Dizem-me que hoje foi a 5ª feira da Ascensão , dia de ir à espiga.
Já ninguém vai à espiga. Já pouca gente se lembra do Dia da Espiga. E desta cançãozinha que se chama Dia da Espiga, alguém se lembra? Dizem-me que nasceu no já longínquo ano de 1924 e que foi um dos grandes êxitos populares.
Eu lembro-me bem desta musiquinha que a minha mãe cantava - quando ainda tinha alegria e voz para cantar - e de a ouvir no programa Melodias de Sempre que passava na RTP nos idos de 60 e era apresentado pelo muio falador Jorge Alves. (Letra: Maestro Silva Tavares....música: Alves Coelho.
Interpretação de Lina Demoel.)
Lembram-se?
Ora oiçam...
A letra descreve bem o que deveria ser uma ida à espiga...
Esta vida é uma cantiga
Este dia de alegria
Vale um ano de aflição
Porque é o dia da Espiga
É o arauto do dia
Em que o trigo há de dar pão
Maria! São teus olhos azeitonas
Cachopa! São teus lábios qual cerejas
E os teus seios cachos de uvas que abandonas
À vindima desta boca que os deseja
Jorra o vinho dos pichéis
Para os lábios das moçoilas
Mais vermelhas que papoilas
Das larachas dos Manéis
E há merendas pelos prados
Gargalhadas pelo ar
E à beirinha dos valados
Ouve a gente murmurar.
Não sei porquê lembrei-me deste outro belo - bem mais belo - poema do nosso poeta impressionista, Cesário Verde (1855 - 1886)
Naquele pic-nic de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.
Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.
Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o Sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia.
Mas, todo púrpuro a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!
O ramalhete rubro das papoulas!