terça-feira, 14 de setembro de 2010

A propósito da Educação Sexual nas Escolas



A notícia, no outro dia, ocupava uma página do jornal e o título era “Pais proíbem estudantes de terem educação sexual”. Atraía pelo tamanho e pelo disparate. Mas li com atenção. Até fiquei a saber que já se constituiu uma Plataforma Resistência Nacional de Pais (acho que já vai em 800 pais associados) que “não autorizam qualquer aula, acção ou aconselhamento relativo a educação sexual”. E até andaram no final do passado ano lectivo na rua a distribuir uma carta com esse teor para os pais assinarem e entregarem no acto da matrícula dos seus filhos!

A educação sexual dos nossos filhos é da nossa competência e é algo que fazemos, como pais, desde o seu nascimento, de um modo natural, integrado, progressivo, completo e respeitando as exigências das suas necessidades concretas, do seu crescimento e da sua dignidade pessoal”. Farão mesmo? Então porque é que somos dos países em que há maior número de gravidezes em adolescentes? E mais acrescenta um elemento da dita Plataforma que “em todo o país, no maior número possível de escolas, queremos que os pais não autorizem os filhos a frequentar as aulas de educação sexual.” Espero que não haja muitos pais a seguir-lhes o conselho!

Que temem estes pais para defenderem esta posição? Pensarão eles que, com a nova lei da educação sexual nas escolas (nova, a actual lei publicada em 2009 – Lei n.º 60/2009 – porque já desde 1999 – Lei n.º 120/99 – havia uma lei que iniciava essa temática nas escolas), os professores vão obrigar os seus alunos a iniciar a sua vida sexual mais cedo? Educação sexual dos alunos é o que já se faz há mais de duas décadas nas aulas de Ciências dos 6º e 8º anos porque faz parte dos respectivos programas. E aos anos que são convidados médicos e especialistas a virem às escolas para falarem com a máxima abertura e com o máximo cuidado sobre a sexualidade. Não me lembro de alguma vez termos recebido cartas de pais a proibirem os seus filhos de assistirem a essas palestras!

Também não tenho conhecimento de pais que tenham reclamado junto das escolas pelo facto de estas estarem a dar educação para a cidadania, educação para os valores, educação para a saúde, prevenção rodoviária, educação ambiental, educação para a Europa, etc. etc. assuntos cuja transmissão também é, ou deveria ser, da responsabilidade das famílias.

Somos, de facto, um país que saiu há apenas 30 e poucos anos de uma ditadura tristemente conservadora e obscurantista em que a instrução “obrigatória” (para os que queriam ir à escola) era a 3ª classe para as mulheres e a 4ª classe para os homens! Continuamos cheios de preconceitos ocos, bacocos e bafientos especialmente no que toca a tudo quanto refere a sexualidade. Estes pais – que me desculpem! – só mostram grande atraso cultural e grande desconhecimento da vida actual. Somos, mesmo, um país de tabus!

Fosse eu professora dos filhos desses pais da Plataforma e garanto-vos que nem lhes passaria pela ideia quando os seus filhos iriam ter acesso aos “terríveis e pérfidos” conhecimentos sobre a sua sexualidade. Tal como não lhes passa pela ideia quando estão a ter educação para a solidariedade ou contra o consumismo! É que é tão simples numa aula de Português ou de Inglês ou de História, ou seja do que for, a propósito de qualquer texto bem escolhido, de qualquer estratégia bem estudada, de qualquer palavra muito pouco inocente e bem premeditada introduzir conhecimentos, uma discussão, um debate, seja o que for em que se perfaça e realize a dita educação sexual!



2 comentários:

  1. Pelo número de comentários, deu para ver que este é um tema/assunto consensual na Sociedade Portuguesa!...

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  2. Somos é um país de tabus! Essa é que é essa! Nem se fala nisso...

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