segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

A Primeira Lua de Inverno





I
Repousa em redor a pequena vila.
Às luzes que cruzam a rua
Juntam-se lanternas de um fiacre.
Poluídos para alguns os frutos do dia,
Deixam o mercado agora ermo,
Sem uvas nem girassóis.
Ouve-se música através dos muros,
No jardim alguém tenta calar o apelo
De um amor recusado, ainda em chaga,
Mas na cascata a água precipita-se,
Fresca, num jorro rápido.



II
Acabou o Sol & o sino da tarde leva
Os deuses, um a um, a um passado provisórios,
Donde irão emergir para o grande cisma
Do Inverno, o primeiro sopro do qual
Já se ouve subir os píncaros da serra.
Para a deusa branca chegou o fim do seu enigma,
A sua ruína coroa agora as ruínas do castelo:
Aqui morrem os deuses & as borboletas.
Rejeitados olhando apenas,
Recíproco, um brilho no vazio.

M.S. Lourenço (1936 – 2009)



(E pensar eu que vivi ali tão perto do poeta M.S.Lourenço, decerto me cruzei com ele algumas vezes  ali nas escadinhas ou no Largo do Vitor onde ele vivia e... nunca o conheci...)




8 comentários:

  1. Não conhecia nem nunca havia ouvido nele falar. Por isso fui pesquisar, Graça!
    Manuel António dos Santos Lourenço, para além de ter sido um grande poeta e escritor, foi também tradutor e filósofo.
    Que pena terem ambos nascido em Sintra e nunca se terem cruzado, ou então, isso aconteceu e tu não sabias quem era!!
    A vida tem destas coisas.

    Beijinhos, boa semana, Graça!

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    1. E vivíamos ali pertinho um do outro... mas ele era mais velho. É pai do Frederico Lourenço que anda a traduzir a Bíblia do grego e já traduziu a Odisseia.

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    2. Ah, bem...filho de peixe, tinha que saber nadar!

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  2. Não conhecia.
    Estamos mesmo sempre a aprender.
    Beijinhos, boa semana

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  3. E eu já ando em contagem decrescente para a Primavera...

    Também não conhecia, nem o poema nem o seu autor.
    Por isso aprendemos todos uns com os outros.
    Achei bonito ele chamar deusa branca à lua. 🌙

    Ficou muito bonito este teu post... conseguiste dar-lhe um ambiente "místico" e romântico, tal como aquele que se sente e vive em Sintra.

    Beijinhos e suspiros
    (^^)

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    1. Obrigada, Clara! É que eu vivi em Sintra muitos anos - é a minha terra do coração...

      Beijinhos.

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