sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

"As dívidas dos Estados são eternas"





José Sócrates – ex Primeiro Ministro da 2ª República e responsável pela hecatombe que em 2008 caiu sobre o país, sobre a Europa e sobre o mundo – teve o atrevimento de dar uma palestra no campus universitário de Poitiers, onde teve o atrevimento de afirmar que “para pequenos países como Portugal e Espanha, pagar a dívida é uma ideia de criança.  As dívidas dos Estados são eternas. As dívidas gerem-se. Foi assim que eu estudei.”

Deus do céu! Aqui d’el-rei! O que ele foi dizer! Veio, ato contínuo, o senhor presidente do PP dizer, com toda a demagogia que lhe é costumeira, que teve de ouvir duas vezes porque não conseguia perceber (coitado!) nem queria acreditar! E, de seguida, vieram os defensores confessos da Situação soprar , em grande escândalo, aos ouvidos dos portugueses incautos que “por isso, a situação chegou aonde chegou” e coisas parecidas.

Que terão dito – ou que diriam – ao lerem o que o historiador alemão Albrecht Ritschl, professor na Escola de Economia de Londres, afirmou há uns meses numa entrevista à revista Der Spiegel, ao referir-se a vários momentos na História do século XX em que a Alemanha equilibrou as suas contas à custa de generosas injecções de capital norte-americano ou do cancelamento de dívidas astronómicas, suportadas por grandes e pequenos países credores.



«Ritschl começa por lembrar que a República de Weimar viveu entre 1924 e 1929 a pagar com empréstimos norte-americanos as reparações de guerra a que ficara condenada pelo Tratado de Versalhes, após a derrota sofrida na Primeira Grande Guerra. Como a crise de 1931, decorrente do crash bolsista de 1929, impediu o pagamento desses empréstimos, foram os EUA a arcar com os custos das reparações.
Depois da Segunda Guerra Mundial, os EUA anteciparam-se e impediram que fossem exigidas à Alemanha reparações de guerra tão avultadas como o foram em Versalhes. Quase tudo ficou adiado até ao dia de uma eventual reunificação alemã. E, lembra Ritschl, isso significou que os trabalhadores escravizados pelo nazismo não foram compensados e que a maioria dos países europeus se viu obrigada a renunciar às indemnizações que lhe correspondiam devido à ocupação alemã.
 

No caso da Grécia, essa renúncia foi imposta por uma sangrenta guerra civil, ganha pelas forças pró-ocidentais já no contexto da Guerra Fria. Por muito que a Alemanha de Konrad Adenauer e Ludwig Ehrard tivesse recusado pagar indemnizações à Grécia, teria sempre à perna a reivindicação desse pagamento se não fosse por a esquerda grega ficar silenciada na sequência da guerra civil.


Ritschl lembra também que em 1953 os próprios EUA cancelaram uma parte substancial da dívida alemã - um haircut, segundo a moderna expressão, que reduziu a abundante cabeleira "afro" da potência devedora a uma reluzente careca. E o resultado paradoxal foi exonerar a Alemanha dos custos da guerra que tinha causado, e deixá-los aos países vítimas da ocupação.

E, finalmente, também em 1990 a Alemanha passou um calote aos seus credores, quando o chanceler Helmut Kohl decidiu ignorar o tal acordo que remetia para o dia da reunificação alemã os pagamentos devidos pela guerra. É que isso era fácil de prometer enquanto a reunificação parecia música de um futuro distante, mas difícil de cumprir quando chegasse o dia. E tinha chegado.»


10 comentários:

  1. Não ligo muito ao que o Paulinho das feiras diz mas não deve ter sido diferente do que Freitas do Amaral terá dito...
    Será que o Alberto João também estudou pela mesma cartilha?

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  2. Carol
    Eu acho que nem Deus do céu nos vale.
    Beijinho bom fim de semana

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  3. Nesse embate todo, Carol, o povo é o maior sacrificado por dívidas não feitas pelos mesmos! POLÍTICA!!
    Abraço e dias melhores! Célia.

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  4. Sabemos como os discursos e as ações, no âmbito da política, são fortemente influênciados pelos momentos e pelas perpectivas do observador, o que só vem confirmar a desestruturação e derrocada de uma das condição essenciais às inter-relações poder/massas - a DIGNIDADE, coisa arrevesada e até estranha nos dias de hoje para muitos daqueles que têm os destino dos povos nas mãos(quase nunca limpas).

    Um beijo

    Bom fim de semana.

    Um beijo

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  5. Ia a desistir de comentar depois da Lídia o ter feito.
    Ainda assim, deixo este apontamento: Para se falar da dívida devíamos falar também da sua natureza, como surgiu e quais os (reais) credores. Talvez alguma claridade, a necessária, ajudasse a tratar esta questão com um mínimo de ética...

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  6. Sócrates é e continua a ser muito mal tratado pela imprensa portuguesa.

    Um abraço, linda

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  7. Há que desviar as atenções. E esta foi mais uma manobra das muitas que põem em prática.

    Bom fim de semana.

    Beijo

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  8. Boa iniciativa Carol, escrever contra a corrente, contra o consenso que se estabeleceu na comunicação social, na TV principalmente, de modo a que as pessoas percebam que estão a ir no engodo dos comentadores da situação, quanto ao alcance da reflexão do Sócrates.

    Claro, fica-se um bocado de pé atrás, porque a Dívida cresceu muito na parte final do tempo em que ele foi PM. Esquecem-se os "entendidos" que a crise (os juros a aumentarem desmesuradamente) incrementou a níveis incomparáveis o total dessa Dívida.

    Ficava agora aqui a defender que a teoria de Sócrates tem fundamento (e não estava a reinventar a pólvora) por várias linhas. E a sintetizar quanto pudesse.

    Era bom, era, que o Portas e os seus capangas de Governo (afinal quem é o PM?) conseguissem pagar num ápice a nossa Dívida. Este Portas só é inteligente quando lhe convém.

    Todos temos que fazer um esforço para intervir na política, não podemos escudar-nos no comodismo do "não percebo nem quero perceber a Política".

    Um abraço, bfs

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  9. diria meu tio: "Um país é como um homem, não precisa ter dinheiro, basta ter dívidas e credito" kkkkk brincadeira a parte, eu acho que a crise européia começa a desaparecer.
    beijos

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