quinta-feira, 27 de junho de 2019

Este país é um ESPANTO!!!

Quem não se lembra daquele excelente programa de televisão do Jô Soares «O Planeta dos Homens» aí pelos anos 70/80! E de tantas expressões que ficaram no nosso ouvido e que ainda hoje repetimos - «perguntar não ofende, oh triqui- triqui», o «tem pai que é cego!», ou o «casa, descasa, casa, descasa», ou ainda o «cale essa boca, sua múmia paralítica!»




Hoje e aqui, lembro a expressividade e o pasmo com que o Jô Soares dizia «Isto é um ESPANTO! Um ESPANTO!

Assim estou eu, PASMADA com este nosso país que é um ESPANTO!

Eu passo a explicar e espero que não pensem mal de mim… Nos quase 48 anos que estivemos casados, eu e o meu marido tivemos contas bancárias separadas. Aliás, apesar da enorme cumplicidade que sempre existiu entre nós e com as filhas – tudo sempre foi falado e discutido à frente delas à mesa do jantar – havia uma enorme liberdade de vida, d vida social, profissional, até cultural – tudo enfim! – e foi assim que nos demos bem. Muito bem!

Ora com a sua morte algo inesperada – por tão breve ter acontecido – desconhecia por completo que deveria fazer um determinado pagamento nesse mês. Assim, deixei passar a data limite e só depois o banco me avisou da minha falta. Não chegou a uma semana a falha do pagamento que fiz assim que me informaram. Aconteceu isto no mês de abril.

Para grande espanto meu e até algum constrangimento, há umas duas ou três semanas fui para pagar, como habitualmente, as minhas compras semanais no Continente, do qual possuo o chamado e muito anunciado Cartão Universo que é um cartão de registo de descontos das compras e, ao mesmo tempo, funciona como cartão de crédito – faço as compras semanais e pago no fim de cada mês. Há anos que assim é – fui para pagar com o dito cartão, dizia eu, e a máquina diz, sem apelo nem agravo: «o seu crédito está temporariamente bloqueado. Contacte o número tal e tal…»

Assim fiz. Falei com uma senhora de um qualquer call centre a quem disse que nunca tinha falhado qualquer pagamento nem sequer alguma vez tinha alcançado o plafond do cartão. Depois de consultar o meu registo, disse-me amavelmente que não tinha nenhuma dívida com eles, mas tinha falhado um pagamento num outro organismo e até me disse o montante exato do dito.

Fiquei sobre brasas, como devem calcular e dirigi-me ao “simpático” banco onde o chamado “gestor da conta” me esclareceu que assim que há uma falha de qualquer pagamento, eles (uns queridos!)  avisam não sei que entidade nacional que, de imediato, passa a notícia a todos os bancos. Mas que não me preocupasse porque isso rapidamente se trataria. Seria uma questão de dias.

Só que, em finais de junho, o meu cartão Universo continua bloqueado. De novo me dirigi ao “simpático” banco e queixei-me alto e bom som que estava a ser tratada por eles como a maior das caloteiras do país. E perguntei se fazem o mesmo a um Berardo, ou a um Dias Loureiro, ou a um Duarte Lima! A funcionária “amavelmente” respondeu que esses senhores não eram clientes deles e, receosa de que eu me comportasse mal, passou-me ao dito “gestor de conta”. Este consultou o computador, fez uns tantos telefonemas e voltou a dizer-me que a situação se resolveria em alguns dias.  Só que me anda a falar em “alguns dias” desde abril…

Dá para entenderem a minha fúria?! Porque é que o Berardo – que esse sim, é um caloteiro de papel passado – e outros, enfim, não têm os seus cartões bloqueados?!

E eu que sempre fui cumpridora e certinha em tudo, sinto-me ... sei lá... enxovalhada - ou pior!

 Não me digam que este país não é um ESPANTO!!!!     




sábado, 22 de junho de 2019

Summertime

É sempre uma enorme tentação de cada vez que chega o Verão - recordar a lendária canção «Summertime» que integra a ópera «Porgy and Bess» escrita por G. Gershwin nos anos 30 do século passado. 

As bandas de jazz trataram-na, adaptaram-na e logo se tornou um enorme sucesso. Como melhor a conhecemos é pelo saxofone de  Louis Armstrong e na voz da Ella Fitzgerald.

Mas hoje vou deixá-la aqui nesta versão anterior.



Se bem que o original na peça de teatro era este - que é uma verdadeira delícia.

Ora deliciem-se!




quarta-feira, 19 de junho de 2019

A Fortaleza de Peniche

Então lá fomos com o objetivo de visitar o Museu da Resistência e da Liberdade que visou transformar a prisão dos dissidentes políticos do regime de Salazar em espaço museológico de Memória e de Liberdade.

(Também fomos com o propósito de comer uma bela de uma caldeirada, mas isso é outra história...)




(1935)

(Entrada do mar)



(Entrada principal)







(Memorial dos presos políticos)

(O chamado parlatório)





(O Parlatório por Júlio Pomar)

(Retrete)







(Vieira da Silva)




(O Fortim Redondo)

(...onde se encontravam três solitárias)




(História de uma fuga)





(A grande fuga de 1960)


(Uma parte da fortaleza está rodeada pelo mar)
(daqui)


(... e atiravam-se ao mar...)


(Ali por trás enxergam-se as celas ainda não visitáveis)


(Mas não faltava a capela...)


(... de Santa Bárbara)

(Monumento à Liberdade)




Foi uma visita intensa...

segunda-feira, 17 de junho de 2019

Para desanuviar...





É o que me acontece dia sim, dia também...

quinta-feira, 13 de junho de 2019

Pessoa nasceu num 13 de Junho

Foi no dia 13 de junho de 1888 que, no Largo de São Carlos em Lisboa, nasceu o poeta Fernando Pessoa Há precisamente 131 anos.




Não obstante o seu valor poético e inovador de enorme figura das Letras da primeira metade do século XX, não viveu uma vida feliz. 

A angústia existencial, a nostalgia de outros tempos mais felizes, a dor que lhe causava o seu pensar multifacetado estão patentes em muitos dos seus poemas enquanto Pessoa  pessoa, como em Álvaro de Campos, o seu alter-ego, como em Bernardo Soares, o seu semi heterónimo.

E porque o momento, por cá, também não é dos mais felizes, a minha homenagem deste ano ao grande poeta de Orpheu, fica-se por aqui:


Desperto de sonhar-te

Desperto de sonhar-te
Quando inda a noite é funda,
E um céu estelar faz parte
Do silêncio que inunda.
Perdi poder amar-te
E a treva me circunda.

Talvez que relembrasse,
Sonhando-te, outro ser,
E aquilo que sonhasse
Fosse tornar a ter.
Mas despertei, e faz-se
Claro em meu quarto a ver.

Insónia de perder-te!
Quem foste já não sei.
Pela janela verte
Cada astro a sua lei.
Como, sem sonhar ter-te?...
Porque não dormirei?

(1932)

Fernando Pessoa, in  Pessoa Inédito (Orientação, coordenação e prefácio de Teresa Rita Lopes). Lisboa: Livros Horizonte, 1993.

segunda-feira, 10 de junho de 2019

No Dia de Portugal



Não, não vou comentar o discurso por de mais populista daquele rapazito do triste programa «governo sombra» que foi o escolhido pelo Presidente  (a minha avó espanhola costumava dizer com muito humor "Deus os cria e ele se juntam»...para presidir ao 10 de Junho de este ano. Para isso, convido-vos a ler o comentário do Jornal Tornado...

Para celebrar o dia, que também é de Camões, deixo-vos um dos seus sonetos e outros dois poemas que, tal como o dele, bem definem o perfil do bom português...


Que vençais no Oriente tantos Reis

Que vençais no Oriente tantos Reis,
Que de novo nos deis da Índia o Estado,
Que escureçais a fama que hão ganhado
Aqueles que a ganharam de infiéis;

Que vencidas tenhais da morte as leis,
E que vencêsseis tudo, enfim, armado,
Mais é vencer na Pátria, desarmado,
Os monstros e as Quimeras que venceis.

Sobre vencerdes, pois, tanto inimigo,
E por armas fazer que sem segundo
No mundo o vosso nome ouvido seja;

O que vos dá mais fama inda no mundo,
É vencerdes, Senhor, no Reino amigo,
Tantas ingratidões, tão grande inveja.

Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"




Português Vulgar

O meu gato deixa-se ficar
em casa, farejando o prato
e o caixote das areias. Já não vai
de cauda erguida contestar o domínio
dos pedantes de raça, pelos
quintais que restam. O meu gato
é um português vulgar, um tigre
doméstico dos que sabem caçar ratos e
arreganhar dentes a ordens despóticas. Mas
desistiu de tudo, desde os comícios nocturnos
das traseiras até ao soberano desprezo
pela ração enlatada, pelo mercantilismo
veterinário ou pela subserviência dos cães
vizinhos. Já falei deste gato
noutro poema e da sua genealogia
marinheira, embarcada nas antigas
naus. Se o quiserem descobrir, leiam
esse poema, num livro certamente difícil
de encontrar. E quem procura hoje
livros de poemas? Eu ainda procuro,
nos olhos do meu gato, os
dias maiores de Abril.

Inês Lourenço, in 'Logros Consentidos'
Anti-Soneto

    (Ao Mário Saa )

O nosso drama de portugueses,
O nosso maior drama entre os maiores
Dos dramas portugueses,
É este apego hereditário à Forma:
Ao modo de dizer, aos pontinhos nos ii,
Às vírgulas certas, às quadras perfeitas,
À estilística, à estética, à bombástica,
À chave de ouro do soneto vazio
- Que põe molezas de escravatura
Por dentro do que pensamos
Do que sentimos
Do que escrevemos
Do que fazemos
Do que mentimos.

Carlos Queirós, in 'Cadernos de Poesia'

quarta-feira, 5 de junho de 2019

Você é estrebaria...

Hoje tive de ir a uma agência bancária que não é a minha de sempre e, depois de alguma espera – e era eu a única cliente presente – os três funcionários à vista azafamavam-se muito frente aos monitores dos seus computadores – lá fui atendida por um jovem daqueles de fatinho muito justo e de sorriso estampado no rosto imberbe.

Depois de um cumprimento daqueles de mão morta – que não vai bater àquela nem a nenhuma outra porta – fez sinal para que me sentasse e perguntou em que me poderia ajudar.

Pus a minha questão que de imediato foi desfeita pela sua resposta pronta. E, para tal, toca de me tratar e destratar por você – você para cá, você para lá e aquele sorrisinho condescendente de garoto que está ciente de toda a informação perante a idosa que é capaz de nem entender o que ele está a dizer...

Desenhei também o meu sorrisinho condescendente e disse-lhe: «Não diga você. É feio e fica-lhe mal.» Ele manteve aquele sorrisinho que trazia estampado na carinha deslavada e, orelhas moucas, lá continuou o horrível tratamento por você…


De há uns tempos para cá, tudo quanto é vendedor, promotor de operadoras e empresas de eletricidade e gás de porta em porta, meninos com o secundário feito e até mais acima, tudo usa o tratamento por você!

Fazem parte da gramática do português as formas de tratamento bem como os níveis de língua. Será que os professores TODOS se têm esquecido de abordar essas áreas?
E, se assim foi, o que fazem nos programas de formação destes jovens (e até menos jovens) profissionais?

Devia ser-lhes dito que o tratamento por você está reservado a certas castas da aristocracia seja ela de que tipo for, dos namorados nos tempos de fervilhante apaixonamento e a pessoas que se conhecem bem.

De resto, você é estrebaria…




segunda-feira, 3 de junho de 2019

Agustina (1922 - 2019)


Infelizmente morta há anos de mais para a escrita, a imensa escritora Agustina Bessa-Luís deixou-nos hoje fisicamente, aos 96 anos.

Figura controversa desde sempre, sobre ela escrevia Sophia de Mello Breyner na sua correspondência com Jorge de Sena:

[Paris, Março de 1961]

(…) Fui para Florença com a Agustina Bessa-Luís que era a delegada portuguesa [ao Congresso COMES – Comissão Europeia de Escritores] (…) Vim para Lisboa pensando que se tratava dum congresso apenas literário. Vim encontrar um congresso político, praticamente exclusivamente político, anti-fascista. (…) O Congresso era anti-fascista – coisa com que concordo, mas os métodos usados foram fascistas, mal-educados e policiais. (…)

 Criaram à volta de Agustina um clima de suspeição e inquisição. E isto foi-me dito por uma pessoa de direita e de carácter: Disseram-me que eu a devia abandonar pois o facto de eu andar com ela me comprometeria. Como você sabe, eu não sou capaz de abandonar nenhuma pessoa que está só e que é injustamente acusada e perseguida na sua liberdade. (…)

Quanto à atitude política de Agustina penso poder garantir que ela não é nem salazarista nem fascista. Considera o nosso governo criminoso mas considera também inoportuno afirmá-lo no estrangeiro. Pensa também que a COMES deve defender a liberdade do escritor mas sem espírito partidário.

A minha atitude política é diferente da de Agustina, como você sabe, mas penso que a atitude dela deve ser respeitada porque acredito na liberdade. Acho que não se pode criar em nome do anti-fascismo um novo fascismo. (…)

Hoje no caminho em Montpellier fomos abordados por um jornalista espanhol que nos fez um interrogatório habilíssimo e cerrado ora dizendo bem do Salazar e do Franco, ora dizendo mal – foi muito estranho. Admirei a extrema inteligência com que a Agustina conseguiu não responder a nada. Fiquei com a impressão que éramos seguidos. Tenho quase medo de que não me deixem entrar em Portugal. (…)
……………………………

Esquecida da coterie literária depois da Revolução pelas suas escolhas políticas encostadas à chamada direita, tem visto ultimamente a sua imensa obra literária reeditada. 

De referir ainda a completíssima biografia da romancista modernista e neo-romântica (como diz Eduardo Lourenço) «O Poço e a Estrada» da autoria da escritora Isabel Rio Novo.


Agustina, Sophia e Eugénio de Andrade (1958)

sábado, 1 de junho de 2019

Para colorir o Dia da Criança

A cidade de Leiria está geminada com a cidade japonesa de Tokushima faz este ano 50 anos.

Este ano, a Câmara Municipal lançou um concurso de desenhos de crianças de ambas as cidades para celebrar o Dia da Cidade de Leiria que acontece a 22 de Maio.

É parte desse colorido que deixo hoje aqui para homenagear a criatividade de crianças que participaram.





O painel principal que "mistura" as duas cidades.


















(...)
«Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças» (...)

(F. Pessoa)