quinta-feira, 30 de maio de 2019

Dia de espiga

Dizem-me que hoje foi a 5ª feira da Ascensão , dia de ir à espiga.

Já ninguém vai à espiga. Já pouca gente se lembra do Dia da Espiga. E desta cançãozinha que se chama Dia da Espiga, alguém se lembra? Dizem-me que nasceu no já longínquo ano de 1924 e que foi um dos grandes êxitos populares. 

Eu lembro-me bem desta musiquinha que a minha mãe cantava - quando ainda tinha alegria e voz para cantar - e de a ouvir no programa Melodias de Sempre que passava na RTP nos idos de 60 e era apresentado pelo muio falador Jorge Alves. (Letra: Maestro Silva Tavares....música: Alves Coelho. Interpretação de Lina Demoel.)

Lembram-se?

Ora oiçam...





A letra descreve bem o que deveria ser uma ida à espiga...

Esta vida é uma cantiga
Este dia de alegria
Vale um ano de aflição

Porque é o dia da Espiga
É o arauto do dia
Em que o trigo há de dar pão

Maria! São teus olhos azeitonas
Cachopa! São teus lábios qual cerejas
E os teus seios cachos de uvas que abandonas
À vindima desta boca que os deseja

Jorra o vinho dos pichéis
Para os lábios das moçoilas
Mais vermelhas que papoilas
Das larachas dos Manéis

E há merendas pelos prados
Gargalhadas pelo ar
E à beirinha dos valados
Ouve a gente murmurar.



Não sei porquê lembrei-me deste outro belo - bem mais belo - poema do nosso poeta impressionista, Cesário Verde (1855 - 1886)




Naquele pic-nic de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.

Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.

Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o Sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia.

Mas, todo púrpuro a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!



quarta-feira, 29 de maio de 2019

Conhecem a Vila de Ançã?

Pois, se não conhecem, vale bem a pena passar por lá. Situa-se no concelho de Cantanhede (terra que acolheu o poeta Carlos Oliveira) e por lá nasceram o grande político e historiador Jaime Cortesão, médico e o escritor Augusto Abelaira.

Quem for a caminho de uma opípara refeição de leitão, pode bem passar por lá e deixar-se encantar pelas suas belezas naturais. Foi o que fizemos lá na "minha" escola sénior. E que bem acompanhados fomos por um jovem guia que nos falou e bem da história da vetusta vila e nos levou a visitar os pontos mais importantes.

Ficámos a saber que a vila de Ançã remonta ao tempo da ocupação romana com o nome de Anzana e que há um documento de 937 que refere ser um território reconquistado aos árabes pelos cristãos. Em 1371 o rei D. Fernando torna-a vila tendo-lhe sido outorgado foral apenas no reinado de D. Manuel I.

Mas é no século XVII que o Marquês de Cascais terá caído em desgraça junto da corte e vai acolher-se à terra de Ançã onde desenvolve o património arquitetónico construindo o seu palácio, o chamado Terreiro do Paço e a cobertura da sua bela nascente.

É muito conhecida pelas suas pedreiras de onde saiu a chamada pedra de Ançã para a construção de muitos monumentos portugueses.


Palácio do Marquês de Cascais

Terreiro do Paço e Pelourinho

O Brasão do Marquês

O Largo da vila

A Igreja matriz





Imagem de Nossa Senhora do Ó

O nosso jovem guia


A piscina natural no centro da vila

A nascente natural coberta por pedra de Ançã




A água da nascente corre pelo meio da vila









Aqui fomos recebidos com bolo de Ançã e água fresca da nascente

                           


O conhecido bolo de Ançã


No interior ainda havia estes achados arqueológicos



Ah! E também vimos maravilhas destas:














E uma janela manuelina perdida pelo meio das casas.





Depois de tudo isto e já muito atrasados, rápido rumo ao Hotel da Curia para o leitão. Eu cá comi bacalhau com broa, em vez...


domingo, 26 de maio de 2019

Eleições


Políticos: antes das eleições e
depois das eleições...


terça-feira, 21 de maio de 2019

Que exagero!

Nada contra a equipa ganhadora do campeonato de futebol. Foi esta, ainda bem para os seus jogadores e para o seu jovem e esforçado treinador. 

Foi esta, mas até podia ter sido o Estrela da Amadora, ou o Esperança de Lagos ou o Sporting da Covilhã - os exageros teriam sido os mesmos, digo eu... Os exageros dos festejos, aquela alegria esfuziante e louca a que os adeptos de obrigam  - parece que lhes calhou o Euromilhões ou sei lá o quê...

Mas o pior, o piorzinho mesmo, é o exagero das televisões! Desde domino até hoje, os telejornais repetem a todas as horas e até à exaustão os golos, as declarações dos mandantes, a festa, a receção pelo Município e sei lá o que mais!

Não é exagero da minha parte, mas no domingo, na segunda-feira e ontem, à hora do almoço e ao jantar o mesmo, passei os canais todos até ao 8 e todos, sem exceção, estavam a passar e a repetir a grande vitória do clube de futebol! 

Nada contra o futebol. Nada contra as equipas ganhadoras, mas o que é demais enjoa. Não haverá nada de mais importante para transmitir?

Se calhar não... ou não convém...




É o que me ocorre...

sábado, 18 de maio de 2019

Cantiga de amigo

O meu doce amigo 
Que eu tanto queria,
Foi-se o outro dia
Sem falar comigo.

Lá leva consigo 
A minha vontade:
Fica-me a saudade
Do meu doce amigo.

O meu doce amigo
Que eu tanto amava,
Nunca me falava
Quando era comigo.

E levou consigo
Tudo quanto eu tinha:
Só saudade é minha
Por meu doce amigo.

(Jorge de Sena, in O Físico Prodigioso, 1960)




domingo, 12 de maio de 2019

Dia do silêncio

Dizem-me que passou há dias o Dia do Silêncio. Parece-me que foi a 7 deste mês e celebra-se com o objetivo de chamar a atenção para os efeitos da poluição sonora. 

Acho bem!

Mas eu que sou mais poesia (o Herman dizia que era mais bolos... e eu também, mas enfim...) procurei e achei lindos poemas sobre o silêncio: Pessoa, David Mourão-Ferreira, Eugénio de Andrade, Ramos Rosa e outros. Mas escolhi um de um poeta brasileiro - Manoel de Barros (1916-2014) que diz assim:

Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas.
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.


(Jardins da Gulbenkian)

sexta-feira, 10 de maio de 2019

Nos 86 anos da Censura ou Lápis Azul

A Censura, cujo símbolo era o Lápis azul, foi legalmente instituída em 1933, embora já existisse uma Comissão da Censura criada em 22 de junho de 1926 que obrigava os jornais a submeter-lhe as suas notícias para avaliar os seus conteúdos. Aqueles que fossem contrários à ideologia  do regime ditatorial, eram cortados pelo dito lápis azul.

O mesmo passou a acontecer com os filmes estrangeiros e nacionais e com as obras dos escritores e poetas do país. Em 11 de Abril, há 86 anos, era promulgado o Decreto-Lei n.º 22469 que instituía a Censura com a finalidade "de evitar que seja utilizada a imprensa como arma política" que impedisse a realização do programa de reconstrução nacional por parte do Governo da Ditadura Militar.

Para relembrar os mais velhos e mais esquecidos e para dar a conhecer aos mais jovens, a Biblioteca Municipal Afonso Lopes Vieira escolheu variadíssimos livros de tantos e tantos autores portugueses e estrangeiros que foram censurados e/ou proibidos e amarrou-os - na verdadeira acessão da palavra, com cordas grossas.

Esta iniciativa pode ser vista no endereço abaixo


https://www.facebook.com/BMALV/videos/782096735523366/ 

Para além disto organizou uma pequena exposição de fotografias de José Cardoso Pires - um dos muitos autores censurados - pelo fotógrafo Eduardo Gageiro .

















E, por fim, como todos os grandes homens da literatura, também o autor de O Delfim mostrava a sua preferência pelos gatos...




quarta-feira, 1 de maio de 2019

Nós voltaremos sempre em Maio


Amanhã não estaremos já neste lugar
amanhã a cidade já não terá o teu rosto
e a canção não virá cheia de ti
escrever em cada árvore o teu nome verde.

Amanhã outros passarão onde passámos
farão os mesmos gestos dirão as mesmas palavras
dirão um nome baixo um nome loucamente
como quem sobre a morte é por instantes eterno.

Amanhã a cidade terá outro rosto.
Nós não estaremos cá. Mas a cidade
já não será contra o amor amanhã quando
os amantes passarem na cidade livre.

Nós não estaremos cá. Voltaremos em Maio
quando a cidade se vestir de namorados
e a liberdade for o rosto da cidade nós
que também fomos jovens e por ela e por eles

amámos e lutámos e morremos
nós voltaremos meu amor nós voltaremos sempre
no mês de Maio que é o mês da liberdade
no mês de Maio que é o mês dos namorados.


Manuel Alegre
In Praça da Canção, 1965


(daqui)

Viva o 1º de Maio!!!