terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Bacoradas

O respeitável jornal diário DN brindou-nos, na passada sexta-feira, com mais uma «luminária» na rubrica «O Convidado» que pretendeu «iluminar-nos» com as suas doutas opiniões sobre a Educação no nosso país. Diz-se que não há país onde haja tantos “treinadores de bancada” referindo-se ao futebol. Pois eu atrevo-me a afirmar que todas as pessoas sem exceção neste país sabem tudo acerca da Educação. É o caso do convidado do DN da passada sexta-feira, o senhor Guilherme Valente, com o subtítulo de «editor da Gradiva».

Ora esse ilustre senhor, nado e criado em Leiria, esta também ilustre terra de direita, escreveu um livro (abjecto, diga-se) que tem o também abjecto título de «Os Anos Devastadores do Eduquês» que está muito para além da bibliazinha de bolso que o ministro (C)rato escreveu em 2005 e na qual dava a conhecer, com alguns anos de avanço, as bases da sua futura estilhaçante governação em termos de Educação.

Pois aquando do lançamento desse seu livro em 2012, o insigne leiriense foi convidado pela Livraria Arquivo para vir apresenta-lo na sua terra natal e teve honras de grande entrevista (que pode ser lida aqui) no Jornal de Leiria (que, aliás, pertence à mesma família da referida Livraria) na qual explanou, sem qualquer rebuço, toda a sua teoria – e o seu ódio – sobre os males da Educação desde a Revolução e de como era bom o ensino antes da mesma.

No texto que escreveu para o DN, «Os anos devastadores de eduquês – outra prova», o senhor Valente foi ainda além do que registou no seu  bisonho livrinho e do que disse na dita entrevista. Baseando-se num qualquer estudo da Universidade Católica e do Instituto Luso-Ilírio para o Desenvolvimento Humano, que, segundo este senhor, concluiu que «os portugueses com mais habilitações e mais rendimentos são os que dão menos importância à solidariedade e aos valores democráticos» [quanto a mim, na base desse estudo devem ter estado entrevistas aos boys do PSD e do CDS…] o senhor afirma, cheio de razão, que «quanto mais tempo na escola que temos tido, pior.» E continua: «A solidariedade, o seu sentimento e necessidade, a felicidade, seguramente, só podem assentar nos grandes valores e nas manifestações mais elevadas da cultura, do conhecimento, da religião, do altruísmo, da generosidade humanos. Valores, conhecimento e cultura que, pelo contrário, foram desvalorizados, durante todos estes anos, por esta escola, dita moderna, mas pós-moderna, das “ciências” da educação.» E vai acrescentando o omnisciente senhor: «Essa ideologia e essa prática “educativa” roubaram as crianças, deixaram que perdessem os valores tradicionais que transportavam, e que fossem substituídos por uma espécie de lei da selva, que chegou até, de algum modo, a ser valorizada.»

Se quiserem e tiverem paciência para ler a série de alarvidades que o senhor Valente lançou ao papel (é mesmo preciso ser muito valente para dizer tantas bacoradas…) podem ler aqui.

Claro que estes tristes textos mereciam uma reflexão e uma resposta tão completa que não cabem no espaço exíguo de uma entrada de blog, mas não consigo não deixar um ou dois apontamentos que me ocorrem de momento:

  1. O senhor Valente, como infelizmente muita gente nesta terra, confunde solidariedade com caridade(zinha);
  2.  O senhor Valente, que tanto desdenha das “ciências” (aspas dele, claro!) da educação, e na sanha de aliar esta  “torpe educação” que se tem feito na chamada escola pública nos últimos anos aos governos da responsabilidade socialista, até parece que se esquece – ou ignora, que é o mais certo – que a génese da mesma remonta aos (bons) tempos da governação do (excelente) ministro Roberto Carneiro que, para proceder à reforma da Educação que realizou, encomendou atempadamente estudos de grande qualidade aos competentíssimos professores da Universidade do Minho e que ficaram registados nos magníficos Documentos Preparatórios que o ME publicou em finais de 80;
  3. Por último, e respondendo à minha conhecida radicalidade, aqui afirmo que nunca mais comprarei livro editado pela Gradiva!


11 comentários:

  1. Profusão de EPON (Especialistas de Porra Nenhuma) que continuam a emitir grandes opiniões.
    Beijinhos

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  2. Mas onde é que este troglodita foi arranjar formação pedagógica para se pronunciar sobre Ensino, ou melhor, para avaliar a qualidade do Ensino num período tão abrangente?

    Tem uma teoria tão parecida à do outro troglodita, Nuno Crato, que parece ter sido seu mentor.

    Não há paciência que suporte a verborréia destes pseudo pedagogos!

    Estaremos inexoravelmente condenados ao regresso da escola das cavernas?!

    Também não quero ver nada da Gradiva à minha frente.

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  3. Por sinal, o Senhor Guilherme, como lhe chama,foi distinguido, e a Gradiva também, em 2012, com o Grande Prémio Ciência Viva http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=56258&op=all e tem formação superior em Filosofia e pós-graduação em Relações Interculturais
    http://www.presenca.pt/autor/guilherme-valente/...
    É certo que, neste país, todos sabem tudo acerca do Ensino... mas diga-se, em abono da verdade, que não é caso de excepção...

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  4. Caro Anónimo, eu sei disso! mas isso não lhe dá o direito de dizer tanta bacorada sobre a Educação e defender o regresso aos tempos da instrução salazarista baseada na ignorância do povo e atida ao catecismo manipulado!

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  5. Não tenho a mínima paciência para aturar estes "iluminados" que até têm títulos académicos!

    Abraço

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  6. Caro Anónimo, percebe-se que não sabe o que é Pedagogia.

    Entendendo a intercultularidade como um setor específico de relações internacionais, que tem como objetivo fomentar a relação entre diferentes culturas, esta pós graduação não está minimamente relacionada com Ciências de Educação.

    A prova da refinada ignorância do referido senhor, está precisamente nos conceitos que defende: o regresso ao ensino que visava formar as elites e manter o povo no maior obscurantismo.

    Voltar à escola da idade das trevas, onde os excelentes eram os que possuiam um nome de família consagrado e nem eram os mais inteligentes, mas os que mais conseguiam memorizar.

    Lamento o espaço obrigar-me a ser tão sintética. Poderá reservar a sua informação para quem não sabe do que fala.

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  7. Essa criatura ainda será assessor ou Secretário de Estado de Crato , verás!

    Ler os disparates, desculpa, mas não estou para gastar tempo com idiotas.

    Acompanho-te na tua decisão: com o meu rico dinheiro, isto é,com as sobras que este bando do governo não me roubar a Gradiva não vai vender nem mais um livro.

    Beijufas

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  8. Sinceramente, não tenho paciência para ler alarvidades dessas, o teu resumo chegou-me! O pior é que gente desta bota faladura nos jornais, nas TVs, etc. e ninguém diz nada, dando a falsa aparência que estão cobertos de razão... :P

    Nunca chegaria a essa conclusão tão radical de não comprar mais livros da Gradiva. Mas que não abona muito pelos seus livros, lá isso... ;)

    Beijocas

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  9. Proliferem como vírus este imbecis.
    Ao menos podiam ter a dignidade de não escreverem tanta idiotice. Lamentável!


    beijinho

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  10. Teté, ainda bem que há pessoas mais moderadas do que eu... Já viste se fôssemos todos meio estourados como eu?!...

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