de 1935 para agradecer o exemplar da Mensagem que ele lhe enviara, "diz-lhe que esse livro lhe dera uma alegria maior do que teria se recebesse, da sua fábrica, um automóvel novo!” E recorda os velhos tempos do Orfeu e da Renascença.

Uns românticos estes homens! E é isso mesmo que nos falta actualmente! Falta-nos a formação humanista e das humanidades. Na ânsia incontrolada de, desde as últimas décadas, todos seguirem as áreas das ciências e das economias porque todos têm de ser médicos e gestores de sucesso, as humanidades caíram no maior obscurantismo ficando completamente fora de moda. E assim estamos a tornar-nos cada vez mais secos, menos emotivos, menos ligados aos sentimentos, mais dominados pelos números e pelos americanizantes ratings e assessements de tudo e de mais alguma coisa!

Na nossa formação como pessoas, faz-nos falta a poesia, a(s) humanidade(s)!



8 comentários:

  1. Contra ti:

    A cultura anglo-saxónica a sua hegemonia conduziu-nos a isto...

    É uma visão simplista...mas se pensares:)

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  2. "Uns românticos estes homens! E é isso mesmo que nos falta actualmente! Falta-nos a formação humanista e das humanidades", permita-me que discorde. Apenas atravessamos tempos em que se torna fácil esconder esses valores e, em troca, enaltecer outros. É a questão do nevoeiro a encobrir não só os corpos, também as almas. Tenho um punhado de amigos na net que provam isso. Escritores da nova geração e são muitos, provam também o contrário. Repito, este malvado nevoeiro encobre tudo, até isso...

    Nota: No meu tempo, os "putos" faziam parte da giria corrente, admito que seja um regionalismo de Lisboa...

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  3. Esta dos putos está demais...

    Gosto ainda mais de :
    « Os putos » de Paulo de Carvalho

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  4. Se bem percebi afinal não era um dos sub-heterónimos do nosso "múltiplo" poeta, era sim um jovem seguidor...
    Percebi mal?
    Teresa Rita-Lopes tem sido mesmo incansável nas suas pesquisas.
    Gostei de saber porque desconhecia esta personagem...obrigada!

    Abraço

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  5. Já agora a propósito de "putos" e "Os Putos" de Altino Tojal que chegámos a estudar com os alunos daquela famosa experiência de Veiga Simão?
    Tu só estavas com o Inglês? Já não me lembro... :-((
    Já lá vão mais de ...3 meses como diz o "outro"!

    Abraço

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  6. Por acaso, na Reforma de Veiga Simão estive pelo Português e gostei muito e aprendi muito. Também li "Os Putos".

    É verdade, Rogério. Claro que há muitos jovens que "praticam" as humanidades e ainda bem. Mas o chamado "comum dos mortais" pouco sabe dessas coisas porque a escola está mais preocupada com as tecnologias (que não passam de ferramentas) e deixam a literatura para trás.

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  7. Afinal não me lembrava mesmo! :-))
    Ao a PDI...

    Abraço

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  8. Recebi via mail um comentário da minha grande amiga da Faculdade, T. que me apresso a transcrever:

    "Venho felicitar-te pelo excelente texto publicado no blog a 6 de Maio. Estou absolutamente de acordo contigo quando referes que o que falta nos dias de hoje às pessoas são as humanidades, a capacidade de olhar para o outro como indivíduo portador de alguma coisa sempre válida, em vez de o ver ( como inexoravelmente requer a filosofia dominante na vida de hoje) como mais uma peça de uma engrenagem, igual a outras tantas ! O que me dói é que, nas escolas, paulatinamente, esta mundividência se foi implantando e passámos a não nos preocupar com as "pessoas" em formação, obcecados apenas com estatísticas e resultados, muitas vezes falseados para "mostrar" serviço! A última grande defensora deste estado de coisas foi a Ministra Lurdes Rodrigues que desvalorizou as relações autênticas dentro da escola e privilegiou a escola-empresa virada apenas para o produto final, ainda que medíocre. Foi a "Nova Oportunidade" que foi dada à escola e que me causou total repulsa. Desculpa vir novamente chamar este assunto à baila mas ele insere-se absolutamente no que escreveste e que é a questão cerne do estado a que chegámos.
    Sabes, esta enorme crise económica e financeira que atravessamos poderá vir a recuperar alguns desses valores humanistas. As pessoas vão deixar de poder comprar e deitar fora todos os dias e talvez descubram que há coisas que nos enchem de prazer e que poderão ser adquiridas através de vias que não as do dinheiro. Pena é que alguns tenham que sofrer dramaticamente para o mundo aprender isto... è a época do desassossego ....

    Beijinhos humanistas!!!"

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