terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Ai as escolas secundárias!

Não, não tem nada a ver com aquela musiquinha dos loucos anos 80 do Perfume Patchouly! É mesmo para falar das Escola Secundárias e, desde já, apresento as minhas desculpas se, por acaso, vou melindrar algum/a do(a)s possíveis leitor(a)s deste texto.

Foi notícia de fim-de-semana nas televisões (nem sei como tiveram tempo e lembrança de falarem de uma questão de educação no meio do “arraial minhoto” que montaram à volta do congresso/circo do PSD!) e teve direito a uma página inteira no jornal diário: que o número de alunos com necessidades educativas especiais (NEE) duplicou no secundário e que as escolas secundárias não estavam preparadas para tal «boom».

Diziam então que, entre 2010/11 e 2012/13 a percentagem de alunos com NEE inscritos no ensino secundário cresceu 81% por causa do alargamento da escolaridade obrigatória para 12 anos. E logo veio a terreiro o ilustre presidente da Associação Nacional dos Diretores Escolares afirmar que “as escolas secundárias não estavam preparadas para os alunos com NEE”. E acrescenta «sem rodeios» - diz o jornalista – que “os alunos passaram a ser obrigados a chegar aos 18 anos nas escolas. Antes, de uma forma ou de outra, iam saindo”.

Pasmei! Não pelo conteúdo das declarações do ‘ilustre senhor’, que essas já eu esperava, mas pela forma desabrida e despudorada como foram feitas. Sabemos – eu, pelo menos, sei há muito e com um “saber de experiência feito” – que grande parte dos ‘senhores’ professores do ensino secundário nunca ultrapassaram os tempos em que a Escola Secundária era o Liceu, onde quem aprendia, aprendia e quem não aprendia era mandado embora – ou nem sequer chegava a entrar! Quem se lembra ainda dos obscenos Exames de Admissão aos Liceus? Mas nem é preciso ir tão longe na História da Educação. Depois do alargamento da escolaridade obrigatória para o 9º ano em inícios de 90, a admissão às escolas secundárias era feita a partir de uma escala de classificações obtidas no 9º ano. Os alunos com NEE, portanto, nem pela porta da escola secundária passavam e se, por acaso, lá entravam, “chumbavam logo em outubro” costumava eu dizer ironizando …

O alargamento da escolaridade obrigatória para os 18 anos (concorde-se ou não) foi determinado pela Lei 85/2009, não foi ontem ou no mês passado. E o senhor presidente da associação dos senhores directores vem, em pleno 2014, dizer que “as escolas secundárias não estavam preparadas para…”?! E muito me espanta que não tenha também largado aquela máxima que muitos (muitos, mesmo!) professores gostam de largar dizendo que “não lhes deram formação para…”

Para o que as escolas secundárias não estavam preparadas era para receber todos os alunos, todos mesmo, sem pôr uns tantos, ou muitos, de lado sem grandes preocupações até eles desistirem e irem embora ou mesmo serem mandados embora.

Nós, “pobres” professores dos 2º e 3º ciclos (detentores, não obstante, da mesma ou mais alta habilitação, mas muitas vezes olhados com um estatuto de menoridade em relação aos do secundário) que há anos, muitos anos mesmo, fazemos de tudo para levarmos todos os alunos (com NEE, com graves problemas sociais, filhos de famílias por de mais disfuncionais, etc. etc.) a saírem da escola com um diploma que lhes permita serem olhados como pessoas com determinada aptidão, sempre soubemos que, quando estes alunos chegassem às escolas secundárias, estas – e em especial muitos dos seus professores – não estariam preparados!

Porque não queriam. Porque nunca acreditaram que isso pudesse vir a acontecer.







9 comentários:

  1. Se me é permitido... Digo desde já que conheço algumas pessoas com necessidades educativas especiais (devido a problemas motores) e na "básica" conseguiam ser os melhores alunos na turma. Quando chegam à secundária (falo de casos que acontecem na minha escola) as notas caiem de uma forma incrível... Eu não digo que seja por falta de apoio em termos lectivos, mas sim em meios físicos. Os "deficientes" são tratados como lixo! Não têm um elevador para poderem ir para o primeiro andar, tem que se arrastar pelas escadas (pelo menos na minha escola é assim). Eu penso que mais importante do que o apoio lectivo, é preciso carinho. Porque nas "básicas" estas pessoas são acompanhadas de uma forma carinhosa e ali, são o deficiente. São mal tratados! Principalmente, pelos órgãos responsáveis.

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  2. Entendo, Joana, e lamento. Têm de passar ainda alguns anos para que deixe de ser assim.

    Volte sempre!

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  3. A uma das minhas sobrinhas foi diagnosticada dislexia logo nos primeiros anos escolares, a professora considerou logo que não a sabia ajudar. E não ajudou, antes pelo contrário, fez com que a miúda se desinteressasse cada vez mais dos estudos e fosse considerada pelos colegas de "burrinha".

    Mas pior mesmo foi já na escola C+S, onde tinha uma aula especial de 50 minutos com outros colegas com (essa e outras) dificuldades de aprendizagem e o professor, não contente por lhe terem dado aquele horário, passava a vida a insultar aqueles miúdos de burros e parvos. Sempre pensei que para dar um apoio desses era preferível não dar nenhum...

    Beijocas

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  4. A seguir, fale-me do abandono escolar. Promete?

    Seu final me sugeriu isso...

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  5. Estando muito a leste do tema fico com a impressão que, se não há preparação, é precisamente por não ter havido vontade nesse sentido.
    Quando é assim, nada a fazer.
    Beijinhos

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  6. Mas se a inclusão já é praticada, em Portugal, há cerca de vinte anos!

    A Joana Silva tem razão, a atenção, o cuidado, a delicadeza e o carinho, são fundamentais.

    Muito bem exposto e comentado, Graça. Aplaudo esta tua generosa e louvável iniciativa.

    É preciso denunciar as situações, é um dever de cidadania e, neste caso, humanidade.

    Um dia verdadeiramente bom.

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  7. Hoje (ontem) há aqui material puro e duro. Quando um assunto aparece na tv e nos jornais de forma concertada significa que não se trata de jornalismo mas de encomenda. Quando a desembrulhamos devemos ter cuidado com o que vem dentro.
    A Graça Sampaio despertou com esta mensagem vários problemas que, por si só, dão pano para mangas, embora eu só conheça a escola como aluno.

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  8. O que está mal na Escola, Graça, é de tal envergadura que se deveria reescrever a palavra e o conceito.

    Um dia talvez conte.E os professores têm e devem arcar com a responsabilidade do estado grave que se vive nas escolas - ensino e disciplina.

    Beijinho

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  9. Nada a ver com "Perfume Patchouly"? se tu o dizes...

    mas devia, mas devia...

    (enfim,digo eu que nunca fui professor, mas que ficou a conhecê-los bem...)

    beijo

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