sábado, 5 de março de 2016

A Alma Vagueante

Começaram em 11 do passado Setembro com Ferreira de Castro. As crónicas literárias sobre escritores nossos, famosos, excelentes, esquecidos, preferidos, mal-amados, todos eles já desaparecidos, da autoria de Mário Cláudio. Todas as sextas-feiras saía um texto extraordinariamente bem delineado sobre mais um autor: Luís Miguel Nava, Ilse Lose, Vergílio Ferreira, Urbano, Jorge de Sena, Abelaira, Manuel António Pina, Olga Gonçalves, Régio, Natália, Saramago, Óscar Lopes, Pedro Homem de Melo, David Mourão-Ferreira, Luísa Dacosta, Eduardo Prado Coelho, Guilherme de Melo, Namora, Graça Moura. Rubrica com o nome de «A Alma Vagueante» que nunca falhei, todas as sextas-feiras. Uma das poucas atrações que restavam ao DN.

Há duas semanas, o escritor Mário Cláudio foi convidado da Livraria Arquivo para estar à conversa com os seus leitores leirienses. Também não falhei. É que, como já aqui deixei dito, considero um privilégio estar na presença dos criadores de obras de boa literatura, dos tecelões da palavra, por isso gosto de ir ouvir os autores meus preferidos.



Tive oportunidade de participar no diálogo e comecei por cumprimentar e agradecer a Mário Cláudio as excelentes crónicas literárias que assinava no DN que, para além de supinamente bem escritas, revisitavam e relançavam autores nossos já desaparecidos e que bem precisam sempre de ser relembrados. Foi-me respondido, com muita pena minha, que na semana seguinte, iria para o prelo a última das crónicas porque Mário Cláudio tinha sido um dos colaboradores – vinte e cinco, salvo erro – dispensados por questões de poupança no jornal. Entretanto, o autor de Astronomia não deixou de referir, num tom de uma amarga ironia, que dos comentadores de futebol e de economia nenhum tinha sido dispensado. Foram-no sim os do âmbito das artes e das letras…

E assim, na semana passada ainda pudemos ler a crónica literária dedicada ao poeta Eugénio de Andrade que, no final, vinha acompanhada de uma notinha escrita com letra miudinha e que dizia assim: «Este é o último texto da série assinada por Mário Cláudio publicada no DN à sexta-feira.» Ponto final, parágrafo.

Ontem, sexta-feira, já não houve texto literário. Uma pena. Por uma questão de poupança...

11 comentários:

  1. Os jornais são como os governos. Quando têm que cortar, cortam na cultura. Afinal não lhes interessa que o povo seja culto. Quanto menos o seja, mais fácil a manipulação.
    Um abraço e bom Domingo

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  2. Só o título "A Alma Navegante" já era um prenúncio de boas crónicas literárias, Graça!
    Lentamente, estamos a voltar aos velhos e execráveis tempos do antigamente: quanto menos cultura, informação e saber, melhor!
    Custa a acreditar, mas o que o escritor referiu é a mais pura verdade. As páginas desportivas, em qualquer jornal, têm uma grande supremacia sobre tudo o que esteja ligado à literatura, ao teatro e às artes plásticas. Futebol, então...

    Alienar ainda será preciso??

    Bom Domingo, Graça!

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    1. Entre 'Vaguear' e 'Navegar' haverá muita diferença?

      A alma vagueia pelo mar, a navegar...

      Desculpa lá Graça!

      Coisa de comentar fora de horas. :(

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    2. Não há desculpas a pedir aqui, Janita querida!
      Tens razão: Futebol, Fado e Fátima - é o que interessa para ter o povinho na mão!

      Beijinhos. Boa semana.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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    1. ~~~
      Como pode um povo resistir sem a sua cultura?!
      Estará, também, condenado à pobreza de espírito?
      Situação que, além de dramática, está a atingir um nível calamitoso.

      ~~~ Beijinhos solidários. ~~~

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  4. É sempre o mesmo conceito de prioridades:dinheiro!
    Bjs e boas leituras.

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  5. As prioridades dão para tudo, sobretudo para o disparate! :(
    Também li!

    Abraço

    LM

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  6. Amiga Graça, aqui, neste teu excelente testemunho está bem expresso as prioridades deste país.
    Um povo inculto é um povo submisso.

    Um beijinho e boa semana

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  7. Estamos todas de acordo: quanto menos o povo souber, melhor... Mais facilmente se domina! E este povo também pouco se esforça para contrariar a tendência... Que se há de fazer?!

    Boa semana, amigos/as.

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  8. E eu que não fui...
    Poupança uma gaita.
    Poupança para outros encherem a pança!
    Boa semana.

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