quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

«O "excedente" que o não é»

 




Mais uma bela crónica do escritor-jornalista Baptista-Bastos que aborda e critica a governação do tipo ziguezagues, de verdadeira navegação à vista do governo da tão almejada "clara maioria alargada" tão pouco democrático se tem mostrado.



«Miguel Relvas foi apupado no XIII Congresso Nacional das Freguesias. O ministro é um homem infausto e tem a insensata tineta de desejar estar sempre em primeiro plano. Por vezes, até é confundido com o primeiro-ministro. Também nas contradições. Mas ambos fazem uma boa parelha de beques. Dizem uma coisa apressada e infundada e, logo a seguir, o seu contrário. Relvas foi pateado exactamente pela impetuosidade com que diz coisas. Sabe-se que a questão das freguesias deve ser tratada com extremo cuidado. Sabe-se, é como quem diz: pelos vistos, o ministro Relvas não sabe. [...]

Apareceu na magna assembleia com um papel definitivo debaixo do braço. Não estava ali para atender: estava para falar. Um desastre. De desastre em desastre, parece que este Executivo possui, apenas, um desiderato: fazer valer o que entende ser, sem atentar nas razões dos outros. Agora, e de súbito, surgiu nas contas públicas um "excedente" de dois mil milhões de euros.


Passos revelou o facto, liso, formal, veemente e, até, um pouco dramático. Quase a seguir, disse que não dissera o que disse, e alinhavou uns remendos no discurso, deixando um legado de incredulidade e de perturbação no comum dos mortais. A pateada a Relvas e o diz-que-sim-e-que-não de Passos são sintomas de uma política confusa e indeterminada, obstinada e torta. Aliás, Passos Coelho afirma e repete, com enfadonha teimosia, que tanto se lhe dá como se lhe deu o protesto, a contestação, a revolta. 


Quanto aos dois mil milhões de "excedente", que mereceram atabalhoadas "explicações" dos habituais comentadores do óbvio, e uma crítica académica e dispersa de Seguro, o seu destino estava traçado, e custar-nos-á os olhos da cara nos anos mais próximos. Como salientou Alfredo Barroso, no Frente-a-Frente da SIC Notícias, quem vai pagar são os trabalhadores. 


Estas três personagens são exemplos típicos de uma época na qual a ignorância, a intemperança e a hipocrisia constituem valores tributários de uma nova leitura do mundo. Nada do que dizem é verdade, tudo o que dizem parte de equívocos e de evasivas. E estes "princípios" estão longe de ser passageiros. Podemos protestar, vaiar, proceder a acções mais ou menos violentas que o discurso deles é inalterável e, embora os não incomode, põe em evidência a sua amoralidade.


O assunto do "excedente" que o não é vem reforçar o conceito de agressividade (não apenas simbólico) comum à ideologia do Governo.»


9 comentários:

  1. Só compro o DN às quartas para o ler... Embora esteja disponível na net, ainda é uma leitura obrigatória...no papel.

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  2. Só o Baptista-Bastos é que tem este nível para escrever nas suas crónicas aquilo que nós até pressentimos mas que de tão evidente parece que não tem ponta por onde se lhe pegue.

    Mas não, aqui está BB sempre em forma.
    Infelizmente, pelo motivo exposto, que não augura nada de bom para se definir um rumo coerente para este país!

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  3. Até quem votou neles já está farto de tanto disparate!

    Abraço

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  4. Ultimamente parece que as notícias sobre o estado do país vão sempre de mal a pior...

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  5. E o povo aceita todos os sacrifícios, envergonhado por não ter dinheiro. Como é possível?????

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  6. Parece já nada surpreender neste "disse, não disse" de quem nos anda a enganar descaradamente, sem receio de nada.

    Obrigada por trazer aqui Baptista Bastos.

    Um beijo

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  7. Carolamiga

    Foi tempo em que BB era a... Brigitte Bardot. Ainda que nesse tempo já houvesse o meu Amigo Baptista Bastos. Hoje é mesmo ele, dela restam as rugas e os cães.

    BB é um dos Grandes,com a sua eterna borboleta. Vai ficar na história do Jornalismo em Portugal. Por aqui, fico-me.

    Quanto ao Relvas e outros que tais, os que o(s) elegeram deveriam ser os que o(s) ainda aturam. Mas, pelos vistos, vão muitos ficando pelas bermas - e é muito bem feito.

    Uns e outros são umas merdas. Assim ékaxo

    Qjs

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  8. São uns merdas, mesmo! Mas as próximas eleições serão daqui a tempo de mais e... este povo irá continuar a dar-lhes o seu voto "humilde, pobrezinho e religioso".

    Uma revolta!

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