(A antiga Escola D. Dinis - Leiria) |
Era um estilo à época: os Chefes
da Secretaria dos Liceus e das Escolas tinham quase tanta importância nos seus
postos como os Reitores ou os Diretores. Era assim nos idos de 50, de 60, de
70, mesmo nos primeiros anos depois do 25 de Abril.
Disso dei conta quando cheguei à “minha”
Escola D. Dinis, em Outubro de 74. Colocada por concurso nacional, na antiga qualidade
de professora agregada com estágio feito em Inglês e Português, não fui
recebida pelo Diretor, mas pelo Chefe da Secretaria. E foi o Chefe da
Secretaria que me atribuiu o horário e foi com o Chefe da Secretaria que
reclamei, negando-me a aceitar um horário preenchido apenas com turmas de
História que não era a disciplina para a qual eu tinha habilitação e
profissionalização. Nesse momento, o momento da minha reclamação, a Secretaria
parou e todos os funcionários – uns cinco ou seis – olharam para mim com ar de
grande espanto. Que miúda era aquela, fresca e de saia bem curta, que se atrevia
a contestar o determinado pelo Chefe?! Mas o Chefe foi lá dentro – decerto falar
com o Senhor Diretor – e regressou com outro horário, este com turmas apenas de
Português, e acompanhado de dois professores que, simulando fazer não sei que
tarefa, me observaram disfarçadamente.
Nova e pouco experiente ainda,
dado esse meu feitio determinado, muito cedo ascendi à vice-presidência do
Conselho Diretivo. Àquele Chefe da Secretaria, dois ou três anos depois,
sucederia uma outra que, não obstante ter um feitio difícil e aquela sobranceria
própria dos Chefes de Secretaria, sempre nos entendemos bem. Conseguiu ser um bom
apoio quando, ainda muito jovem, fui, pela primeira vez, presidente do Conselho
Diretivo. Entretanto, com as mudanças de paradigma e de atitude trazidas pelos
ares da Democracia, a Chefe, essa Chefe, soube sempre desempenhar o seu papel de
apoio à direção e ao serviço da Escola. Aposentou-se em inícios de 90,
tendo-lhe infelizmente sucedido uma daquelas Chefes de Secretaria ao estilo do
outro tempo, arrogante – se bem que muito sabedora do seu ofício – soberba,
desconfiada, indelicada, daquelas que, em vez de saber funcionar como um bom
apoio da direção e uma vantagem para a Escola, nada mais fez do que servir de
elemento fraturante, causadora de incomodidades e de mau ambiente com a direção
e com os professores e com os funcionários em geral. Uma pena! E um
desconforto.
Foi aquela primeira Chefe de
Secretaria que encontrei ontem na cidade. Viúva, só e algo debilitada, mas de
sorriso aberto para receber o meu abraço. Conversámos um bom bocado como duas
boas amigas. Acabei por lhe dizer que sempre gostara muito dela. Gostara? Sim,
parece-me que si. Nunca esqueci foi a sua atitude de apoio, de delicadeza, de um como que entendimento epistemológico de serviço.
Gostei de ler o seu post; nesta actividade profissional e durante tantos e tantos anos , tivemos de lidar com gente muito diversa. Eu , apenas tive chefe de secretaria mulher , num liceu feminino , o D. Maria em Braga , onde só havia mulheres....um horror a começar pela reitora ,que entrava na sala dos professores rodeada de um séquito , parecia a corte do Henrique VIII....Ai de quem não ia à missa...eu não ia...enfim, já lá está . no céu , talvez.
ResponderEliminarPor cá , desde gente decente , também apanhei quase analfabetos , amigos dos copos etc etc.De qualquer modo , nunca tive probblemas , tenho o nariz empinado quando quero e graças aos meus pais tomei chá desde muito pequena.
M.A.A.
Passei por isso tudo no Liceu Maria Amália, nos idos de 60. Lá também só entravam mulheres. Havia o sr. Carlos, que era o jardineiro, e era mais velho do que a estátua do Marquês.... e, por vezes, um rapazito que ia levar a fruta ao bar. De resto, só mulherio!
Eliminar~~~
ResponderEliminarA maioria dos professores detesta trabalho burocrático e trata os funcionários
com notória soberbia, a que eles correspondem por processo análogo.
Afinal, o tal chefe até foi solícito e resolveu imediatamente a questão, que não
dependia da sua decisão, como ficou evidente e hoje sabes muito bem.
É, precisamente, quando assumem responsabilidades no Conselho Diretivo,
que os professores começam a respeitar o trabalho metódico e minucioso
dos funcionários, estabelecendo-se grandes parcerias e cumplicidades.
~ Professora e filha de funcionária dos Serviços de Educação, conheço as
relações que descreveste como as palmas da minha mão.
~~~ Beijinhos.~~~
~~ 'como as palmas das minhas mãos'.~~
EliminarInfelizmente alguns professores tinham/têm a mania de tratar os funcionários administrativos e auxiliares de cima para baixo, o que não abona nada em seu favor. Mas nunca foi o meu caso. Até porque uma das minhas tias foi, durante anos, "contínua" no Maria Amália. Era a D. Adélia Sampaio do corredor do rés-do-chão - será que te lembras dela?
EliminarBeijinhos e abraços.
~ Não lembro, querida amiga.
Eliminar~ Tem uma noite excelente.
~~~ Beijinhos. ~~~~~~~
~~~~~~~~~~~~~~
Gracinhamiga
ResponderEliminarNo meu Lyceu Camões (reza assim no frontispicio...) e ao longo dos sete anos que então havia tive apenas um Chefe da Secretaria, o sr. Santos que se dizia que era informador da PIDE. Não mandava tanto como o reitor Sérvulo Correia, o Cabeça de Martelo que era um ditador, mas... quase.
Tinha um filho, meu colega de turma, o Manuel Santos que ficava pior que estragado quando dizíamos "o gajo é da PIDE (que então ainda não tinha sido rebaptizada pelo Marcelo Rebe, oops, Caetano como DGS) e que normalmente respondia "PIDE é o car...valho.
Na Faculdade de Direito da Universidade Clássica de Lisboa foram tantos e tantas que já nem recordo; águas passadas...
NB - O endereço "verdadeiro" do meu querido e amado blogue é
http://atravessadoferreira.blogs.sapo.pt/ Já lá podes entrar e comentar :-))))))
Com que então recordações pidescas, hein, Henriquamigo?! Nesse tempo eram tantos os informadores da PIDE que até fazia impressão!
EliminarBeijinhos
Outros tempos, Graça! Inevitável recordá-los...
ResponderEliminarBeijos. :)
Tempos complicados, Maria Tu...
EliminarBeijinhos
A competência de um chefe (onde não se inclui a prepotência, nem despotismos, nem soberba, nem estupidez), merece respeito desde que respeite aqueles a quem chefia.
ResponderEliminarSenão, por mais que saiba do seu ofício, não é verdadeiramente competente.
(e eu sei do que falo).
Beijos e sorrisos :-))
Merece o maior respeito como o de outro qualquer trabalhador - desde que ele próprio saiba respeitar os outros. Também sei bem do que falo.
EliminarBeijinhos sorridentes, sempre!
os "Chefes de Secretaria" eram uma Instituição... rss
ResponderEliminarbeijos
Eram mesmo!!!
EliminarBeijinho
Lembrar velhos tempos...
ResponderEliminarBom serão
Às vezes vêm-me estas coisas à memória...
EliminarBom fim de semana!