segunda-feira, 19 de março de 2018

Hino à ironia ou do jornalismo que temos

Sei bem que alguns dos amigos que aqui passam não gostam muito que comente sobre questões político-partidárias.

Atendendo, porém, a que este é um blog do estilo «web-log», à maneira dos “diários de bordo” e porque a comunicação social hoje acreditada no nosso país teima em mostrar diariamente e minuto a minuto como os portugueses são mal tratados pelas instâncias governamentais – coisa que não acontecia no tempo do governo anterior! – não resisti a transcrever este texto que li hoje na página do facebook do meu amigo Carlos Esperança e que é, de facto, um verdadeiro hino à ironia… 


Saudades do governo de Passos Coelho e Paulo Portas

Naquele tempo, que Cavaco Silva desejou esticar, corriam rios de mel, e só não havia virgens à espera das vítimas porque era outra a devoção em Belém e S. Bento.

As matas eram então incombustíveis, à prova de pirómanos, as urgências dos hospitais aguardavam doentes para quebrarem o tédio aos enfermeiros e médicos, a banca estava capitalizada e sem créditos malparados, o emprego era pleno e os portugueses viviam felizes com a sobretaxa do IRS e divertidos com os orçamentos de Estado à espera dos retificativos.

Os vírus não matavam, o sarampo não era epidémico e a bastonária dos enfermeiros não se oporia à vacina obrigatória aos seus membros, para exercerem a profissão no Estado, se acaso ocorresse ao governo a prudência e o bom senso a ela.

As pessoas podiam andar deprimidas, mas as vacas dos Açores sorriam com a presença do casal presidencial, e as cagarras das ilhas Selvagens acolheram ruidosamente a visita do PR, preocupadas com a ausência da prótese conjugal.

O país vivia feliz, espoliado dos feriados identitários, 1.º de Dezembro e 5 de Outubro, e até o cardeal andava sossegado com o fim dos feriados que a Igreja impôs à República e a intimidade dos cônjuges recasados, sem precisão de apoiar manifestações de colégios privados onde a sua Igreja lucra mais do que com o negócio das almas.

Então, até os carrilhões de Mafra se seguravam às torres de onde ameaçam agora soltar-se, com a força com que o senhor D. João V se agarrava à madre Paula, em Odivelas, e ao ouro do Brasil para enviar ao Papa e obter dele o irónico e caro epíteto, Fidelíssimo.

A imprensa de reverência vivia em harmonia com o poder, designando a incompetência do PM por coragem e por institucional a cumplicidade entusiasta do PR.

Ditosos tempos! Os cravos de Abril tinham sido exonerados das lapelas do PR e do PM e o ordenamento jurídico era uma incómoda referência da Constituição que juraram, a ilustrar o adágio: «quem mais jura, mais mente».





5 comentários:

  1. Gostei de ler, Graça. Aqui em casa comentamos muitas vezes quando ouvimos as noticias. Nesse tempo o país era um mar de rosas. Agora são só espinhos.
    Abraço

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    1. Assim é, Elvira! Enganam-nos e nós até parece que gostamos...
      Enfim...

      Beijinhos.

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  2. Querida Amiga, vejo por aqui muita falta de «sense of humor»...
    O artigo do teu amigo está por de mais interessante e a ironia justíssima!
    O fato é que o escritor da Gradiva e seus parceiros conseguiram instalar na TV uma ditadura de direita que se diverte com o estilo complacente do nosso «Prime»...
    Precisávamos de muitos, 'sem papas na língua', como o teu amigo Carlos Esperança.
    ~~~ Beijinhos irónicos ~~~

    ~Ps~ O FClamote tem um cartoon bem interesante...

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    1. Tens toda a razão, Majo! Esse escritor da Gradiva - bem como o editor da mesma - eu até os estrafogava..... :))

      Vou visitar o Clamote, que bem gosto de o ler.

      Beijinho.

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