Que fique desde já muito claro que eu sempre fui pela cigarra e que a sonsa da formiga sempre me enervou...
Trouxe a ideia do blog do Centro Nacional de Cultura que tem sempre textos muito bons e depois lembrei-me que o poema do nosso excelente surrealista Alexandre O'Neill foi cantado pela Amália, cujo centenário de nascimento está a celebrar-se.
Por isso, aí vai:
MINUCIOSAS FORMIGAS, CIGARRAS GAITEIRAS…
«Minuciosa formiga
não tem que se lhe diga:
leva a sua palhinha
asinha, asinha.
Assim devera eu ser
e não esta cigarra
que se põe a cantar
e me deita a perder.
Assim devera eu ser:
de patinhas no chão,
formiguinha ao trabalho
e ao tostão.
Assim devera eu ser
se não fora não querer».
E agora a Amália (sem fado...)
O poema de Alexandre O’Neill merece atenção especial,
sobretudo neste momento em que o debate lusitano sobre a pandemia Covid-19 se
torna uma grande encenação de passa-culpas. Como é hábito antigo, passamos
rapidamente dos melhores do mundo para os piores. Do milagre para a maldição…
Ora formigas, ora cigarras – e esquecemo-nos que somos, sempre fomos, as duas
realidades como toda a gente. Felizmente! E razão tem o Alexandre O’Neill –
“Assim devera eu ser / se não fora não querer”. (...)
Temos
de cuidar dos exemplos das minuciosas formigas e das gaiteiras cigarras. Ou
seja, temos de saber ser formigas gaiteiras e cigarras minuciosas. Que é a arte
senão o sentimento e o cuidado? (...)
Esopo
ensina-nos sim que a vida não pode esquecer o outro lado das coisas. Daí as
representações pedagógicas do mundo às avessas. Poderia a formiga viver sem a
música das cigarras? Poderia a cigarra viver sem o trabalho das formigas? Claro
que não. Uma fábula é um paradoxo ilustrado. Temos sempre de a ver o direito e
o avesso… (...)
[com o Covid] Tudo
pode ser mais simples – se redobrarmos as cautelas e se soubermos ser boas
formigas e melhores cigarras…
"" “Assim devera eu ser / se não fora não querer”""
ResponderEliminarAqui diz tudo. Ninguém olha para dentro de si mesmo. A irresponsabilidade é gritante. E o covid-19, que "nasceu" para matar, até parece rir de tanta ignorância que existe entre muitos humanos.
Amália uma fadista única.
Ouvi-o, há poucos dias, a caminho do trabalho, esse tema cantado pela Amália. E ainda há pouco eram as cigarras que eu ouvia, a fazerem horas extraordinárias. Sim, porque isso de elas não trabalharem é um mito urbano criado pelas formigas. :)
ResponderEliminar...se não fora, não querer!!
ResponderEliminarEssa é que essa! No NÃO querer, e assumi-lo, é que eu ando a apostar.
Sabes que ando numa de "não querer" ser a eterna boazinha sempre a fazer tudo em prol da paz e da concórdia, Graça?
Se tiver de deitar a 'casa abaixo' para fazer ouvir a minha voz, deito, e a casa que caia...:))
Gostei de ouvir a Amália neste Samba com letra do O'Neill e, curiosamente, no tempo em que o ouvia na Rádio, não lhe achei gracinha nenhuma.
Beijinhos.
"Que fique desde já muito claro que eu sempre fui pela cigarra e que a sonsa da formiga sempre me enervou." Esta declaração inicial deixa ampla claridade sobre a necessidade de se recorrer aos Myrmecophagidae , que é uma família de mamíferos pertencentes à ordem Pilosa, conhecidos popularmente por tamanduás ou papa-formigas.
ResponderEliminarQuando estão na governação chamam-se "centrão" e as formiga estão bem prejudicadas (com F grande)
Asinha asinha é patuá.
ResponderEliminarVois vai papiá unchinho di patuá asinha asinha.
Beijinhos
Graça, sempre gostei da cigarra!
ResponderEliminarmas sei que a formiga é bem necessária com o seu estilo trabalhador
e poupadinha! quem tudo gasta…
vemos os tempos que correm… não se sabe no que vai dar
mas sem uma boa musiquinha ainda fica pior!
beijinhos
Isso mesmo!
ResponderEliminarNem 8 nem 80!
E viva a cigarra que há em nós para animar a formiguinha que tem de trabalhar!
Abraço
Gostei desta publicação Graça e recordar não só a "Maldição da formiga e da cigarra", a voz de Amália e a poesia de Alexandre O’Neill, que se enquadra bastante bem nesta conturbada época pandémica.
ResponderEliminarFica bem e cuida-te
Abraço
grande a "cigarra" Amália!
ResponderEliminarbeijo
Amália e Alexandre, bela conjugação.
ResponderEliminarComo sempre, Portugal oscila de um extremo ao outro.
Beijinho e bom final de semana
Maravilhoso ouvir Amália com este poema de O'Neill cheio de ironia e lucidez. A propósito lembrei Torga que disse: quem não canta pode morrer de fartura...
ResponderEliminarUma boa semana com muita saúde, minha Amiga Graça.
Um beijo.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarA imagem pareceu-me conhecida, talvez já a tenha visto num livro antigo da minha mãe. Quando me contaram a história pensei que sem ser como a cigarra deveria ser como a formiga. Gostei da ideia de podemos ter um pouco das duas
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