Nunca soube descrever a sensação de encantamento que tive, quando visitei o Louvre, ao subir aquela escadaria e dar com aquele espanto que é a estátua alada da Vitória de Samotrácia (à deusa grega Niké, - que, em grego, significa vitória)
Foi do melhor que vi naquele museu.
Encontrei hoje este extraordinário poema de Ana Luísa Amaral em louvor à minha diva - quase tão espantoso como a escultura - que passo a transcrever.
A VITÓRIA DE SAMOTRÁCIA
Se eu deixasse de escrever poemas em
tom condicional, e o tom de conclusão
passasse a solução mais que perfeita,
seria quase igual à Samotrácia.
Cabeça ausente, mas curva bem lançada
do corpo da prosódia em direção ao sul,
mediterrânica, jubilosa, ardente, leopardo
musical e geometria contaminada
por algum navio. A linha de horizonte:
qualquer linha, por onde os astros morressem
e nascessem, outra feita e fio de fino aço,
e outra ainda onde o teu rosto me contemplasse
ao longe, e me sorrisse sem condição que fosse.
Ter várias formas as linhas do amor: não viver
só de mar ou de planície, nem embalada
em fogo. Que diriam então ou que dirias?
O corpo da prosódia transformado em
corpo de verdade, as pregas do poema,
agora pregas de um vestido longo, tapando
levemente o joelho e tornozelo. E não de pedra,
nunca já de pedra. Mas de carne e com
asas —
(Ana Luísa Amaral;«
Vozes», Dom Quixote, 2011)
(fotografia de F. Mendes) |
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