sábado, 18 de setembro de 2010

O Bicentenário do Aniversário de Alexandre Herculano


Vai-se falando os jornais e já quase toda a gente sabe que se Alexandre Herculano nasceu há 200 anos, ou seja, em 1810. Mas também se comenta nos jornais que a efeméride não tem sido suficientemente comemorada, ou melhor, que não se está a dar a estas comemorações a importância devida e proporcional à grandeza da figura ilustre que foi Herculano.

Baptista-Bastos escrevia em Julho que “o Governo desleixou as comemorações do bicentenário do nascimento de Herculano. Está na natureza do Governo. O dr. Cavaco ignorou a data. É a sua relutância às minudicências da cultura. O dr. Cavaco tem mais de se ralar do que se apoquentar com a efeméride. Aliás, creio que nem o Governo nem o dr. Cavaco alguma vez se debruçaram sobre uma linha sequer, uma escassa e minguada linha escrita pelo grande historiador.”

João Céu e Silva, por sua vez, escreveu: “Há 200 anos, Alexandre Herculano nascia em Lisboa no Pátio do Gil. 133 anos após a sua morte, não há memória dessa particularidade da sua biografia no referido pátio e o que se encontra ao visitar-se o local é um tapume que cobre a visão de destruição dessa Lisboa antiga.

A poucos metros do taipal amarelado fica a casa onde vivia a fadista Amália, mas, apesar da proximidade, ninguém ali sabe onde é o tal Pátio do Gil. Na taberna ao lado do pátio desaparecido a resposta revela o mesmo desconhecimento do ex-vizinho ali nascido. Alexandre Herculano já não mora ali, nem "existiu" naquele sítio para esta geração de lisboetas que dele conhecem melhor as avenidas com o seu nome e, talvez, o facto de ter morrido distante, só e longe do poder que o venerava, na ribatejana Quinta de Vale de Lobo. Esse ignorar da dimensão nacional da personalidade do historiador também se verifica com as autoridades da cultura oficial, situação remediada à última hora com o anúncio da realização avulsa de cerimónias para assinalar a data do bicentenário do nascimento de Alexandre Herculano.”

António José Saraiva, de acordo com as palavras do Professor Guilherme de Oliveira Martins, que “Herculano tem sido vítima de uma conspiração de silêncio.”

Ontem, e de acordo com o convite que aqui transcrevi no passado dia 15, realizou-se no Arquivo Distrital de Leiria o Colóquio sobre Alexandre Herculano, louvável iniciativa do CEPAE, que só pecou por ter convidado cinco oradores para falarem sobre a figura policromática que foi A. Herculano. De facto, e apesar da intenção ter sido muito boa, já que se pretendia que cada um dos convidados falasse sobre um aspecto daquele Homem cultural, tornou-se demasiado longo o colóquio, dado que, por um lado, se realizou ao final da tarde de um dia de trabalho e, por outro, porque incluiu convidados de alto nível que não foram ali dizer apenas “umas palavrinhas” sobre o poeta historiador.


De todas as comunicações e, sem desprimor para as restantes, dou aqui especial realce à palestra do Professor Oliveira Martins. E explico porquê: é que, enquanto cada um dos outros palestrantes se debruçaram, e bem, sobre um aspecto do homenageado, quer fosse como historiador e historiógrafo (o Professor Saúl António), como poeta e escritor iniciador da narrativa histórica no nosso país (a Dr.ª Amélia Pais), como jornalista (o Dr. Adélio Amaro), ou como agricultor (o Eng. Carlos Fernandes), Oliveira Martins, tocando embora todos os aspectos do Homem de humanidades que foi Herculano, traçou o perfil do cidadão completo, do homem da cidadania, o homem que defendeu as instituições, o homem moderno e liberal, o homem do direito, o homem do municipalismo incipiente à época, o homem da fraternidade espiritual, da rejeição da superstição e da defesa do sagrado, o homem defensor da língua, da história dos factos (e não das lendas) e da cultura.







Posso aqui afirmar que com este Colóquio, em que a sala não encheu, Leiria disse um justo “Presente!” na chamada tímida das comemorações do bicentenário do nascimento de Alexandre Herculano.


3 comentários:

  1. Viva Carol

    Afinal estivemos os dois naquela sala. Concordo consigo. Apreciei o rigor das comunicações, que se entreviam extensas e que, exceptuando a Dra. Amélia Pais, tiveram que se conter e olhar para o relógio.
    Confesso que estaria o tempo que fosse necessário para poder apreciar toda a comunicação que a Dra. Amélia Pais tinha preparada. Mas, naquelas circunstâncias, deveria ter havido mais disciplina imposta pelo coordenador dos trabalhos. Eu assisti atá ao fim. Mas confesso que quando cheguei a casa, já eram quase 10 da noite. Péssima hora para se jantar, ainda por cima, tendo a sessão começado às 6 da tarde.

    Apreciei sobremaneira a facilidade com que o Dr. Oliveira Martins abordou o tema, na sua abrangência, o que não é de espantar, tratando-se de quem se trata.

    Fiquei contente por termos sido informados que a lápide trabalhada em cantaria, alusiva ao 1º centenário comemorado em Leiria em 1910, e que se encontra abandonada, atirada à trouxe-mouxe para o chão à entrada do Castelo de Leiria, vai ser colocada novamente no seu lugar; no Largo Alexandre Herculano, o da Fonte Grande (ou das Carrancas ou das 3 Bicas), de onde nunca devia ter sido retirada. Há uns meses atrás escrevi um post sobre esse assunto e perguntava se não haveria nenhuma entidade que se encarregasse de comemorar o II Centenário do Nascimento deste importante pilar da nossa Cultura e História.

    Estava a preparar um post de reportagem, mas, com o nível deste, se calhar já não valerá a pena.
    Quanto ao busto fiquei impressionado com o facto de ele já vir de 1910 e ainda estar ali bem conservado. Bom sinal!

    ResponderEliminar
  2. Espero que possa ler um comentário meu no meu blogue, a propósito do "Viver em Leiria".

    Pedia-lhe o favor de me desculpar pelo meu estilo desajeitado de escrever. Induzi-a em erro. Desculpe.

    ResponderEliminar
  3. Concordo com tudo o que disse no seu 1º comentário que agradeço. A minha colega Amélia Pais posta a falar nunca mais ninguém a cala. Falou muito bem, aliás como é seu costume, mas foi excessiva naquele colóquio; também entendo que o Ruivo tivesse alguma reserva em pedir-lhe que terminasse. Enfim! Não estive até ao final, o que me fez pena, porque não pude. Mas gostei mesmo do que vi. Foi muito bom!
    Sabe que não consigo aceder ao seu texto sobre este mesmo tema? Não sei porquê.
    Quanto ao eu 2º comentário, peço-lhe que esqueça tudo... En tendo que tivesse ficado desapontado com o meu comentário sobre viver em Leiria, mas é como já lhe disse: sou um bocado "desbocada"... e, garanto-lhe que não fiquei nem um bocadinho aborrecida. peço desculpa também.
    Beijo

    ResponderEliminar