Deus e os meus amigos sabem que não sou seguidora de igrejas; aprecio, porém, a filosofia de vida e a forma sensata como aborda os graves problemas do mundo. Refiro-me a Francisco, o Papa. E foi ele que, na sua sapientíssima mensagem de Ano Novo, nos exortou, a todos, a interessarmo-nos pela política, pela forma como se governa a cidade (perspetiva da Grécia Antiga).
É nesta linha que eu me interesso pela política, seguindo a orientação de Francisco, o Papa.
Assim sendo, não me eximi de trazer aqui a bem concebida crónica que Carlos Esperança publicou ontem no facebook.
Brasil – Habemus PR
Bolsonaro. Consummatum est
«A tomada de posse de Jair Messias
Bolsonaro foi o ato final de legitimação do golpe de Estado contra Dilma. Lá
foi Michel Temer, que a traiu, a devolver a faixa presidencial, à espera da
prisão, pois, ao contrário de Lula, há gravações que provam a sua corrupção.
Da conspiração das Igrejas
evangélicas, com homilias, órgãos de comunicação e crentes destacados nas redes
sociais, sai mais poderoso o bispo Edir Macedo e mais próximo do Paraíso quem
paga o dízimo, em suaves prestações, na compra de uma assoalhada junto a Deus,
mas foram os grandes interesses económico-financeiros que aprontaram o golpe e
o conduziram.
Nos políticos conluiados com o
poder judicial, para afastar o previsível vencedor, Lula da Silva, estava o
juiz Sérgio Moro, cuja ambição dispensou um período de nojo entre a prisão,
investigação e julgamento do adversário político e a entrada imediata no
governo do fascista assumido, machista, homofóbico, racista, xenófobo e
violento.
Bolsonaro, depois de uma carreira
militar que terminou em capitão, de onde foi afastado por críticas públicas a
baixos salários dos militares e a um alegado plano para dinamitar os sanitários
da sua Academia Militar, foi para a política, onde se distinguiu mais pela
boçalidade do que pela atividade legislativa, nos 27 anos de Congresso Federal,
em que percorreu 8 partidos, sendo o último, PSL, que o indigitou para
candidato à Presidência.
Convidou pessoalmente para a
posse os primeiros-ministros de Israel e da Hungria e o chefe da diplomacia dos
EUA. O pudor ou calculismo afastou figuras de primeiro-plano internacional do
pungente espetáculo que contou com fortes medidas de segurança.
Em Portugal, a política externa é
competência exclusiva do Governo e o PR não define relações bilaterais, mas
representa o País em qualquer lugar. Apreciando os espetáculos mórbidos, mesmo
assim, parecia um erro de casting no cenário e não se percebe, depois da posse,
a obsessão por uma audiência, o desejo de ser figurante junto de tal figurão.
A enigmática afirmação, após o
breve encontro do homem de cultura, civilizado, com o troglodita tropical,
deixa um sentimento pungente a quem apreciava o discernimento de Marcelo: “Como
eu disse e como disse o Presidente Bolsonaro, era uma reunião entre irmãos e
entre irmãos o que há a dizer se diz rápido, como se diz em família”.
Não sei que interesses moveram
Marcelo na deslocação, podia ter enviado Cavaco, em sua representação, como
fizera no funeral de Bush-pai. Era a pessoa adequada ao papel e poupava-lhe a
participação no primeiro ato do funeral da democracia brasileira.
A presença do PR em Brasília foi
humilhante para ele e para o País. Numa atitude sem precedentes, só as
televisões portuguesas fizeram pior. Deram desmedido relevo ao ato, cúmplices
da vergonhosa promoção de Bolsonaro e da divulgação do seu ideário.
Para a posteridade ficaram também
as alarvidades bolçadas pelo gen. Hamilton Mourão, o vice-presidente, com
sequazes em delírio, como metáfora de uma ditadura de coronéis com a cultura de
cabos quarteleiros, capazes de transformar a presidência em caserna.»
Carlos Esperança. Facebook,
3/Jan/2019 (sublinhados meus)
A mim parece-me que o presidente Marcelo não tinha de ter tido este comportamento quase subserviente face a um proto-ditador, apaparicando-o, tratando-o de irmão, convidando-o a visitar oficialmente o país... Como diz o povo: «Não se pode estar bem com Deus e com o Diabo ao mesmo tempo».