domingo, 25 de novembro de 2018

Não o fazem apenas os políticos...


Esta é mais uma história da minha rua.

A vizinha tinha (e tem) muito mau feitio. Diziam, por eufemismo, que “tinha o nariz arrebitado”. Eu, que sempre a conheci por dentro (e até gostava dela: se calhar ainda gosto, sei lá!) sempre achei que o fazia por grande défice de educação e de boas maneiras.

Por de mais autoritária, gritava tanto lá em casa que se ouvia em toda a vizinhança. Tudo a toque de caixa. A prole tinha-lhe um “respeitinho” exacerbado que os fazia obedecer-lhe ao minuto. Lá em casa não entrava (nem entra) ninguém – crianças então nem pensar – porque tudo estava (e está) museologicamente exposto sem lugar a mínimas mexedelas…

De um humor altamente variável, eram (e são…) mais as vezes que passa e quase não fala (ou não fala mesmo) às pessoas, mesmo as mais chegadas do que aquelas em que se digna notá-las. Algumas dessas vezes é capaz de falar sem parar, de contar chistes e de falar nos bons velhos tempos com a maior emoção.

Amigos fazia-os com grande facilidade e, enquanto lhe convinha eram umas amizades excessivas com encontros e prendas constantes, até ao dia em que, por qualquer motivo, se desagradava deles e pof! Acabavam-se as amizades…

Extremamente vaidosa e bastante conflituosa, sempre se arrogou o direito de desconfiar, julgar e maldizer quem quer que fosse – nomeadamente os que que eram mais próximos.

Daquelas pessoas com quem, apesar das prendas que, por vaidade, gosta(va) de distribuir pelo Natal, nunca se pôde, nem pode contar para nada.

Conseguiu, com os seus comportamentos desmedidamente azedos, afastar, ao longo dos tempos, os familiares jovens mais próximos que, já adultos, só lhe falam por educação.

Agora que – como a todos nós sempre acaba por acontecer – a Vida lhe tem desabado em cima com toda a espécie de maldades, quer dar uma imagem de santidade (que nunca se preocupou em ter) como aquelas pessoas que, para o fim da vida e com o terror da morte e da doença se viram para os deuses que sempre desprezaram. E trata de querer branquear todo um passado de desconformidade dizendo e repetindo: «que é que eu fiz, para merecer isto tudo?»; «qual foi o meu grande pecado?»

Entretanto, e perante educada indiferença com que é tratada por aqueles que toda a vida desfeiteou, lamenta e diz não entender as razões de tal distanciamento, de tal frieza de comportamentos… «Gostava de lhes perguntar que mal lhes fiz!» - reclama continuadamente.

Não são, de facto, apenas os políticos que pretendem branquear os erros passados…




15 comentários:

  1. Nessa tua rua vive gente que é um manancial de temas para dissecares no blogue. Até me lembrei da rua da Mariquinhas:

    É numa rua bizarra que
    mora a nossa Gracinha
    vive lá gente tramada,
    que sem ter assento no Parlamento
    quer parecer ter vida branquinha…

    Beijinhos, boa semana, Graça! :)


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  2. Há pessoas que não têm mesmo consciência daquilo que são e fazem.
    Acabam por ser uns infelizes...
    Beijinhos, boa semana

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  3. Olha que eu também tenho o nariz arrebitado, Graça!

    Também digo muitas vezes: "Que fiz eu a Deus?", mas noutro sentido. Na felicidade que tenho com a minha família, com os amigos e até mesmo com os amigos virtuais.

    Votos de uma semana só encontrando pessoas agradáveis 🤗

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  4. Que mal lhe fiz eu?
    Detesto ouvir esta expressão...acho que diz tudo!!! Bj

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  5. E muitos que fazem de coitadinhos...
    Gostei de ler:))

    Hoje : As palavras ternas do meu dicionário

    Bjos
    Votos de uma Segunda-Feira

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  6. Olha que eu também tenho o nariz arrebitado! :)
    A propósito de Deus, Ele que nos livre de maus vizinhos, como dizia a minha sogra!

    Abraço

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  7. E há tanta gente assim, Graça…
    Uma boa semana.
    Um beijo.

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  8. Há gente que esquece o que fizeram e agora erguem as mãos para o céu .
    Costuma dizer-se , cá se fazem cá se pagam.

    Boa semana

    Beijinhos Graça

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  9. Colhemos o que plantamos, não é assim, Graça?
    Abraço.

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  10. Achei muito divertida a tua paciente descrição de tal 'cromo'...
    Ácidas há mais do que se pensa... Lembro-me de uma colega que todos os dias aparecia com o seu ar de limão verde e até o seu «bom dia» sabia a azedo.
    Gostei de te ler.
    Beijinho doce.
    ~~~~

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  11. cá se fazem, cá se pagam!
    e é bem feito ...

    (apenas não percebo ao que vêm os políticos!
    seria a senhora em causa deputada da direita?)

    beijo

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    1. É que os políticos também costumam querer branquear os comportamentos antigos...

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  12. Queridas meninas de «nariz arrebitado», nem todos os narizes arrebitados são como aqui o da vizinha... :))

    Beijinhos para todos os meus simpáticos comentadores.

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