sábado, 28 de março de 2015

Padam Padam




Acordei um dia destes a com esta toada na cabeça. Sou assim com a música. Tenho dias que me levanto com uma melodia na lembrança e ando o dia todo a trauteá-la. E agora, que estou a ficar um bocado «fora de prazo» (que é como quem diz, velha…) assomam-se-me à mente canções muito antigas daquelas que aprendi a cantarolar com o meu pai, minhoto bem alegre e conhecedor de boa música que andava sempre a assobiar – hábitos dos anos 40/50…

Antes de haver televisão (os primeiros ensaios de televisão em Portugal aconteceram em 1957 e nós só tivemos um aparelho em casa lá para 59/60 quando já estávamos em Sintra) quando ainda vivia em Algés com a minha avó, os serões eram curtos e enfadonhos: ouvíamos rádio, os meus avós liam o jornal e eu via revistas ou brincava com bonecas de papel de vestir ou com a minha colecção de pratas dos chocolates que alisava e coloria na braseira. Lembro-me de ouvir o repetitivo tique-taque do relógio de corda até serem horas de ir dormir.

(daqui)

(daqui)

No verão porém, as noites eram bem diferentes: depois do jantar e da cozinha arrumada, a minha avó e eu descíamos a Avenida até à Alameda onde se situavam as esplanadas. No Pavilhão Verde havia uma orquestra que tocava música de baile e um cantor que cantava com uma voz melodiosa e  quente Padam, Padam, Padam... Outras vezes cantava:

Dominó, Dominó!
Em amor assim te têm chamado
Dominó, Dominó!
Porque sempre te tens ocultado…

E as senhoras, de saias rodadas até meio da perna, dançavam de cara encostada aos seus pares e nós assistíamos de longe sentadas num banco de jardim ao divertimento de uma classe a que não pertencíamos – que nesse tempo a separação entre as classes era muito acentuada. De regresso, subíamos a avenida e se o Milho Rei – uma pequena pastelaria que cheirava a figos secos – ainda estivesse de porta aberta, comíamos um merengue e seguíamos até casa.

25 comentários:

  1. Algés, assim?
    Estas não perco!
    Sou "novo"
    Mas ainda me lembro!

    ResponderEliminar
  2. Gracinhamiga

    Uma vez mais és uma malandreca de alto coturno. Fazes-me lembrar exactamente o mesmo (mas sem as bonecas...) A partir dos 12 anos passei a morar no bairro do Restelo e a nada no Algés e Dafundo. A vida é assim: estivemos tão perto e não nos conhecemos...

    Mas vamos recuperar esse tempo de outros tempos na reunião/almoço da "responsabilidade" do Ruiamigo, cuja fonte não é a das sete bicas... mas das cento e sete; contei por alto as/os comentadoras/es e não sei se falhei... A Raquel irá comigo, obviamente. Até lá

    Qjs bem temperados e apimentados

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Que bom Henriquamigo que vou ter oportunidade do o conhecer e à Raquelamiga!! Estou mesmo contente. Não calculava que estivessem já de regresso à Pátria Lusa...

      Beijinhos e abraços.

      Eliminar
  3. Que bem sabe relatar "o tempo do nosso tempo "...era assim mesmo.
    Na década de 50 , não conhecia essa zona , mas por cá , nas verbenas do jardim era a mesma coisa.
    M.A.A.

    ResponderEliminar
  4. Oh ! .. Graça ! ... Que bem sabe recordar ! ... aparte a emoção que nos pode fazer mal ao coração, mas bem à alma ! ... Olha os sorvetes de barquinho a 2 tostões e de copinho a 5 tostões ! rsrsrs
    Sabes que assisti ao vivo e em directo à 1ª emissão experimental da RTP na Feira Popular, em Lisboa ? ...
    Tal como diz o HenriqueAmigo, estamos a precisar ... daquele abraço !!!
    .

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Vai ser muito bom conhecermo-nos! Vai ser mesmo muito giro!

      Eliminar
  5. Que bom ter lembranças agradáveis para recordar.
    Um abraço e bom Domingo

    ResponderEliminar
  6. Amiga Graça, sabes que adoro Edith Piaf , a música francesa também estava no auge na minha juventude.
    Vivi em Belém nos anos 70 e a minha melhor amiga morava em Algés, portanto conheço bem essa alameda.
    Ultimamente também ando nostálgica, deve ser por se aproximar mais um aniversário :)

    um beijinho

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Pois é, amiga Fê! Estamos quase a fazer mais um ano! Que bom! Quantos mais, melhor!

      Beijinhos

      Eliminar
  7. Tenho boas memórias de minha infância e os serões não eram nada enfadonhos. Meus pais iam variando entre os jogos da Glória, dominó, e uns outros da "Majora", as bonecas de papel, as pratas dos chocolates, e as histórias, tantas...

    ResponderEliminar
  8. É bom recordar, Graça.
    Gosto muito de ouvir Piaf.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Também eu! Gosto muito da música francesa dos bons velhos tempos.

      Eliminar
  9. Interessante o seu texto. Só não concordo com a frase: «fora de prazo» , Que é isso?!...

    ResponderEliminar
  10. Um prazer estes relatos. Têm cheiros, sabores, tonalidades...

    Um beijo

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Há que dar vida ao texto... e à memória. Obrigada, Lídia.

      Eliminar
  11. Já percebi que sou um pouco mais novo que tu, mas lembro-me que tive televisão em 1960 e pouco. Já não posso precisar quando. E lembro-me também das idas a Algés para o lanche em família !

    ResponderEliminar
  12. Que engraçado, gostei da Piaf fez-me lembrar o meu pai que gostava muito dela, eu também gosto mas lembro-me mais da Mireile Mathieu ( desculpa. mas já não sei como se escreve ...). Não me lembro de Algés assim mas ainda me lembro da Praça de Touros. Adoro estas recordações....também queria muito ir a Leiria mas se calhar tenho trabalho, só saberei na primeira semana de Abril...
    xx

    ResponderEliminar