segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Malabarismos



Foram quilómetros de notícias, crónicas e comentários que se publicaram nos jornais sobre o chamado tráfico de influências, crime – porque de crime se trata realmente – atribuído a governantes, políticos e pessoas altamente influentes. Isto no tempo do governo anterior, claro! porque o atual tudo o que faz é bem feito, a bem da nação e dentro da maior legalidade. Por isso nunca mais os jornais gastaram energia e tinta a escrever sobre esse mal tão português que é o dos «empenhos», o das «cunhas».

E falo nisto porque estes malabarismos usam-se agora e cada vez mais nas escolas. Suponho que não acontecerão apenas nas escolas, mas como toda a minha vida foi esteve ligada às escolas, dói-me saber que,  com a desculpa da tão apregoada «autonomia das escolas» que mais não é senão a crescente desresponsabilização dos serviços do ministério, as direcções mandam e desmandam a seu bel-prazer nas contratações de professores e técnicos contratados. As seriações dos candidatos são díspares: sei de um candidato que no espaço de um mês e no universo dos mesmos candidatos desceu na seriação da um primeiro concurso para um segundo, do 1º para o 4º lugar…

Depois, a coberto da entrevista, são feitas as maiores injustiças que se possam imaginar ancoradas em «critérios» das ditas «influências», de vingançazinhas pessoais, ou tão-somente de pura incompetência. E infelizmente não adianta recorrer para instâncias superiores porque, num país em que os desempregados são mais que muitos e em que os empregos escasseiam cada vez mais, o empregador, mesmo sendo do sector público, pode tudo enquanto o candidato tem de curvar a cabeça e limitar-se a aceitar – vêm-me à cabeça vivências destas lá para os idos de 50/60 nesta nossa terra.

Lembro-me, por oposição, da primeira das muitas contratações que fiz lá “minha” escola nos anos 80. Tive de contratar duas funcionárias auxiliares e caíram-me no regaço dezenas de candidaturas (e de «cunhas» também!) Os critérios de seriação vieram da Direção-Geral objectivos e apertados e eu segui-os – como sempre fiz o resto da vida – com todo o rigor. Pois não sei por que boatos que correram, veio a responsável regional pedir-me contas da minha seriação para verificação. E não pôde mexer numa linha sequer! Infelizmente agora os responsáveis dos serviços desapareceram e os que ainda se mexem pelas ex-DRE(s) são do tipo jurista de 3ª classe que não tem outro lugar onde desempenhar os seus maus serviços e por isso são tudo menos fiáveis.

Mas esta «autonomia das escolas» “negra” que nada tem a ver com aquela “branca” que o ministro Roberto Carneiro tão bem lançou e definiu em 89, não se fica pelos malabarismos (para não dizer “sacanices”) nas contratações. Infelizmente, por completa falta de cidadania e de autêntica vivência democrática, os conluios, a promiscuidade crescente entre as pessoas das direcções e dos conselhos gerais é de tal ordem que se fazem malabarismos inacreditáveis a nível das “eleições” para uns e para outros dos órgãos, muitas vezes afastando quem sabe do ofício para lá se manterem os menos apetrechados para os cargos…


Mas qual é o meu espanto? O exemplo vem de cima…

13 comentários:

  1. Mais uma constatação de que o caos está instalado em todas as vertentes, mas na Saúde e Educação, a situação desce a níveis indignos de um estado democrático.

    Estamos quase ao nível das repúblicas das bananeiras, que me perdoem os oriundos destes países.

    Obrigada por denunciar.

    Um bom dia.

    ResponderEliminar
  2. "Cunhas" Existem e existirão sempre, simplesmente agora chamam-lhe o "Factor C" e cada vez mais, quem não as tiver está frito, infelizmente é assim, quanto à saúde está a ser muito grave.

    Boa semana Graça

    beijinho e uma flor

    ResponderEliminar
  3. Roberto Carneiro, que aqui se desloca frequentemente, é um Senhor, Graça
    Em nada passível de ser confundido com gentalha.
    Beijinhos

    ResponderEliminar
  4. Este ministro vai ficar na história pelos aspectos piores. Incompetência e descaramento.

    É caso para pensar se a burrice não é uma ciência...

    ResponderEliminar
  5. Conheço Roberto Carneiro dos tempos em que foi Ministro da Educação. Está a "anos luz" desta gentinha dos tempos atuais. O ME é com certeza o M onde mais compadrio há aliado à incompetência.

    ResponderEliminar
  6. Foto demasiado bela para uma teia tão feia, Gracinha! :(

    Abraço

    ResponderEliminar
  7. O que aí vai...isto está a saque.
    M.A.A.

    ResponderEliminar
  8. A imagem é "demasiado bela" como bem entende Rosa dos Ventos. Talvez os Pigs dos Pink Floyd viessem a calhar.

    Pois... se o telhado que está em cima é graças ao escoramento que o suporta: uma teia de madres, vigas, barrotes e ripas interligados por dívidas e favores, chantagens e cumplicidades.
    Uma fatalidade que nos persegue desde...(?)

    ResponderEliminar

  9. O receio dos professores, ao verem os concursos passarem para as escolas, era precisamente esse. Infelizmente tinham razão. O perfil do candidato a contratar é agora elaborado a partir da "fotografia" do compadre que terá "direito" ao lugar.
    Os itens, como tempo de serviço, valorização e outros que definiam as prioridades, garantindo uma certa ordem nas colocações, deixam de contar. Voltamos ao tempo de " engraxar ao cágado".

    Bjs.

    ResponderEliminar
  10. É bem verdade, Mar Arável, a canalha anda à solta e não há quem os prenda!!!

    ResponderEliminar
  11. A imagem é demasiado bela, de facto. Mas foi escolhida porque andamos todos na corda bamba!

    Quanto ao Ministro Roberto Carneiro, foi do melhor que conheci (e tive o prazer de o conhecer pessoalmente nas minha deambulações de presidente da escola) em termos de Ministro da Educação. Sem esquecer o último ME da era marcelista - o Prof. Veiga Simão!

    ResponderEliminar
  12. Por isso mesmo os professores estavam receosos, o resultado está á vista, nada é feito ás claras, vale a cunha...
    Bjs

    ResponderEliminar