terça-feira, 14 de agosto de 2018

Ode ao Futebol



Agora que (infelizmente) os campeonatos estão de volta com os respetivos resumos, relatos, transmissões, comentários de comentadeiros musculados e tudo, parece-me bem, deixar aqui uns versos engraçados do desenhador, ilustrador, caricaturista e também poeta quase desconhecido  António Fernando dos Santos - o Tóssan.


“Retângulo verde, meio de sombra meio de sol
Vinte e dois em cuecas jogando futebol
Correndo, saltando, ziguezagueando ao som dum apito
Um homem magrito, também em cuecas
E mais dois carecas com uma bandeira
De cá para lá, de lá para cá
Bola ao centro, bola fora.
Fora o árbitro!
E a multidão, lá do peão
Gritava, berrava, gesticulava
E a bola coitada, rolava no verde
Rolava no pé, de cabeça em cabeça
A bola não perde, um minuto sequer
Zumbindo no ar como um besoiro,
Toda redonda, toda bonita
Vestida de coiro.
O árbitro corre, o árbitro apita
O público grita
Gooooolllllooooo!
Bola nas redes
Laranjadas, pirolitos,
Asneiras, palavrões
Damas frenéticas, gordas esqueléticas
esganiçadas aos gritos.
Todos à uma, todos ao um
Ao árbitro roubam o apito
Entra a guarda, entra a polícia
Os cavalos a correr, os senhores a esconder
Uma cabeça aqui, um pé acolá
Ancas, coxas, pernas, pé,
Cabeças no chão, cabeças de cavalo,
Cavalos sem cabeça, com os pés no ar
Fez-se em montão multidão.
E uma dama excitada, que era casada
Com um marinheiro distraído,
No meio da bancada que estava à cunha,
Tirou-lhe um olho, com a própria unha!
À unha, à unha!
Ânimos ao alto!
E no fim,
perdeu-se o campeonato!”

Tossan  (1918-1991)


Tóssan

12 comentários:

  1. Só um comentário possível - BIBÓ PUORTO!!!!
    Beijinhos

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  2. Não conhecia e realmente bem real o conteúdo de tão interessante poema!!!bj

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  3. Muito bom :)) Adorei:))

    Hoje; No meu olhar, um sentimento profundo

    Bjos
    Votos de uma óptima Quarta - Feira /Feriado.

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  4. Realmente, aqui na Europa, o futebol desperta emoções incríveis !
    As pessoas deixam de ser elas próprias e vestem a "personagem" de "loucos" pelo clube !
    Lembro-me de há uns anos, nas Antas, de duas dessas personalidades :
    uma, era um padre e quem o ouvisse nunca o imaginaria como tal, tantos todos os imagináveis "nomes" com todas as letras e em tom exasperadíssimo, que ele chamava ao árbitro e aos adversários !!! Ele, sozinho era um espectáculo dentro do outro !
    Outra era uma vendedora do Mercado do Bolhão, com aquele vozeirão própria do pregão e habituada que estava , em vez de couves e nabiças, nabos e melões, apregoava toda a espécie de palavrões que todos compreendiam muito bem, mas que, aqui, ninguém comprava ! eheheh

    Abração, Gracinha e um Bom feriado.

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    1. É bem verdade, Rui! Há que ter uma certa contenção na verbalização das nossas emoções...

      Beijinhos e Biba o Puorto!!!!

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  5. Não conhecia o poema, gostei.


    Beijinho querida

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    1. É uma engraçada mas séria brincadeira ao futebol....

      Beijinhos, querida Adélia.

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  6. Fado, futebol, touradas ! :((( Nem digo mais nada !
    Gostei da poesia que não conhecia !
    Obrigado Graça

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